A Chesf já virou departamento Fernando Castilho, na JC Negócios É compreensível a frustração de funcionários, parte da diretoria, dirigentes sindicais e ONGs que gravitam em torno da empresa em relação à decisão da Eletrobrás de pedir à Companhia Hidro Elétrica do São Francisco apenas consultoria de um projeto na Nicarágua quando poderia ser sócia do empreendimento.
Mas, por mais que isso doa neles, já faz tempo que a Chesf, politicamente, virou subsidiária da Eletrobrás, cuja holding exerce os direitos de controlador.
E não começou há dois anos quando o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff entregaram o Ministério das Minas e Energia ao grupo do PMDB ligado ao senador José Sarney, e o ex-presidente da empresa José Muniz Lopes assumiu a Eletrobrás.
Começou lá atrás, em 2003, quando PT e PSB assumiram a companhia e, em sete anos, vêm se digladiando.
A bem da verdade, a Chesf ostenta desde 2004 (por força do crescimento do mercado e sua condição peculiar de produção de energia), números invejáveis de rentabilidade que a transformaram na melhor empresa do Sistema Eletrobrás do ponto de vista do negócio.
O problema é que o resultado dos balanços, certamente por falta de uma percepção do que a companhia – em relação às demais empresas do grupo – poderia se tornar, não ajudou a transformá-la também numa líder política do setor.
Ou liderar iniciativas quando o mercado explodia em negócios.
Contentou-se com participações menores que sua condição financeira poderia alavancar.
E, justiça se faça, sob silêncio sepulcral de todas as vozes que hoje queixam-se da perda de importância para o desenvolvimento do Nordeste.
Festa, casamento e batizado Talvez isso seja doído para os chesfianos, mas a verdade é que a empresa, que relembram há vários anos, não existe mais.
Eles sabem que quando a companhia foi pioneira, em 2001, na venda de energia para fora do Nordeste, no Mercado Atacadista de Energia, virou uma empresa nacional disputando mercado.
E sabem que, à medida em que suas vendas cresciam fora da região, precisou adequar sua estratégia a um mercado interno, porém de classe mundial.
Aquela Chesf que aqui era chamada para festa, casamento e batizado acabou.
Nova postura A decisão da Eletrobrás de pedir a Chesf consultoria na Nicarágua quando poderia ser acionista, é a aplicação de norma editada em 2009 que manda a subsidiária entregar à holding ações das participações em novos negócios.
As elas só serão convocadas a prestar serviço.
Dívida zero Também é verdade que isso veio junto a limpeza dos balanços, quando a Eletrobrás assumiu as dívidas de suas controladas em 2009.
Mas para a Chesf isso não ajudou, pois a dívida não tirava capacidade de empréstimos.
A Chesf não tem dívidas, mas isso não lhe serve.
Briga surda O problema da Chesf, talvez, seja a questão de sua falta de agressividade como líder no mercado de novos projetos.
E, certamente, seu comportamento no mercado, teve a ver com a briga na sua diretoria.
Disputa, onde é bom lembrar, ninguém do PSB e PT quis meter a mão.
Participações É preciso ser justo em relação às suas participações.
Pouca gente sabe, mas a Chesf é dona de 20% de Jirau (Rio Madeira, RO), o maior projeto do setor, 24,5% de Dardanelos, (Rio Aripunã, MT) e em novas linhas de transmissão em quatro grandes projetos.
Mas ela quase escondeu isso da sociedade.
Empresa esnobou as eólicas Também não teve postura agressiva no setor de eólica.
Só recentemente se associou à portuguesa Martifer num consórcio para dois parques eólicos no RN (Areia Branca e Mar e Terra) com potência de 50 megawatts (MW).
A aposta mineira da Cemig Talvez se deva ao fato dos “barrageiros” da Chesf nunca acreditarem muito em energia de catavento.
Mas empresas como a Cemig (estatal mineira) apostaram nisso e ganharam visibilidade ambiental e contratos importantes.
Nova empresa Existem poucas chances de o modelo pensado, desenhado e implementado por Dilma Rousseff e José Muniz Lopes ser mudado.
Na verdade, chesfianos que não estão mais na Chesf acham que tudo mudou e que a Eletrobrás tem mesmo é que definir onde ela vai investir.
Marca Chesf Mas o processo trouxe lições.
E talvez seja didático o caso da Embrapa, cujo presidente, Pedro Arraes, reuniu os funcionários recém-contratados para lhes advertir que têm “a missão de cuidar da marca de excelência da empresa”.
E a propósito: alguém da Chesf pensou isso?