Por Joca Souza Leão jocasouzaleao@gmail.com O que eles pensam, não sei.
Nem quero saber.
Eu sei o que são.
Arrogantes e mentirosos; isso, para dizer o mínimo.
Julgam-se superiores, acham que nos levam no bico e não nos devem satisfações.
Pois, sim!
Essa gente desembarcou aqui há três anos.
Comprou o Shopping Paço Alfândega (em imóvel alugado da Santa Casa).
O Paço tava quebrado.
Todo mundo sabia, bastava ir lá e ver as lojas às moscas (aliás, continuam).
Outras, várias, tapumadas ou com operações provisórias, como exposição e venda de artesanato, sulanca etc.
As exceções eram algumas lojas do setor de alimentação, que salvavam a lavoura na hora do almoço, com a clientela que trabalhava ali por perto.
Ou seja, os antigos empreendedores deram com os burros n’água.
Não foram gestores competentes.
Passaram o negócio adiante. (Passaram?
A gente fica sem saber, porque um ex-dono está sempre a tiracolo com os novos donos.
Como cicerone, talvez). É só ler os jornais da época.
Os caras da Realesis e Banco BVA, que ninguém por aqui nunca tinha visto mais gordos, nem se apresentaram, já foram dizendo que iam fazer e acontecer.
Aos lojistas do Paço, prometeram ancoragem e tráfego.
Ao Recife, restaurar o Chanteclair.
Quem quiser saber sobre o tráfego do shopping e a gestão dos novos donos, é só conversar com os lojistas que restaram (ou mesmo com os que saíram, boa parte deles em litígio, tentando defender seus interesses na justiça).
E quem quiser saber do Chanteclair, é só dar uma chegada lá.
A única coisa que fizeram até agora foi trocar os tapumes.
E a placa da obra.
Ou seja, mentiram.
Se em relação ao Paço eles chegaram botando a boca no trombone, em relação à Tamarineira foi o contrário, nem um pio.
A coisa foi feita com a Santa Casa na moita. “Ninguém sabe, ninguém viu”, como na música, sucesso na voz e nos trejeitos de Cauby nos anos cinquenta.
Nem o prefeito da época sabia (pelo menos, jurou de pés juntos que não sabia).
Na verdade, nós, pobres mortais, é que não sabíamos da missa um terço.
Já faz algum tempo, começou-se a ouvir um zunzum.
Os possíveis envolvidos, autoridades inclusive, negavam.
Ou se faziam de surdos.
E o zunzunzum aumentando. “Tão querendo construir um shopping na Tamarineira.” E eles negando.
Eu, mesmo, escrevi em outubro de 2008, quando o atual prefeito ganhou a eleição: “(…) João, anuncie logo que entrou na luta para fazer o Parque da Tamarineira”.
Não precisava nem desapropriar, rapaz.
Nem tombar, porque já era (e ainda é) tombado pelo Estado.
Bastava considerar zona de preservação ambiental.
Apenas para reforçar os instrumentos legais.
E deixar clara a posição do prefeito, ou seja, de quem acabara de receber o mandato do povo do Recife.
Mas não, nada.
O prefeito eleito não sabia de nada.
E não fez nada.
Só os arrogantes compradores sabiam de tudo.
Sabiam que a área era tombada pelo Estado, por intermédio do seu Conselho Estadual de Cultura (com a palavra o presidente do Conselho, poeta Marcus Accyoli).
Mas não deram a mínima. “Decreto de ‘paraíba’ (assim os cariocas da Realesis e Banco BVA devem se referir à gente) não vale nada”.
Assim pensam e agem os coronéis do asfalto: “lei fraca a gente passa por cima; forte, passa por baixo”.
Sabiam, também, que a propriedade da Santa Casa é, no mínimo, questionável.
Ninguém, muito menos banqueiro, compra nem aluga nada sem passar no cartório.
E eles, por certo, passaram.
Passaram e viram a certidão cinquentenária, que hoje está anexa ao processo judicial movido pela Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco.
Viram, também, o decreto de 1925, assinado pelo governador Sérgio Loreto, tirando da Santa Casa a administração do hospital e colocando-o sob a gestão do Estado de Pernambuco.
Sabiam que no local funcionavam dois hospitais.
Um deles, histórico.
O que fazer com os doentes? “Esse não é problema nosso.
Que se virem!” Preservação ambiental? Área verde? “Isso é luxo.
Tem quem pode.” Como eles chegaram sem se apresentar, fui investigar na internet.
Faça o mesmo, caro leitor.
Dê uma espiada no Google: Realesis e BVA.
O sobrenome Sarney é bastante citado.
Cruz, credo!
Mas eles não contavam com uma coisa.
Aqui, toparam com uma Procuradoria Pública eficiente e um procurador combativo e honesto.
Neste sábado, 13 de março, a partir das 9 da manhã, vamos todos à Tamarineira!
Vamos mostrar a essa gente que respeito é bom.
E a gente exige.
Salve a Tamarineira!
Joca Souza Leão é publicitário e cronista.