O que será?
Por Mino Carta, na Carta Capital Proponho um teste: quem pronunciou a seguinte sentença? “Não se deve pensar no Estado da inércia, da improdutividade.
O Estado deve ser forte, não obeso.
Forte em seu papel de cumprir as funções básicas e ativar o desenvolvimento, a justiça social e o bem-estar da população.” Respostas: a) Karl Marx; b) Antonio Gramsci; c) José Serra; d) Lenin; e) Dilma Rousseff.
Não obrigo os leitores a procurar na última página desta edição a resposta correta, colocada de cabeça para baixo.
Digo logo: resposta C.
A apreciação do pré-candidato tucano à Presidência da República consta da entrevista que ele deu à Folha de S.Paulo, publicada no domingo 11.
Excluído do teste, obviamente, o público do jornal.
Talvez haja quem se surpreenda com uma declaração que coincide, ao menos na essência, com algumas anteriores feitas pela pré-candidata Dilma Rousseff.
Os meus afáveis botões murmuram em surdina que a mim não cabe surpresa.
Com sua definição a favor do Estado ativo (o adjetivo é dele), Serra foi certamente sincero.
Outra situação que não justifica espantos é o entusiasmo da mídia nativa com o lançamento da candidatura do ex-governador, sábado 10.
De volta aos botões, eles sentenciam: é a beatificação em vida.
Foi de fato uma apoteose, com o condimento das lágrimas de Fernando Henrique e da súbita empolgação de Aécio Neves.
Sobram aspectos da cobertura midiática de compreensão intrincada, se não francamente impossível.
Se Dilma fala em Estado forte, o pânico coa das páginas e do vídeo.
Em compensação, a Serra tudo se permite.
Será que editorialistas, colunistas, articulistas, repórteres não levam Serra a sério quando usa argumentos banidos do catecismo dos herdeiros do udenismo velho de guerra?
E apostam então na ação concentrada do tucanato para conter os arroubos de um ex-cepalino ainda sob contágio?
Talvez.
Coisa certa: a mídia nativa está contra Lula, desde sempre, e contra sua candidata.
Portanto, a favor de Serra.
Favor?
Algo mais do que isto, como se no firmamento as estrelas tremelicassem em desespero.
A campanha que esboça é, porém, antiga, anacrônica, mofada igual às roupas da bisavó nos baús do sótão.
O propósito continua a ser a semeadura do medo.
Funcionou contra Getúlio em 1950, contra JK, contra Lott, contra Jango.
No golpe de 64.
E contra as Diretas Já e contra Lula em 1989, aquele momento em que o presidente da Fiesp, Mario Amato, vaticinou o êxodo da burguesia caso vencesse o fundador do PT.
Com a candidatura de Fernando Henrique, tudo ficou fácil, os graúdos e sua mídia enamoraram-se dele.
A vitória do ex-metalúrgico muda o quadro em 2002 e 2006.
Fica provado que o jornalismo pátrio com suas aulas de pavor não chega lá.
Chegaria agora?
Lula não cativou apenas seu povo, que de resto é maioria.
Cativou também largos setores do empresariado nacional que a mídia insiste em pretender assustar quando denuncia o ódio, pretensamente estimulado pelos governistas em um confronto entre ricos e pobres e entre Sul e Norte.
Os editoriais dos jornalões clamam contra a ideia do plebiscito, como se toda eleição não implicasse o confronto entre as realidades do passado e as promessas do futuro, e como se os índices de rejeição de FHC não alcançassem a abóbada celeste.
Sim, Dilma é a candidata de Lula.
Serra, entretanto, é a figura política que cresceu à sombra de Fernando Henrique, o amigo inseparável sob a batuta de Sergio Motta, o parceiro cativo.
Como escapar a esta circunstância?
Houve tentativas de tirar o ex-presidente da ribalta.
Em vão.
Ali está ele, a reivindicar seu lugar na história e o próprio Serra não consegue fugir à injunção de recomendá-lo aos pósteros e de lhe provocar a comoção.
A mídia malha Lula sem perceber que, desta maneira, endossa o conceito do pleito plebiscitário.
Mostra, antes de mais nada, é seu medo, em face de uma candidata que absorve o prestígio de quem a ungiu.
Um ponto permanece obscuro: resta saber se a mídia nativa, desta vez e finalmente, dirá quem apoia, em lugar de alegar uma imparcialidade fajuta.
A bem da verdade factual.