Editorial do JC A história do Nordeste como conhecemos hoje é a história da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).
Nascida de uma assembleia-geral de acionistas em 15 de março de 1948 e, sobretudo, do sentimento patriótico que dominava a vida pública nacional e que procurava dar uma resposta à tragédia cíclica da seca, que mantinha o Nordeste como o grande bolsão de miséria, exportador de mão de obra para o Sul, a Chesf tem sido o instrumento definitivo para reescrever a história de nossa região.
A presença física e institucional dessa empresa entre nós não é uma dádiva, uma deferência ou uma forma de o poder público federal realçar sua generosidade.
Trata-se de uma conquista social, técnica, fundamental para a construção de um Nordeste com perspectiva de um dia fazer parte de uma unidade nacional de fato, de direito, economicamente dimensionada.
Hoje não há essa unidade e todos estamos cansados de saber.
Principalmente nossas lideranças políticas, os detentores de mandatos, que fazem carreira, catam votos, prometendo fidelidade aos interesses da região.
Nunca por discriminação, para nos fazer diferentes dos Estados mais desenvolvidos, das regiões que tiveram grande impulso inclusive utilizando a mão de obra nordestina, exportada pela pobreza extrema.
A fidelidade que sempre se pediu à nossa elite política foi a percepção dos nossos limites, das nossas dificuldades, do direito à integração nacional, de que foram fatores determinantes um rio que nasce em Minas mas se entrega por inteiro ao Nordeste, e a Chesf, o motor capaz de nos impulsionar.
Assim também era posta a questão da Sudene, uma autarquia criada sobre as trágicas secas dos anos 50 para nos dar um tratamento diferenciado.
Aplicava-se com ela, por inteiro, o princípio do tratamento desigual para os desiguais.
No momento em que esse princípio se consolidava e nos levava a um crescimento com taxas seguidamente superiores à taxa de crescimento nacional, deram um fim à Sudene.
As razões foram fundadas na doença crônica da corrupção que, infelizmente, atinge o nosso País.
Apesar do encerramento das atividades da autarquia regional de desenvolvimento, o empresariado continuou acreditando na região e Pernambuco, em particular, tem dado lições nesse sentido.
O Estado cresce, há um impulso animador em todos os setores e o mínimo que a iniciativa privada esperava, e espera, é a preservação de mecanismos sem os quais não há como acreditar na região como se vê hoje.
O esvaziamento da Chesf é um golpe nessa confiança, é uma agressão ao Nordeste.
Mais: é uma insanidade o que se está arquitetando com o propósito de fazer da nossa maior empresa um escritório num canto qualquer, para ficar recebendo ordens e inspiração do Rio de Janeiro.
Todos sabemos o que significa transferir para as mãos da burocracia as instâncias de poder.
Ele se dilui entre os amigos do rei, o governante do dia, criam distância do território a que deveria atender, e termina se institucionalizando como instrumento de barganhas eleitorais, de que tem se poupado até agora a Chesf.
Achamos que há um silêncio ensurdecedor da classe política nordestina em relação ao propósito de nos tirar a Chesf.
Onde estão os 25 deputados federais pernambucanos?
Por que calam quando mais uma vez as poderosas forças do Sudeste nos quer tirar o mais nordestino de todos os empreendimentos já feitos na região, motor de todo avanço que se processou nos últimos 50 anos?
Nada aprenderam as nossas lideranças políticas com as lágrimas do governador do Rio de Janeiro e a mobilização popular que ele pessoalmente organizou para exigir mudanças nas regras da distribuição dos royalties do pré-sal na forma como foram aprovadas pela Câmara Federal?