João Domingos dO Estadao de S.Paulo Baseado em três grandes partidos nacionais - PMDB, PT e PSDB -, uma dezena de legendas médias regionalizadas e outras tantas formadas por nanicos e ideológicos de pouca expressão, o modelo político brasileiro fez com que desde 1994 a efetiva disputa pelo poder ocorra apenas entre petistas e tucanos.

Os outros partidos, sabendo que serão necessários numa futura coligação de governo, seja quem for o vencedor, preferem viver das gordas migalhas distribuídas em forma de ministérios e direção de estatais.

Essas concessões, por sua vez, são transformadas em células que garantem a sobrevida partidária de cada um deles por mais um tempo. É o caso, por exemplo, do PC do B, que desde 2003 controla o Ministério dos Esportes e utiliza seus programas para recrutar militantes.

Outro exemplo é o PR - dono do Ministério dos Transportes, faz com ele sua política.

O PP, por sua vez, é o senhor do Ministério das Cidades, pasta criada pelo PT, mas entregue ao aliado pela ajuda que tem dado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.

Já o PDT se sente o próprio herdeiro de Getúlio Vargas com o Ministério do Trabalho, e o PSB tem como feudo o Ministério de Ciência e Tecnologia.

Domínio.

Com muito mais poder - garantido por seu gigantismo, tanto no Congresso quanto nacionalmente -, o PMDB domina seis dos principais ministérios de Lula: Agricultura, Comunicações, Defesa, Integração Nacional, Minas e Energia e Saúde.

Para garantir esse naco, abriu mão da disputa pelo poder nas últimas três eleições.

Desta vez, deverá compor a chapa, com a indicação do vice da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). “A pluralidade partidária brasileira é um blefe”, diz o deputado Paulo Delgado (PT-MG), apesar de 27 legendas estarem oficialmente registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A maioria dos partidos é formada por legendas de composição e não de competição.

Daí, a aversão pela disputa.” Pesquisas.

O cientista político Antonio Augusto de Queiroz concorda com Delgado.

Diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Queiroz faz pesquisas e estudos sobre partidos e parlamentares desde antes da Constituinte de 1988. “Percebe-se que à exceção dos que estão na disputa, os outros partidos não têm vocação para o poder”, avalia. “Quem quer se tornar grande luta numa eleição, em vez de aderir a outra legenda.” Na opinião de Queiroz, o que acontece no Brasil é ruim tanto para a democracia quanto para a renovação das ideias, visto que não surgem propostas com novas utopias.

Doutor em Ciência Política e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), José Paulo Martins Júnior considera um exagero a existência de 27 partidos políticos.

Alguns, diz ele, nem podem ser chamados de partidos. “Boa parte é constituída por organizações que têm apenas o rótulo de partido.” Na opinião dele, somente uns 10 partidos têm algum peso. “E se olharmos melhor, nacionais existem o PMDB, o PT e o PSDB, sendo que este último, dos tucanos, depende em parte do parceiro DEM para se tornar nacional”, observa.

Segundo Martins Júnior, a disputa presidencial tende a levar à bipolarização. “Os que não conseguem entrar nesse seletíssimo grupo têm de gravitar em torno de quem está no poder.”