Por Humberto Costa, no Blog do Noblat Depois de mais de três anos tomado por uma enorme expectativa e um sentimento de profunda injustiça, vejo, agora, com muita alegria, o reconhecimento por parte da Justiça da minha absoluta e total inocência no processo movido contra mim em relação ao episódio da Operação Vampiro, no Ministério da Saúde.

Após esperar, pacientemente, por essa absolvição, estou, finalmente, de alma lavada.

Enquanto ministro, o primeiro contato que tive com a temática dos hemoderivados – substâncias derivadas do sangue usadas para o tratamento de várias doenças, dentre elas, a leucemia – foi em fevereiro de 2003, um mês após ter assumido a pasta, quando fui procurado pelo Ministério Público para colaborar com a investigação acerca do processo de licitação para a compra daqueles produtos, iniciado no ano anterior.

Tal licitação vinha sofrendo uma série de questionamentos por meio de recursos administrativos apresentados por várias empresas participantes do certame.

Prontifiquei-me a colaborar e, no mês seguinte, encaminhei ao Departamento de Polícia Federal um pedido de investigação de supostas irregularidades nesse processo licitatório.

Em setembro de 2003, recebi uma carta anônima em que o denunciante falava da existência de tentativas de extorsão a fornecedores da Saúde.

De imediato, enviei a denúncia à Polícia Federal e ao Ministério Público solicitando investigação sobre o caso.

Determinei também a abertura de processo administrativo interno.

Depois disso, só voltei a ter notícias do caso em maio de 2004, quando da deflagração da Operação Vampiro pela Polícia Federal.

A operação resultou no desmonte de uma quadrilha que, desde 1992, atuava no ministério fraudando licitações de medicamentos, equipamentos e de hemoderivados.

Ela identificou, inclusive, a suposta participação no esquema de um funcionário do quarto escalão, uma pessoa de minha confiança que levei para trabalhar no ministério. À época, o inquérito foi encaminhado à Justiça Federal e, em nenhum momento, foi feita qualquer menção ao meu nome.

Em 2006, estranhamente, o Ministério Público Federal o reabriu e resolveu me incluir no rol dos acusados.

Essa decisão, tomada em pleno período eleitoral, teve um efeito devastador sobre minha candidatura ao Governo do Estado de Pernambuco, uma vez que meus adversários exploraram o episódio exaustivamente, nos eventos de campanha e nas propagandas de rádio e de televisão, por mais de 30 dias.

Antes desse fato, aparecia em segundo lugar na disputa, conforme pesquisas de opinião feitas com o eleitorado.

Ao final, ainda obtive 26% dos votos, mas não consegui chegar ao segundo turno.

Sem a mesma superexposição que recebeu no período eleitoral, o processo continuou seu trâmite.

Todas as testemunhas, de defesa e de acusação, foram ouvidas.

Perícias para o levantamento de provas técnicas foram realizadas.

Após analisar esse material, o Ministério Público Federal emitiu parecer, no dia 25 de fevereiro de 2010, pedindo à Justiça que eu fosse inocentado na Operação Vampiro, por absoluta falta de provas contra a minha pessoa.

A decisão da Justiça apenas corroborou que as denúncias feitas contra mim eram infundadas e confirmou minha completa inocência nesse esquema fraudulento.

Apesar de não depender desse resultado para traçar meus planos políticos, já que sempre confiei na Justiça, posso, a partir de agora, respirar aliviado e cobrar meu direito de puxar uma carta no jogo.

Sinto-me como se tivesse ressuscitado e, como todo homem que tem vida nova, estou pronto para enfrentar novos desafios.

Tentar compor a trinca que representa o Estado de Pernambuco no Congresso Nacional é o mais emergente deles.

Para dar início à caminhada rumo ao Senado Federal, falta-me, apenas, o aval do PT, meu partido.

A meu favor, já estão todos os deputados estaduais da bancada petista, sendo um deles o líder do governo na Assembléia Legislativa, metade dos deputados federais e quase a totalidade dos vereadores (90%) e dos prefeitos (90%) do partido.

Também tenho um forte trânsito entre as siglas que compõem a Frente Popular e mantenho um bom diálogo com prefeitos de todos os partidos da base do Governo Estadual.

São elementos que, do ponto de vista eleitoral, colocam-me em condições idênticas as do outro postulante do PT, o ex-prefeito do Recife, João Paulo.

Almejo poder escrever as linhas desse próximo capítulo, cuja temática é bem diferente da do que se encerra com esse pronunciamento da Justiça.

Essa parte finda da minha trajetória merece ser lembrada, apenas, como uma lição de que não se deve prejulgar as pessoas com base em acusações insustentáveis, sobretudo quando há interesses políticos em jogo.

Espero que o tipo de campanha eleitoral suja e covarde como a que foi feita contra mim, em 2006, em Pernambuco, não venha a se repetir em nenhum outro processo sucessório no país, para o bem do povo e da democracia.

Humberto Costa é secretário das Cidades do Governo de Pernambuco e ex-ministro da Saúde do Governo Lula