Por Luciano Siqueira Provavelmente desde 1982, com o restabelecimento das diretas para governador, nunca se protelou tanto a definição das chapas majoritárias como este ano.

Há uma explicação óbvia: a Frente Popular, liderada pelo governador Eduardo Campos, numa situação inicialmente favorável, aguarda a escalação do time adversário para melhor escolher a própria composição.

Mas isso não diz tudo.

Na verdade, há dificuldades em ambos os lados.

Na oposição, mais evidentes.

Presos a uma espécie de única ficha – a opção pelo senador Jarbas Vasconcelos -, os partidos oposicionistas repetem patéticos apelos públicos para que o peemedebista tope a parada.

O que normalmente se discute entre as partes interessadas, a base de argumentos lógicos e conviventes, se transporta às páginas dos jornais tomadas como meio de pressão.

Além disso, permanece a dúvida sobre se os dois senadores que encerram o mandato tentarão, ou não, a renovação – a depender de quem venha a ser o cabeça de chapa.

Para completar, o PSDB, aparentemente mais estruturado, é constrangido a anunciar medidas punitivas aos muitos dissidentes que optam por apoiar o governador Eduardo Campos.

Sob todos os títulos uma situação vexaminosa.

A Frente Popular, por seu turno, jogando “a favor do vento”, como se diz em peladas de várzea, certamente não pode se deixar levar pela soberba e cometer erros.

Nada autoriza a avaliação de que a eleição será um passeio.

Primeiro, porque por mais fragilizada que esteja, a oposição não morreu.

Segundo, porque toda campanha traz em seu bojo fatores de risco – o que as tornam empolgantes e em certa medida imprevisíveis, a depender em boa parte do comportamento tático das forças litigantes.

Terceiro, porque a tradição político-eleitoral de Pernambuco é de campanhas radicalizadas, o que deve acontecer novamente.

Em outras palavras, cabe à Frente Popular trabalhar, como vem trabalhando, com cautela e equilíbrio a composição da chapa majoritária.

Em certo sentido, nada está definido e urge evitar que dificuldades internas deste ou daquele partido venham a chamuscar a unidade e a coesão da coalizão governista.

Partícipe ativo do processo político e parte interessada nele, este que lhes escreve não deve opinar sobre o que acontece nas hostes adversárias.

Entretanto, raciocinando como quem tenta sempre contribuir para que a luta se dê em torno do debate de idéias (e não da troca de desaforos), não há por que esconder o desejo de que o senador Jarbas Vasconcelos venha, enfim, a assumir sua candidatura a governador.

Mas o senador não tem exatamente a tradição de disputar eleições apoiado em atitudes educadas – poderia argumentar o leitor, com boa dose de razão.

Pode ser.

Porém a sua presença no pleito teria um simbolismo muito forte – e a opinião pública se guia por símbolos -, na medida em que tornaria os campos mais nítidos.

Ajudaria o eleitor a se definir com mais clareza por um dos dois projetos diametralmente opostos em disputa: a continuidade da obra realizada por Eduardo Campos, em sintonia com o novo projeto nacional de desenvolvimento versus o retrocesso à aventura neoliberal.

Luciano Siqueira www.lucianosiqueira.com.br