Por Fernando Castilho, do JC Negócios José do Patrocínio Oliveira era tarado pela gramática.

Alguém lembra de ter aprendido radical nas aulas de português, na escola?

Patrocínio sabia!

Você consegue se lembrar das conjugações com todos os particípios passados?

Patrocínio ia e vinha com os verbos.

Eu era estagiário na redação do Diário da Noite, na Rua do Imperador e me lembro com se fosse hoje quando ele entrou irritadíssimo na Redação do DN esculhambando um anúncio do Cinema Trianon, que exibia naquela dia o filme pornô Aluga-se Moças.

Não é aluga-se. É alugam-se, bradou.

Pois é: Patrocínio copidescava até titulo de filme sem se preocupar com o “enredo” da produção.

O que mais chamava a atenção desse velho “rato de sebo” era sua preocupação com a gramática e correção do texto.

As pessoas brincavam com ele dizendo que Patrocínio não se permitia qualquer licença poética num texto.

Com ele era: Pão, pão.

Queijo, queijo.

O texto era assim: lead com cinco linhas, sub-lead com sete linhas e o texto da matéria.

Eu falei rato de sebo?

Pois bem: de Melquisedeque Pastor a José Mindlin, passando por Brandão (com sua grande livraria de livros usados e raros na Praça Maciel Pinheiro), todo mundo reconhecia em José do Patrocínio um zelo extremo pela palavra.

Tão grande que sacrificava o estilo do texto jornalístico.

Mas Patrocínio tinha histórias maravilhosas das décadas de 60 e 70.

Uma delas era sobre o seu “rigoroso” teste para quem procurava o Jornal do Commercio querendo ser jornalista.

As faculdades da área estavam no início.

Normalmente, eram pessoas simples que sonhavam publicar alguma coisa.

Ou simplesmente “filar” a boia num almoço da Associação Comercial ou Clube de Diretores Lojistas, no antigo Grande Hotel.

Certa vez, o diretor de Redação, Dr.

Esmaragdo Marroquim, mandou um “candidato” que passara a semana lhe pedindo uma vaga para fazer teste.

Pela remessa, Patrocínio entendeu que era para despachar o sujeito e saiu-se com essa: Meu filho, vou lhe fazer a pergunta básica para quem quer ser jornalista: Você sabe bater à maquina?

O sujeito não sabia e Patrocínio o despachou para sempre das redações.

José do Patrocínio era um desses jornalistas que cheirava a jornal.

Não se interessa por rádio, TV e internet.

Sua vocação era a mídia impressa.

Se você olhasse para ele com aquele monte de jornais lidos e riscados debaixo do braço, via isso claramente.

O velho “Zé do Pato” gostava tanto de jornal que virou jornaleiro.

Sua banca é ali, na Avenida Guararapes onde ele deixava a gente à tarde ler O Globo, O Estadão o JB e a Folha de São Paulo, de graça, até que os exemplares fossem vendidos.

Novinhos e cheirando a tinta de jornal.

Aos 83 anos, morre o jornalista Zé do Patrocínio