Teste de cidadania Por Nelly Carvalho Vamos fazer um teste objetivo, tipo vestibular, para verificar como anda a noção de cidadania do Recife.
Responda, numerando de acordo com a prioridade: Qual a maior necessidade da população, incluindo o Grande Recife? ( ) Hospital psiquiátrico? ( ) Área verde de lazer? ( ) Shopping Center?
Como cidadãos conscientes, sem individualismo, nem casuísmo, mas com responsabilidade pessoal e social, todos responderão que as prioridades são: hospital, área de lazer e, por último mais um shopping.
Não que sejam desnecessários, mas já o temos em número suficiente, por toda a cidade, eficientes e modernos, como também na Zona Norte, que servem desde Casa Forte a Parnamirim, da Jaqueira ao Espinheiro, além de inúmeras galerias e centros comerciais de boa qualidade, situados nessa área.
Sendo assim, não faz a menor falta um centro de compras implantado em plena Avenida Rosa e Silva, uma das poucas vias de acesso aos bairros desta zona, cujo trânsito já é um dos mais congestionados e caóticos.
Hospitais, temos poucos, sobretudo dedicado a doentes mentais.
Por que deve ser desativado?
Não seria um contrassenso?
De tudo que li sobre o assunto, enquanto estava no estaleiro, convalescendo de uma cirurgia, destaco dois artigos, aqui no JC, um dos quais foi de Joca Souza Leão, um primor de ironia, abordando aspectos variados da impertinência da decisão, que abalou as estruturas de muitas opiniões.
Como não bastou, João Alberto Carvalho, psiquiatra, com conhecimento de causa, falou sobre o tema, jogando uma pá de cal nos argumentos pró.
Mostrou o competente médico a falta que faz, numa cidade problemática, carente de recursos e populosa como a nossa, um hospital a menos, hospital qualificado que atende doentes diferenciados, portadores de problemas graves de saúde mental.
No entanto os senhores deputados, no encontro que mantiveram com o senhor arcebispo, concordaram com a proposta da Santa Casa, declarando ser aquela, uma área inútil a que se daria utilidade.
Como pode sustentar-se esta afirmação diante das declarações do presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria?
Estranha-se também que o novo arcebispo, recebido pelos recifenses com tanto carinho e esperança, apresente uma proposta que vai de encontro ao tema da Campanha da Fraternidade: Você não pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro.
O shopping é o próprio templo do consumismo.
Em vários outros pontos, a proposta se choca com o documento da Campanha da Fraternidade, sobretudo quando aborda a promoção de uma economia a serviço da vida, e cita, no objetivo geral, a justiça social e a consciência ambiental, ligando, nos objetivos específicos, com a superação do consumismo, que faz com que o ter seja mais importante que as pessoas.
Os doentes, no caso, importam pouco.
Como ficam os pacientes atingidos pela decisão?
Citando João Alberto, “a desativação do Hospital Ulisses Pernambucano é extremamente preocupante” e enumera os serviços prestados à população na área de saúde mental.
A argumentação dos senhores deputados, de tratar-se de uma área inútil, é paradoxal, pois parece demonstrar desconhecimento dos problemas da saúde pública no Estado, das dificuldades de atendimento aos doentes mentais e dependentes químicos.
Qual será a resposta do cidadão consciente ao teste acima?
Toda a sociedade deveria engajar-se na discussão, ambientalistas, urbanistas, especialistas em saúde mental e não somente um grupo que saiba apenas dizer amém aos argumentos da Santa Casa.
Se não houver uma discussão ampla e, se não forem ouvidos também especialistas, teremos outro parque, como aquele que se resume a dois tonéis de concreto inconclusos e inestéticos, tendo como perda maior a desativação de um hospital.
Teremos outro Dona Lindu, enfiado goela abaixo contra a vontade e a necessidade da maioria.
Nelly Carvalho é prof.
Do PG Letras da UFPE