Mais realista do que o rei Por Álvaro Jucá / Economista (alvaro.juca@hotmail.com) Esta frase era e é sempre usada quando os “vassalos” têm posições mais radicais que o rei sobre determinados assuntos de interesse da realeza.

Estes parecem ser os casos de Joca Souza Leão e Juracy Andrade sobre a discussão da Tamarineira com seus artigos intitulados: “O que eles pensam que são?” e “Uma herança maldita”.

Em algumas discussões como esta as vezes me deparo com a pretensão de alguns autores que se autointitulam porta-vozes da própria igreja e intérpretes e representantes da sociedade: “nós (os leigos) é que somos a igreja, em comunhão com os sucessores dos apóstolos, nós somos a sociedade, o povo, e temos o direito de exigir a verdade sobre este e muitos outros desmandos”.

Além de "representantes do povo" sem nunca terem tido um voto sequer, durante toda a vida, ainda posam de conselheiros das autoridades constituídas (prefeito, governador, presidente etc.).

Aconselham o prefeito da Cidade do Recife a desapropriar o Sítio da Tamarineira e pagar mais de R$ 60 milhões para fazer um parque ao lado do Parque da Jaqueira, em bairro de classe média alta, já com uma infraestrutura diferenciada da maioria da cidade.

E se o conselho não for atendido pelo prefeito eleito, legítimo representante do povo recifense, eles saem com outra pérola: “Se formos esperar alguma coisa de certas autoridades e assim ditos representantes do povo, estamos ferrados”.

Desdenham ainda de uma maioria de deputados estaduais, também legitimamente eleitos pelo voto popular, de suas posições tomadas sobre uma possível nova utilização do Sítio da Tamarineira.

Este preâmbulo é só para mostrar quão pretensiosos são estes “ditos articulistas vassalos do rei”.

O que nos interessa mesmo é pautar uma discussão séria, profissional, do que é melhor para a cidade e sua população, e discutir um novo uso para o Sítio da Tamarineira.

No mesmo sábado, 13 de março, no mesmo dia em que foram saíram na imprensa os artigos de Joca e Juracy, também foi publicado um artigo de Sérgio Buarque intitulado “A Santa Controvérsia”, no qual ele coloca de forma equilibrada e profissional a questão central deste debate, “O que fazer na Tamarineira e em que plano urbanístico inserir o projeto”?.

Neste foco complementaria ainda alguns pontos para reflexão.

Quando o manicômio foi criado em 1883 nos arredores da cidade ele tinha uma função social.

Hoje esta mesma área, completamente inserida na urbis, continuaria cumprindo o mesmo papel social de manicômio, ou teria uma outra função social para a cidade e para sua população?

O tipo de tratamento realizado continua sendo o mais adequado ainda hoje?

Um parque público, sustentado com recursos públicos, resolveria o problema do meio ambiente e de sua sustentabilidade?

A questão do tombamento vem para esterilizar a área ou poderíamos ter um uso que mantivesse o patrimônio histórico e cultural?

Esses efetivamente são o cerne da questão e devem ser discutidos com seriedade, profissionalismo para que a área seja aproveitada da melhor forma possível pela sua população e para a cidade. É importante destacar, que a posição do grupo empreendedor e da Santa Casa é de discutir da forma mais transparente possível o conceito do empreendimento e, neste sentido, foram agendadas várias reuniões com os vereadores, deputados, senadores, Ministério Público e ainda estão programadas reuniões com representantes de entidades da sociedade civil organizada, além de grupos interessados no tema.

Este procedimento poderia servir de exemplo para os empreendimentos de impactos (mais de 20.000 metros de área construída) na cidade do Recife.

Para as pessoas que realmente se preocupam com a cidade e não estão apenas movidas por interesses individualistas ou da realeza, o que se propõe é uma discussão séria e aberta da forma mais abrangente possível.