Do Jornal do Commercio Maior empresa do Nordeste e alvo de um processo de esvaziamento político e operacional movido pela Eletrobras, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) lidera um dos consórcios que disputarão o leilão de Belo Monte - se é que o leilão, de fato, aconteça.

Dias antes de finalizar o processo de habilitação das empresas interessadas, o governo foi informado que Odebrecht e Camargo Corrêa haviam desistido do negócio.

Alegaram que o projeto não era economicamente viável.

A Eletrobras, então, se apressou em aumentar a participação das suas estatais – a Chesf inclusive – na obra.

A ordem era salvar o leilão já que o próprio presidente Lula afirmara que faria a obra de todo jeito.

Inicialmente, a Chesf teria uma participação de 20% no seu grupo.

Na semana passada, a estatal regional passou a ser a líder no Consórcio Norte Energia com 49,8%. “Tudo indica que as unidades da Chesf não tiveram tempo disponível – que seria de quatro a seis meses – para fazer estudos criteriosos sobre o empreendimento”, diz o diretor do Instituto Ilumina Nordeste (ONG que faz análises sobre o setor elétrico brasileiro), João Paulo Aguiar.

Antes de saber da decisão judicial, o presidente Chesf, Dilton da Conti, afirmou ontem que vai disputar para ganhar o leilão de Belo Monte. “Não vou comentar qualquer informação sobre esse assunto. É um empreendimento estratégico”, diz.

A hidrelétrica de Belo Monte é considerada cara e ineficiente.

Por causa da baixa vazão do Rio Xingu na maior parte do ano, a usina produzirá, em média, 40% da sua capacidade instalada, um dos mais baixos índices de produtividade do setor elétrico.

As hidrelétricas menos eficentes registram índices de, no mínimo, 55%.

A obra também é polêmica por vários motivos.

Está prevista a inundação de uma área correspondente a um terço da cidade de São Paulo.

Muitos ambientalistas falam também que haverá prejuízo à biodiversidade do local.

Comunidades indígenas também serão afetadas.

Até o cineasta James Cameron, de Avatar e Titanic, já liderou protestos contra a hidrelétrica.

A lógica do leilão é inversa à de uma concorrência comum.

Ganha a parada o grupo que se comprometer a cobrar menos pela energia produzida pela usina.

Por força de edital, o governo não aceita pagar mais que R$ 83 pelo megawatt-hora.

Segundo técnicos do setor elétrico, como o consórcio vitorioso não terá como produzir a energia total por causa da vazão do rio, o governo terá de recorrer às termelétricas, que vendem uma energia até cinco vezes mais cara.

O consumidor, então, pagará a conta.