Por Cesar Maia Curiosa e paradoxal situação para a eleição de 2010.

Lula quer uma eleição plebiscitária entre Dilma e Serra.

Parte relevante do grupo de Serra também passou a querer isso.

Ou seja: ambos não querem a presença de Ciro no processo eleitoral.

Quem está com a razão?

Há contradição em que adversários queiram a mesma coisa?

Ou não há alternativa?

Numa eleição polarizada, a proximidade nas pesquisas levará o eleitor a fazer o voto tático, útil, emagrecendo Marina e reduzindo o não voto (abstenção, brancos, nulos).

Isso se passou com Heloísa Helena em 2006.

As razões de Lula são de confiar em que a sua popularidade pode eleger um poste.

Em 2008, na cidade de São Paulo, Lula foi para as carreatas e para a TV, mas Marta só fez cair.

Se o primeiro turno fosse programável, num mano a mano Serra/Dilma ou Serra/Dilma+Lula, a tendência seria Serra vencer.

O eleitor primeiro pondera os riscos, depois avalia as promessas.

Mas a candidatura Dilma tem um elemento diferencial em relação a Serra.

A mobilização da militância profissional recrutável em associações, sindicatos, ONGs e tudo o mais, que vivem da mesada do Estado e veem os riscos de seus (digamos) espaços serem perdidos.

E isso já está em montagem: tantos militantes profissionais por número de eleitores, distribuídos pelos municípios brasileiros.

Um depósito alugado para receber material, um cadastro do Bolsa Família na mão, a visitação domiciliar (técnica Bush), a visita aos prefeitos/vereadores e os “fortes” argumentos para conseguir apoio.

A rede “Gushiken” de rádios e jornais regionais já existe e pode continuar via prefeituras, associações e testemunhas.

E, paralelamente, uma tempestade de spams anti-Serra e pró-Dilma/Lula.

Não faltarão recursos, como sempre, generosos.

Mas há uma pedra no meio do caminho, e que pedra.

O primeiro turno gera contradições na base do governo nas eleições parlamentares e gera poluição visual e confusão na cabeça dos eleitores.

Placas e cartazes para todo lado, milhões de panfletos, TV e rádio, dia sim, dia não, com descanso dominical, caras e bocas passando na telinha e as piadas relativas.

Nesse ambiente, a marca e o currículo anteriores contrapõem-se à “máquina” e reduzem a aderência de Dilma a Lula.

No segundo turno, o quadro será muito diferente.

Uma eleição sem ruídos, com TV todos os dias, sem cartazes ou caras e bocas, com parlamentares eleitos e espaços muito mais amplos para Lula e militantes.

E ainda a experiência que a estreante Dilma adquiriu numa campanha presidencial.

No segundo turno, ela não pisará nas mesmas armadilhas.

Por isso tudo, não parece haver dúvida de que a eleição plebiscitária interessa muito mais a Serra que a Lula -desculpe, que a Dilma.