Deu no estadão O promotor de Justiça José Carlos Blat declarou ontem que vai requerer o indiciamento criminal e denunciar à Justiça João Vaccari Neto por formação de quadrilha, estelionato, apropriação indébita e lavagem de dinheiro ? delitos que o tesoureiro do PT, segundo o promotor, teria praticado enquanto ocupou a presidência da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), entre 2005 e 2010.
Blat disse que a medida será tomada ao fim de sua investigação, independentemente de a Justiça autorizar ou não a quebra do sigilo bancário e fiscal de Vaccari, requerida sexta-feira. “Nada vai impedir o nosso trabalho”, afirmou o promotor, indignado com acusações de cardeais do PT de que estaria a serviço do PSDB.
Ele anotou que Ricardo Berzoini, ex-presidente da sigla, o acusou em entrevista a uma emissora de rádio de ser sócio de bicheiro e de contrabandista. “Propaganda difamatória e ofensas pessoais não vão desviar a nossa atenção.
Vamos dar continuidade.
Já enfrentei outras organizações criminosas tão ou mais importantes que essa.” O rombo, calcula o promotor, supera R$ 100 milhões.
Ele está convencido de que parte desse montante financiou campanhas eleitorais do PT.
Blat ganhou reforço significativo da instituição.
Ele estava praticamente isolado na apuração, mas a partir de hoje as operações da Bancoop serão alvo também de inquérito civil da Promotoria do Patrimônio Público e Social, braço do Ministério Público com larga especialização em ações contra corrupção e improbidade.
O promotor requereu remessa do inquérito à Seccional Centro de Polícia para que o ex-presidente da Bancoop seja intimado. “Ele (Vaccari) terá oportunidade de se explicar, é exercício sagrado da defesa”, observou Blat. “Poderá dar sua versão, se quiser.
Depois vamos individualizar as condutas e apresentar denúncia criminal.” Ressaltou também que o requerimento de quebra de sigilo de Vaccari complementa o inquérito. “Não seria adequado que outros ex-dirigentes da Bancoop tivessem afastado seu sigilo e ele ficasse de fora.” Blat planeja denunciar Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga, que integravam a cúpula da cooperativa.
A devassa se estende ao período anterior à gestão Vaccari ? seu antecessor, Luiz Eduardo Malheiro, morreu em acidente de carro em 2004. “Os golpes mais incidentes aconteceram entre 2002 e 2006”, afirmou. “Vaccari e Ana participaram diretamente na administração financeira fraudulenta da Bancoop.” O promotor disse que “não está investigando membros ou líderes do PT”, porque não é sua atribuição.
Por isso encaminhou à Procuradoria Eleitoral documentos que revelam elo da Bancoop com o PT ? doações da Germany Comercial e Empreiteira, que pertencia a dirigentes da própria cooperativa.
Ele declarou que um ponto da investigação é referente a uma cláusula de confidencialidade que trata de empréstimos que somam R$ 10,5 milhões que o Sindicato dos Bancários teria concedido à Bancoop. “Esses repasses não estão lançados nos balanços”, destacou o promotor. “Causa estranheza porque o sindicato é criador da Bancoop.
A cláusula impede que os cooperados tenham acesso a tais dados.” “A manifestação do promotor só revela que, embora venha fazendo acusações graves desde 2008, até agora não tomou medida judicial”, reage o criminalista Pedro Dallari, que defende a cooperativa. “Evidencia a virulência do promotor. É claro o desvio de conduta.
Se o promotor entende que há crimes deve propor ações penais.
Mas está inerte, apenas assume posições perante a imprensa que não adota com ação efetiva.”