Por Dr Stuart Hart Injetar recursos na economia é parte da reação natural dos governos em tempos difíceis.
No entanto, os pacotes de salvamento e de estímulo são, muitas vezes, inúteis para recolocar o mundo nos trilhos.
A verdade é que não funcionam.
O modelo de crescimento que nós criamos nos últimos 50 anos se tornou economicamente e ambientalmente insustentável.
De fato, estamos testemunhando a morte de um modelo de consumo, no qual os ricos se utilizam do crédito para comprar mais bens, para que os chineses possam construir mais fábricas movidas a carvão e produzir mais.
Esse modelo implodiu.
Em vista dessa realidade, o mundo (e o capitalismo global) agora encontra-se em uma encruzilhada.
Em muitos aspectos, a crise financeira é um sinal de alerta para a reformulação das instituições e corporações mundiais no século XXI.
Eu acredito que o que estamos experimentando agora é uma transformação no sentido de uma forma de capitalismo mais sustentável—e, em última instância, um mundo mais sustentável.
O significado dessa transformação é maior do que se pode imaginar; as empresas e demais instituições que estiverem mal preparadas para essa mudança, simplesmente não sobreviverão.
Apesar dessa transformação ter tido início nos anos 90 com a revolução da “eco-eficiência”(quando, pela primeira vez, ficou claro que ao se reduzir o desperdício, as emissões e a poluição, era possível de fato economizar recursos e dirimir riscos), é chegado o tempo da inovação em uma escala nunca antes vista.
Na última década, dois acontecimentos comerciais instigantes explodiram no cenário global.
Um deles gira em torno da comercialização de novas tecnologias verdes; o outro está ligado à inclusão e melhoria da oferta de serviços aos pobres na base da pirâmide da renda (BoP).
Ambos eventos provocam entusiasmo, mas o problema é que eles se desenvolveram como comunidades separadas.
Os especialistas em tecnologias verdes dizem, “Apenas nos disponibilize o capital de risco e agente criará a tecnologia limpa do futuro”, como se ela, a partir daí, aparecesse magicamente em nossas vidas.
Os proponentes da abordagem da base da pirâmide buscam tratar a pobreza e a desigualdade nos países em desenvolvimento por um caminho novo.
Eles dizem, “Vamos criar modelos de negócios inovadores, ampliar a distribuição e mergulhar nas comunidades para construir negócios viáveis a partir da base.” Mas esses defensores dos negócios “pró-pobres”, muitas vezes, perdem a noção do ambiente, como se toda essa nova atividade econômica fosse, automaticamente, criar uma forma de desenvolvimento sustentável na base da pirâmide.
Infelizmente, essa forma de pensar poderia nos levar à beira do abismo, caso agente acabe tendo 6,7 bilhões de pessoas (em breve 9 bilhões) consumindo como os americanos.
O desafio da nossa era, portanto, é descobrir como juntar esses dois mundos para possibilitar um “Salto Verde” global.
De fato, as tecnologias limpas nascentes, tais como geração de energia renovável, bio-combustíveis, purificação de água no ponto-de-uso, bio-materiais, tecnologia da informação sem fio e agricultura sustentável representam a chave para a solução de muitos dos problemas ambientais e dos desafios sociais do mundo.
E, pelo fato de que essas tecnologias verdes de pequena escala possuem, muitas vezes, um caráter desestabilizador, a base da pirâmide é o lugar ideal para se focar a energia inicial de comercialização.
As 20.000 cidades chinesas, as 600.000 vilas rurais da Índia e as efervescentes favelas do Brasil representam essas oportunidades.
Uma vez estabelecidas, essas tecnologias podem seguir para os mercados tradicionais no topo da pirâmide – mas apenas após terem sido testadas e se tornarem confiáveis, acessíveis e competitivas em relação à infra-estrutura vigente.
Na minha opinião, o Salto Verde é um ponto crítico para alavancar a transformação da economia global rumo à sustentabilidade; se estiver certo, esse movimento traz implicações relevantes em termos de políticas.
Ao invés de mover os vagões e buscar construir uma Fortaleza Verde Americana (Européia ou Japonesa), a melhor coisa que poderíamos fazer é pegar os nossos melhores tecnólogos e empresários (dos EUA e dos outros mercados desenvolvidos) e levá-los para as vilas rurais e as favelas urbanas onde hoje vivem mais de 4 bilhões de pessoas. É aqui que o Salto Verde vai acontecer.
E é aqui que as empresas do século XXI vão nascer.
PS: Dr Stuart Hart, S.
C.
Johnson Chair in Sustainable Global Enterprise, Cornell University, Johnson School of Management Pal