Vera Rosa de Brasília - O Estado de S.Paulo Novata nos palanques, Dilma Rousseff faz curso intensivo para sobreviver à campanha eleitoral.

Além das aulas semanais de mídia training, nas quais aprende a enfrentar o batalhão de jornalistas e a virar “Dilminha paz e amor”, ela agora solta a voz dentro do jatinho alugado pelo PT para suas viagens.

Para treinar a impostação acima das nuvens, a candidata do PT à Presidência recorre a um sucesso de Nando Reis, entoado por Cassia Eller. “Mas esse cara tem a língua solta/a minha carta ele musicou/tava em casa a vitamina pronta/ouvi no rádio a minha carta de amooooor”, ela cantarolou, numa viagem recente.

O exercício de fonoaudiologia foi receitado para “encaixar” a voz e criar “escalas” de entonação.

Disciplinada, a ex-ministra da Casa Civil segue à risca os conselhos de Olga Curado, jornalista e consultora em comunicação social, contratada pelo marqueteiro João Santana.

Adepta de práticas pouco ortodoxas para preparar seus clientes, como a arte marcial japonesa, Olga já treinou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha à reeleição, em 2006.

A técnica, elogiada por Lula, usa a energia vital para reduzir conflitos e driblar as adversidades.

Dilma é orientada a “desinibir” os movimentos, mas ainda recebe críticas.

Há nove dias, ao ver a ex-ministra discursar em São Bernardo do Campo (SP) no ato político programado pelo PT para fazer “contraponto” ao lançamento da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência, um dirigente petista mandou torpedo para o celular de um colega: “Pilates já para ela!” Dilma já praticou pilates, método indicado para corrigir a postura corporal, mas atualmente prefere caminhar.

A recomendação, agora, é para que retome as sessões de fisioterapia.

O comando da campanha tem feito vários tipos de pesquisas semanais para medir a reação a Dilma, agora sem a companhia de Lula.

São trackings, sondagens quantitativas e qualitativas, que avaliam a impressão dos eleitores divididos por critérios como classe social, gênero e renda.

Fim do “santinho”.

Aconselhada a dar respostas mais curtas e a evitar o tom técnico e acadêmico, Dilma também se reuniu com um punhado de prefeitos do PT que tiveram experiência semelhante à dela e entraram pela primeira vez na corrida eleitoral.

Os “cristãos novos” na política que se tornaram chefes do Executivo contaram à candidata do PT que o aprendizado com marqueteiro, fonoaudiólogo, consultor de imagem e outros tantos conselheiros é duro, mas funciona.

Até mesmo as cores e os trajes que Dilma usa em público são escolhidos por essa equipe. “Essa campanha vai ser uma guerra”, previu ela, em conversa com um amigo. “Vou apanhar pelo que disse e por aquilo que eu não disse.” Com quase dois anos de aulas, a aluna Dilma já começa a excluir expressões como “minha filha” e “santinho” de seu vocabulário.

Mas ainda peca por confundir nomes e, pior, os dos aliados.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, virou Paulo Haddad, e o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) se transformou em Eunice.

Para espantar os males ela canta.

Mesmo em treinamento de guerra.