O Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco pediu que a Justiça Federal condene 14 pessoas por crimes contra o sistema financeiro, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

As atividades eram praticadas em operações comerciais ilícitas da empresa Norte Câmbio Turismo Ltda, com sede no Recife.

Nas alegações finais – última fase do processo antes do julgamento -, o procurador da República Luiz Vicente Queiroz argumenta que a principal intenção dos sócios da empresa era o exercício de câmbio e a evasão de divisas para o exterior, mantendo a atividade de turismo apenas como forma subsidiária para ocultar as ações ilícitas da Norte Câmbio.

De acordo com as investigações, a empresa não atuava simplesmente com o câmbio manual autorizado pelo Banco Central.

Conforme apurado pelo MPF/PF, a Norte Câmbio, além de realizar operações de câmbio a que não estava autorizada, funcionava como se fosse verdadeira instituição financeira, uma vez que remunerava aplicações, efetivava “ordens de pagamento” e concedia empréstimos a terceiros mediante o pagamento de juros, cujas taxas e formas de cobrança eram por ela mesma estabelecidas.

Para encobrir tais operações, a Norte Câmbio mantinha sistema de contabilidade paralela (caixa 2), que era registrado em dois computadores instalados em escritórios clandestinos, sendo um na Av.

Pan Nordestina e outro no Recife Flat Service.

Para a lavagem dos valores obtidos ilicitamente pela empresa e seus clientes, a Norte Câmbio promovia o envio de moedas para o estrangeiro, o que se dava por meio das operações dólar-cabo e das chamadas “mulas”, pessoas que levavam o dinheiro pessoalmente para o exterior, havendo, ainda, notícias de que a saída de parte desses numerários dava-se também a partir de contratos de compra e venda de materiais de informática superfaturados.

O esquema é considerado um dos maiores casos de crimes contra o sistema financeiro em Pernambuco.

Para o MPF, o principal responsável pelos negócios ilícitos da empresa era o empresário Jacinto Dias, atualmente residente em Portugal, considerado o idealizador da organização criminosa.

O MPF denunciou à Justiça Federal, em 2004, Jacinto e as outras pessoas envolvidas com as fraudes, incluindo o alemão Eberhard Hermann Zaiser, condenado em 2007 a 15 anos e quatro meses de reclusão, e tido como o “braço internacional” dos esquemas fraudulentos.

Eberhard Hermann era gerente da casa de câmbio Zaiser GmbH, na Alemanha, que possibilitava à Norte Câmbio a captação de recursos no Brasil, quando a empresa não dispunha de caixa para finalizar as operações de “dólar-cabo”.