Por Jose Roberto de Toledo, do Estadao.com.br Se acreditar nas mais recentes pesquisas Datafolha e Ibope, Ciro Gomes (PSB) deve estar com sérias dúvidas sobre a o futuro de sua pré-candidatura a presidente.

Ambas mostram uma curva descendente de sua intenção de voto, rumo ao quarto lugar na corrida presidencial, atrás de Marina Silva (PV).

Mas não só isso.

Os cruzamentos das pesquisas e outras perguntas dos questionários de ambos os institutos não alimentam as esperanças do pré-candidato do PSB.

Segundo o Ibope, Ciro é, dos quatro presidenciáveis mais bem colocados, aquele com maior rejeição: 48% do eleitorado diz que não votaria nele. É 50% maior do que a rejeição de José Serra (PSDB) e 40% mais alta do que a de Dilma Rousseff (PT).

Com um potencial de voto (eleitores que dizem que votariam ou poderiam votar nele) menor do que sua rejeição, Ciro tem um saldo negativo de 12%.

Só não é pior do que o de Marina, mas a candidata verde é desconhecida por duas vezes mais eleitores do que o socialista.

Isso lhe dá esperanças de aumentar o potencial de voto quando se tornar mais conhecida.

Essa possibilidade é mais remota para Ciro.

O deputado cearense perdeu as principais apostas que fez até agora sobre a sucessão.

Dilma conseguiu se viabilizar como candidata de Lula e do PT ao galvanizar a intenção de voto de petistas e lulistas radicais.

Isso fechou uma das portas de Ciro.

Do outro lado do espectro partidário, Serra lançou-se pré-candidato tucano, contrariando a previsão do socialista, que acreditava que Aécio Neves seria o presidenciável do PSDB.

Nesse cenário, Ciro ficou comprimido entre uma candidatura governista e outra oposicionista, ambas muito fortes, com muito mais tempo de TV do que ele.

Além disso, os adversários exerceram seu poder de pressão sobre os pequenos partidos e candidatos a governador que poderiam dar sustentação institucional ao pré-candidato do PSB, isolando o socialista.

Para completar o martírio de Ciro, a polarização exacerbou o tom das disputas entre petistas e tucanos no Congresso e na internet, deixando pouco espaço para o discurso de certa maneira conciliador do pré-candidato do PSB, que afirma pretender governar com o que há de melhor nos dois partidos.

Sem apoios institucionais que lhe aumentem o tempo de propaganda na TV, com discurso pouco atraente e intenção de voto em queda, Ciro enfrentará, como consequência, maiores dificuldades para convencer potenciais doadores e cabos-eleitorais a embarcarem na sua canoa.

Se Ciro desistisse hoje de disputar a sucessão de Lula, o maior beneficiado seria Serra, que, segundo Ibope e Datafolha, colheria a maior parte dos eleitores do rival: o tucano somaria 4 pontos percentuais a sua intenção de voto.

Dilma ficaria com 2 ou 3 pontos, e Marina herdaria de 1 a 2 pontos.

Evidentemente esses percentuais poderão mudar, dependendo de como for a eventual despedida do cearense.

Por outro lado, Ciro já disse que se não for eleito presidente, abandonará a política partidária.

Dá a entender, assim, que não tem mais nada a perder, porque não alimenta outras ambições eleitorais.

Perdido por 1, perdido por 10: Ciro pode continuar na disputa presidencial como franco atirador.

Certamente renderá boas frases.