Em entrevista à Rádio Folha na manhã desta quinta-feira (29), o prefeito do Recife João da Costa (PT) falou sobre como anda hoje sua relação com o ex-prefeito João Paulo.
Afirmou que não se considera um traidor, diz que não foi fácil se distanciar do antigo amigo e que a história completa só deve aparecer no futuro.
Leia o que disse ele: “Eu não vou nominar as pessoas (que me chamam de traidor).
Quem tem comentado sabe quem tá falando.
O que saiu como declaração pública é que eu tinha me afastado de um projeto político.
Essa é uma tradição para mim desta expressão.
Se eu abandonei um projeto político, eu tô traindo esse projeto.
Como isso não tá qualificado politicamente, muitas pessoas disseram por que que eu teria abandonado um projeto político, em que termos?
Tenho reafirmado qualitativamente que tudo o que eu assumi de compromisso, falei ontem, reafirmo hoje, nós montamos uma frente de esquerda, a frente do Recife para concorrer as eleições.
Foram 16 partidos.
Até hoje nenhum desses partidos questionou o prefeito ou deixou o governo afirmando que o programa ou o projeto não estava sendo cumprido.
Todos os que compõe o governo, que representam politicamente, como todas as forças do PT,todas, como todos os 16 partidos, ninguém saiu dizendo ‘olha, nós estamos saindo porque o prefeito rompeu com o projeto que foi apresentado nas eleições.
Então eu não me considero, nem vi o PT enquanto partido, colocar que eu como representante do partido no governo, tenha me afastado do projeto político da frente de esquerda.
Não me considero que esteja rompido com o projeto político.
Por isso não aceito nem a colocação de afastamento do projeto, nem que digam que eu seja um traidor desse projeto.
Digo isso não é para assumir carapuça como andaram dizendo por aí. É porque em diversas declarações, não minhas, eu li um artigo num blog desta semana de que têm declarações sobre mim até impublicáveis.
Se declarações impublicáveis estão sendo ditas, imagina dizer que eu sou um traidor.
Eu não estou inventando isso.
Agora era preciso esclarecer a população porque tenho uma trajetória de 30 anos de militância.
Fiz uma opção.
Todo mundo sabe que meu pai era do PFL, que foi prefeito, vereador.
Eu podia ter seguido outro caminho.
Segui o caminho mais difícil na minha vida.
Foi romper com isso, brigar com meu pai, fazer uma opção política.
Meu pai entendeu minha posição política e respeitou.
Eu precisava fazer um esclarecimento para quem estava ouvindo um programa de rádio, que você tem que sintetizar e falar de uma forma diferente.
Dei essa declaração e disse também que minha prioridade não era fazer disso um debate na cidade.
A cidade tem outras prioridades, estou preocupado com outras coisas.
Acho que esta situação está esclarecida e não é desejo meu ficar alimentando isso.
O ex-prefeito João Paulo é uma grande liderança do PT, talvez a maior liderança, com certeza.
Tem sua legitimidade, eu o respeito enquanto a sua trajetória política.
Essa situação que levou a um afastamento e hoje um rompimento eu diria não político, do partido ou de um projeto maior, mas do processo da gestão da prefeitura não é uma coisa fácil para mim.
Não faço política só pelo exercício do poder.
Tenho uma relação afetiva com o que eu faço.
Você chegar ao estágio de se afastar de um amigo de 20 anos não é uma coisa fácil.
Isso não tem sido fácil para mim.
Cheguei a um limite do ponto de vista político e pessoal que eu tinha que tomar uma atitude que eu achava, do meu ponto de vista, correto com a cidade, correto com o projeto que eu assumi e correto comigo mesmo.
Isso não quer dizer que eu tenha que, permanentemente, estar em confronto com o ex-prefeito João Paulo, arrumar uma briga sistematicamente sobre isso.
Acho que isso tá esclarecido.
Não foi fácil do ponto de vista emocional nem político eu assumir essa posição.
Acho que a gente tem que ter responsabilidade com as lideranças e com as pessoas.
Não faço política querendo destruir ninguém, nem é meu desejo secundarizar o papel de ninguém.
João Paulo tem o seu papel na história da cidade do Recife, do Estado de Pernambuco, tem um futuro enorme pela frente.
Desejo que ele possa estar crescendo sempre porque o PT e o povo ainda precisa da liderança dele.
O problema que a gente teve na Prefeitura já está claro o que foi e espero que o tempo possa fazer com que a gente se reaproxime mais para frente”.
Questionado sobre quando o afastamento começou, João da Costa afirmou: “A história as vezes a gente escreve no presente e as vezes no futuro.
Quem sabe no futuro aí, num livro de memórias, vocês saibam aí tudo o que aconteceu.
Acho que isso não é relevante agora”.
TENDÊNCIA “Tomei uma decisão de não, dentro do PT, não me articular mais por dentro do CEU, que é uma articulação que foi criada há uns três anos atrás, sob a liderança do ex-prefeito João Paulo.
Achei que a existência dessa articulação já tinha cumprido seu papel.
Eu não estava me sentindo politicamente confortável nesse ambiente e resolvi sair.
Isso não quer dizer que o CEU esteja desarticulado ou que ele acabou.
Eu tomei uma posição que foi pessoal.
Vou procurar dentro do partido trabalhar pelo diálogo amplo com todo mundo.
E as pessoas que queiram também, ou que concordem com esse caminho, que queira estar neste processo, vão estar junto.
Não necessariamente é uma tendência, porque não vejo esse caminho para o PT.
Eu sou contra tendência.
Acho que isso limita muito a vida dentro do PT.
Termina acontecendo que o que acontece hoje no PT você é rotulado, ou é a favor ou contra. É feito pastoril: ou é vermelho ou é azul.
Acho que a vida tem outras cores”.