Leonencio Nossa - O Estado de S.Paulo Vinte anos depois de deixar o Planalto e nove meses após protagonizar um escândalo de corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e nepotismo, o senador José Sarney (PMDB-AP) terá direito de voltar, na próxima semana, a ocupar a cadeira de presidente da República.

Ele poderá assumir a interinidade, se quiser, no próximo domingo, com o início de uma viagem de três dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Washington, onde participará da Cúpula de Segurança Nuclear.

Os primeiros na linha sucessória, o vice José Alencar, e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), avisaram que vão disputar as eleições de outubro e, portanto, não podem ocupar interinamente a Presidência.

Alencar, que pretende concorrer ao Senado por Minas Gerais, marcou uma viagem oficial a Montevidéu, onde se encontrará com o presidente José Mujica.

Temer, cotado para ser o vice na chapa da petista Dilma Rousseff, ainda não definiu para onde irá durante a viagem de Lula.

Sarney poderá assumir pela segunda vez a Presidência da República.

Em 15 de março de 1985, na condição de vice-presidente, ele assumiu o governo por motivo de doença do presidente eleito indiretamente pelo Congresso Tancredo Neves.

Com a morte de Tancredo, em 21 de abril daquele ano, e um acordo no parlamento, Sarney ficou cinco anos no Planalto.

Sarney gosta de dizer que entrou para a história como o presidente que, após uma ditadura de 21 anos, consolidou o processo democrático e afastou as pretensões dos militares de retomada do poder.

Nos verbetes, Sarney costuma ser lembrado por problemas econômicos e políticos, como os planos econômicos fracassados, a hiperinflação, a moratória da dívida externa, o aumento do custo de vida.

Pelas previsões de viagens internacionais de Lula, Sarney poderá assumir até o final de julho num total de 27 dias interinamente.

Assessores do governo dizem que a volta à Presidência é um prêmio para o senador que queria encerrar a carreira política sem a marca dos escândalos dos atos secretos, revelados pelo Estado.

Reportagens mostraram que, no comando do Senado, Sarney chegou a nomear até o namorado de uma neta.