No Caderno de Cidades do JC de hoje A modalidade de assalto conhecida como “saidinha de banco” terminou em tragédia na tarde de ontem, no Centro do Recife.
O funcionário de um cartório que havia sacado dinheiro em uma agência bancária minutos antes, foi abordado por volta das 15h45, na Rua Princesa Isabel por dois homens em uma moto.
Um policial militar que passava pelo local tentou impedir o assalto e trocou tiros com os ladrões.
Os disparos causaram pânico nos transeuntes.
Antônio Carlos Mota, 50 anos, Presidente da Escola de Samba Unidos de São Carlos, do Grupo Especial do Carnaval do Recife, caminhava pela calçada no momento da confusão.
O sambista ainda tentou correr, mas foi atingido por um disparo no peito e teve morte imediata.
Os bandidos conseguiram fugir levando R$ 35 mil.
Tudo isso aconteceu a uma quadra da sede da Polícia Civil de Pernambuco. “Eu estava saindo do (Parque) 13 de Maio, quando vi dois homens roubando um motoqueiro.
Outro cara de moto apareceu e começaram a trocar tiros.
Fiquei desesperada, corri, caí no chão e quando me levantei já tinha um senhor baleado”, recordou a comerciante Zenaide da Silva. “A gente tinha ido na prefeitura receber o dinheiro da subvenção do Carnaval.
Estávamos voltando para casa, quando ouvimos os tiros.
Deitei no chão e tentei me proteger.
Assim que pararam de atirar, vi Toinho caído”, relatou o funcionário público João Oséas Gonçalves de Melo, que estava ao lado de Antônio Carlos na hora do tiroteio. “Ainda não consigo acreditar que isso está acontecendo.
Em um minuto a gente estava conversando, indo pra casa.
No outro, vejo meu amigo morto na minha frente”, lamentou Fábio Renato da Silva, amigo do sambista.
Segundo o perito criminal José Hamílton, o sambista foi atingido por um disparo no tórax. “A bala acertou a vítima na altura do coração”, ressaltou o perito. “Esse homem tinha um trabalho social de anos e anos na comunidade e é morto dessa maneira, no meio da rua, em plena luz do dia”, protestou o cantor Valter de Afogados, cunhado de Antônio Carlos Mota.
A vítima do assalto e o policial militar que tentou evitar o roubo prestaram depoimento ainda na noite de ontem, no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Sandro Félix de Santana disse que havia sacado o dinheiro no Bradesco do Derby e voltava para o Cartório Paulo Guerra, no bairro de Santo Antônio.
Ainda na Rua do Príncipe, o motoqueiro percebeu a aproximação dos ladrões.
Sandro acelerou e passou a buzinar e gritar que estava sendo perseguido. “O soldado Dutra estava se dirigindo ao batalhão quando viu o motoqueiro pedindo ajuda.
Ao chegar nas proximidades do Parque 13 de Maio, o soldado viu um dos homens apontando a arma para o motoqueiro e pegando um envelope.
Ele deu voz de prisão, mas o ladrão reagiu e houve uma troca de tiros”, detalhou o major Ivson Amílcar subcomandante da Companhia Independente de Operações com Motos, onde está lotado o soldado Dutra.
Noite de tristeza em Afogados O bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife, passou o final da tarde e a noite de ontem chorando a morte de Antônio Carlos.
Tanto na Rua Doutor Adelino, onde está localizada a Escola de Samba Unidos de São Carlos, da qual ele era presidente há 27 anos, quanto na Rua Ursulino Pinto de Carvalho, onde morava, amigos e familiares estavam consternados.
Silêncio e choros contidos deram o tom. “Todos em Afogados conheciam e gostavam de Carlinhos.
Era uma pessoa alegre, que brigava pelo bem da comunidade e animava nosso Carnaval.
Todos estamos de luto”, disse um amigo, sem se identificar.
Na frente da sede da escola, amigos procuravam mais informações sobre a tragédia. “Nunca vi um bandido morrer de bala perdida.
Só acontece com pai de família e trabalhador”, completou uma senhora.
Vários amigos e parentes se reuniram, ontem à noite, na casa onde Antônio Carlos morava com a esposa e alguns filhos para dar força à família.
A filha mais velha do sambista, Jeane Alves Costa, 28, disse que estava em casa quando recebeu a notícia. “Um tio me avisou que ele tinha sido atingido ao lado do (Parque) 13 de Maio por uma bala perdida.
Quando cheguei, já estava morto”, contou.
Cristiane Germana da Silva, casada com Antônio Carlos há 17 anos, encontrava-se perto de casa quando recebeu a notícia. “Me disseram que tinha sido baleado.
Pedi a verdade e recebi a notícia da morte”, afirmou.
A família ainda não sabe onde acontecerá o velório.
O local mais provável é o Atlético Clube de Amadores, na Estrada dos Remédios.
O enterro também não foi definido.
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