Por Cristian Klein do JBOnline Quatro são os grandes atores do cenário político brasileiro hoje: o presidente Lula, a ex-ministra Dilma Rousseff e os ex-governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).

Os dois primeiros e os dois últimos têm afinidades, semelhanças e diferenças que vão além do fato de serem adversários das facções opostas do PT e do PSDB.

Coincidência ou não, Lula e sua apadrinhada Dilma construíram perfis de carreira política atípicos para um profissional do ramo.

Lula chegou lá tendo ocupado apenas um cargo eletivo, o de deputado federal - função que exerceu, sem esconder, a contragosto, talvez por achar que desperdiçava seu potencial de liderança entre tantos outros pares, 300 dos quais chegou um dia a chamar de picaretas.

Dilma até nisso seguiu os passos do seu fiador.

De forma ainda mais radical.

Pode tornar-se presidente da República sem nunca ter se candidatado a qualquer outro cargo. É algo muito raro no mundo da política.

Plausível imaginar que tais trajetórias sejam mais comuns à esquerda do que à direita.

Mesmo e talvez justamente por não ocupar funções públicas, Lula ergueu seu cacife à frente de movimentos sociais populares.

Tinha um forte discurso antissistema, característico de líderes que criticam a política profissional, o carreirismo e consideram o Parlamento uma casa onde reinaria o palavrório, o blablablá infrutífero, que só adia as mudanças. É uma versão light, que se enquadrou no respeito às instituições da democracia liberal, mas que guarda semelhança com o venezuelano Hugo Chávez, um ex-militar, que subiu ao poder com um pesado discurso anti-institucional.

E também do boliviano Evo Morales, que surgiu como líder dos cocaleiros e rapidamente tornou-se presidente, sem galgar os degraus tradicionais criados pela política profissional.

Não é à toa que os três presidentes têm simpatia um pelo outro.

Suas biografias são parecidas.

Talvez pela mesma razão Lula tenha ungido Dilma para trilhar o caminho de sua sucessão.

Antes de exercer os cargos de ministra das Minas e Energia e da Casa Civil, os cargos públicos mais relevantes de Dilma foram de secretária municipal da Fazenda de Porto Alegre e secretária estadual de Minas e Energia do Rio Grande do Sul.

Nunca pediu voto.

Por vias diferentes, há uma identidade entre os dois na desconsideração pelo profissionalismo.

Lula porque é um autêntico animal político.

O “filho do Brasil” não se vê ligado a um cargo limitado ou região específica.

E Dilma porque cresceu no insulamento e é mais afeita ao discurso técnico, gerencial, burocrático.

A legitimidade de Lula está ancorada numa espécie de poder messiânico; a de Dilma no poder do conhecimento.

Já o universo da política profissional é feito de barganhas e convencimento.

O perfil de carreira do presidente e da ex-ministra é bem distinto do que desenharam ao longo de suas trajetórias os grãos-tucanos.

José Serra foi secretário estadual de Planejamento; deputado federal (dois mandatos); senador; ministro do Planejamento e da Saúde; prefeito e governador de São Paulo.

Há uma linha de ascensão nos cargos que ocupou.

O mesmo ocorre com Aécio Neves: deputado federal por três mandatos e governador de Minas por dois, agora tentará, provavelmente, o Senado, caso não se junte à chapa de Serra como vice.

Curiosamente, outro tucano de bico comprido, Geraldo Alckmin, galgou uma das trajetórias mais sugestivas do que seria a escada política brasileira.

Ou seja, subiu os degraus de uma suposta hierarquia, passando seguidamente a cargos mais valorizados.

Foi vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, vice-governador, governador, até se candidatar a presidente e perder para Lula, em 2006.

Conquistou ou tentou conquistar uma sequência progressiva de cargos eletivos, faltando apenas o de senador.

O que isso tudo quer dizer?

Mostra que os padrões de carreira no Brasil são variados, mais do que em outros países (por exemplo, Estados Unidos e Canadá).

E que muitos caminhos podem levar ao Planalto.