Terminou em Brasília a 1ª Conferencia Nacional de Educação.

Lula deu as caras.

E levou os lábios ao microfone.

A certa altura, elogiou a capacidade de mobilização dos professores.

Enalteceu algumas modalidades de pressão.

Entre elas “as greves”.

Na definição de Lula, as paralisações ajudam o Estado a avançar.

Acrescentou: “Governo bom não é aquele que governa dissociado do povo”.

As referências de Lula às greves e aos governantes que se dissociam do povo soaram como frases meticulosamente calculadas.

Foram lançadas na atmosfera num instante em que a gestão tucana de José Serra mede forças, em São Paulo, com o sindicalismo do setor educacional.

Em 8 de fevereiro, uma associação que diz representar os professores, a Apeoesp, declarou-se em greve.

Pede coisas razoáveis e absurdas.

No rol dos pedidos razoáveis incluiu-se o reajuste de salário.

Há quem enxergue exagero no percentual: 34%.

Mas pouca gente se anima a desqualificar a pauta.

A lista de reivindicações absurdas inclui a extinção de um sistema que injetou a meritocracia na carreira dos professores.

Estipula metas.

E prevê a concessão de aumentos salariais aos professores que lograrem atingi-las.

Só o apreço à vagabundagem justifica a oposição à idéia.

Mas a pauta de reivindicações não é o que mais chama a atenção.

O que salta aos olhos é o formato eleitoral do embrulho.

O sindicalismo escolar foi à jugular de Serra justamente na hora em que a disputa presidencial ganha contornos mais aguçados.

A Apeoesp é filiada à CUT.

Preside a associação Izabel Azevedo Noronha, a Bebel. É filiada ao PT.

Até aí, nada demais.

O diabo é que Bebel, petista de mostruário, usa assembléias e manifestações supostamente corporativas para fazer campanha anti-Serra.

Fala coisas assim: “Nós estamos aqui para quebrar a espinha dorsal desse partido e desse governador”.

Ou assim: “Não será, Serra!

Você não será presidente da República.

Isso está escrito nas estrelas”.

Quem ouve Bebel se sente tentado a perguntar: Ué, mas os professores não queriam aumento salarial?

Ao defender as greves em timbre genérico, sem os necessários contrapontos, Lula como que se associa à anarquia.

No discurso dirigido aos participantes conferência de educação, Lula declarou que, nas últimas três décadas, a profissão de professor foi “judiada e sucateada”.

Certo, muito certo, certíssimo.

Tão correto quanto a evidência de que não será por meio da partidarização da engrenagem sindical que se obterá uma reversão do quadro.

Nas entrelinhas do pronunciamento de Brasília, Lula enviou a São Paulo uma mensagem.

Foi como se tivesse dito: Vá em frente, companheira Bebel.

Dobre a espinha do Serra. Às favas com a Educação!