CIRO, O ZUMBI Por Reinaldo Azevedo, em seu blog Eu não tenho nenhuma simpatia por Ciro Gomes.
Zero!
Acho que ele fala demais, cai freqüentemente na bravata, é de uma espantosa arrogância, confunde falta de educação com autenticidade… E vai por aí.
Mas há um monte de gente que gosta.
Tudo bem pensado, o cenário eleitoral de agora até poderia ser favorável a alguém como ele: afinal, passou pelo tucanato, aproximou-se do petismo, não é uma coisa nem outra, tem fama de moralizador (refiro-me à fama), fala com destreza — o que também não deve ser confundido com clareza, mas pouco importa.
Em suma, Ciro tem, ou tinha, um patrimônio eleitoral respeitável.
E o que o levou a se tornar quase um zumbi da política hoje, uma espécie de morto-vivo?
A aproximação com Lula e com o PT.
Não ter entendido a natureza do presidente e do seu partido foi seu erro fatal.
Jamais seria, como escrevi aqui tantas vezes, um deles.
Os petistas não abririam espaço para um sapo de fora que tem características personalistas e que não está imbuído dos mesmos “objetivos estratégicos” do partido.
Quais “objetivos estratégicos”?
Construir o próprio partido!
E instalar no poder a nova classe social que o define, a burocracia sindical que compõe a “burguesia do capital alheio”, como chamo.
Sua “amizade” com Lula jamais mudaria a sua própria natureza e a natureza do PT.
Quem quiser se relacionar com a legenda e com o seu chefe máximo sem ser destruído tem de fazê-lo liderando um arsenal de destruição em massa, a exemplo do PMDB.
Aí, sim.
O partido, observem, ganhou todas as paradas contra o lulo-petismo.
A última foi tirar Henrique Meirelles do jogo.
Se os peemedebistas quiserem, Michel Temer será mesmo o candidato a vice de Dilma Rousseff.
O PMDB tem como chantagear o governo e o PT.
Essa é a única linguagem que os petistas compreendem.
A alternativa é ser um mero subordinado.
Ciro diz que o conúbio entre peemedebistas e petistas é um “roçado de escândalos”. É, sim!
Mas quem disse que escândalos constragem uns e outros?
Ciro não tinha instrumentos para impor a sua vontade.
E também não queria ser mero subordinado — ou cansou de sê-lo.
Acreditava que seu bom comportamento poderia fazer com que Lula o escolhesse para a batalha contra José Serra.
Nem pensar!
O que o levou a tal engano?
São vários fatores combinados.
O excesso de amor próprio certamente contou muito.
Mas também o ódio que devota aos políticos paulistas, a José Serra e FHC em particular, e àquela que considera a “elite” que prejudica o país.
E foi justamente para esse colégio eleitoral que Lula o obrigou a transferir seu domicílio eleitoral.
Ciro topou e acreditou que poderia negociar numa posição de força.
Ora, como poderia ser forte quem havia acabado de se dobrar diante de Lula?
E acabou se transformando nisto que estamos vendo: um político que viu seu patrimônio eleitoral ser corroído pelo… petismo!
Quem o transformou num político sem lugar na política foram os petistas, não os tucanos de São Paulo que ele passou a odiar com dedicada devoção.