Por Alberto Lima, De paris, especial para o Blog de Jamildo Se o homem é realmente um animal político, como pretendeu Aristóteles, João Paulo não alcança estatura maior do que a de um pigmeu.
Nunca um ex-prefeito do Recife, com um ativo popular e eleitoral tão sólido como o que ele dispunha, apequenou tanto a própria figura na definição do futuro.
Da disputa interna pela candidatura ao Senado, João Paulo saiu rente aos rodapés do PT, uma nanocriatura, uma sombra indigente sob as solas dos sapatos de quem não possui os votos e o prestígio que ele tinha.
O gesto vexatório que protagonizou, antes de enxovalhar a sua biografia, aviltou o peso do próprio Recife na balança do poder estadual.
João Paulo foi o primeiro petista a assumir um cargo majoritário de visibilidade em Pernambuco.
Aquela eleição, em 2000, ele ganhou no dia, na raça, na rua, numa onda vermelha que tomou a cidade hora a hora e findou por sagrá-lo prefeito.
Assumiu uma capital cuja máquina estava viciada havia décadas e, ainda assim, conseguiu convertê-la e gerir a cidade de forma primorosa por oito anos.
Seus acertos foram infinitamente superiores aos seus erros.
Sua gestão repensou o Recife, colocou-o para andar, resgatou a auto-estima do seu povo.
Com mais trabalho que marketing, ele deixou o cargo gozando de altos índices de aprovação popular.
E, com seu prestígio, elegeu o sucessor, um técnico sem expressão, que cuidava da principal secretaria da administração, carro-chefe filosófico do partido, a do orçamento participativo.
Mas chegar à PCR foi tão duro a João Paulo quanto deixá-la.
O desembarque do Palácio Capibaribe levou-o a uma perturbação pela perda de falta de comando.
O camarada recusou vida própria a João da Costa, que imaginava títere, e fez-lhe ruir o apoio tão caro.
Apeou da nova gestão os assessores próximos que lá restavam e autorizou seu grupo a desancar o prefeito que fez eleger.
Retirou-lhe o apoio.
Num gesto inusual, politicamente descabido e cercado de vilania e deslealdade, o criador passou a oprimir a criatura, lançando-a desamparada à fuzilaria pública.
Eduardo Campos é um tubarão.
Sentiu que ali havia cheiro de sangue de gente miúda e atacou João Paulo no ponto fraco.
Ofereceu a ele uma fajuta Secretaria de Articulação Regional, que o petista assumiu salivando.
Quando um sujeito que foi o primeiro prefeito reeleito do Recife, aceitou, no auge da sua popularidade, uma cadeira improvisada de secretário estadual, concordou, por tabela, em amiudar-se diante da figura do governador.
Já pairando sobre a desarticulada oposição, Eduardo subjugou os aliados, ante a genuflexão do maior expoente dentre eles.
Quatro meses depois, João Paulo deixou o cargo menor do que o assento que ocupava.
Cabia num tamborete.
Estava esmagado, havia implodido as pontes que o ligavam ao aliado que fez prefeito e não tinha mais qualquer poder de atração a novos simpatizantes.
Era alguém tornado nulo pelos próprios atos.
A consequência lógica foi o acordo por cima entre Humberto Costa e Eduardo Campos, ungido por José Eduardo Dutra, que a João Paulo limou e silvou pra longe da vaga ao Senado.
Humberto, que para Sete Quedas está apenas a duas (já foi derrotado em cinco majoritárias), conseguiu o espaço que queria.
Dutra agradou ao amigo de longas datas, e, de quebra, ao companheiro presidente nacional do PSB, Eduardo, o maior vencedor da história.
Publicamente, o governador comemorou com um tímido “fiquei satisfeito”.
Vê-se nele uma imensa alegria contida por ter sido validada a sua preferência por Humberto.
O ato dizimou o resto do poder que João Paulo ainda detinha, especialmente no Recife.
Eduardo coroou-se, assim, liderança única, engolindo o PT e recebendo, de bandeja, um patrimônio eleitoral arduamente conquistado pelo partido no Recife, que não é muito simpático ao governador, como nunca foi ao seu avô.
João Paulo, na sua imensa pequenez, demoliu seu passado, seu presente e seu futuro.
Ananicou-se ao não dar dimensão e valor ao capital político que o eleitorado recifense o emprestou.
E, entregando a vaga ao Senado a outro, rifou a própria cidade ao transformar em papel podre o mandato que ela lhe transferiu em apoio e aprovação.
Como num versículo do Gênesis, é cabível dizer sobre a trajetória política de João Paulo que ele do pó veio e ao pó voltará.
PS: Alberto Lima é jornalista, advogado e mestre em Línguas, Literatura e Civilizações Estrangeiras pela Sorbonne.
PS do Blog de Jamildo.
No Recife, não falta quem ache que faltou um pouco de coragem a João Paulo.
Ele poderia ter tido coragem de romper com o partido e lançar-se nas disputas com o apoio de Jarbas.
Por este raciocínio, o PT de Humberto nunca lhe dará legenda.
O PSB de Eduardo Campos teme sua sombra.
Assim, em certo sentido, João Paulo sofre hoje o mesmo sufocamento que Jarbas sofreu com Arraes no passado.
Teve que sair do partido para escrever sua própria história.