Por Sérgio Montenegro Filho, no www.polislivre.blogspot.com Antes mesmo de começar a campanha eleitoral propriamente dita, setores menos amistosos do PT, digamos assim, já investem com fúria cega contra a imprensa.
Um artigo publicado há alguns dias no site do partido serve como exemplo.
Nele, são transcritas várias críticas negativas feitas à candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) durante o 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, do Instituto Millenium.
Não importa que elas tenham sido formuladas por reconhecidos adversários do partido.
Serviram de mote para generalizar os ataques à “grande mídia golpista” – adjetivo usualmente aplicado, de boca cheia, por alguns petistas.
E antes que apontem, eu mesmo admito: sou corporativista.
Talvez não tanto quanto os petistas.
Eles bem sabem que anti-éticos e corruptos existem em todos os segmentos, mas também sabem que é preciso sair em defesa dos profissionais éticos e honestos contra as generalizações.
O que esses segmentos mais radicais esquecem é que o PT só é o que é hoje graças, em parte, à “grande mídia”.
Antes mesmo de o partido ser fundado, jornalistas sérios enfrentavam as investidas dos censores da ditadura para noticiar as movimentações do chamado “novo sindicalismo” do ABC paulista, e sobretudo a sua estrela maior, o então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.
Foi essa mesma “grande mídia” que divulgou para todo o País as mobilizações democráticas do início dos anos 80.
Quando o recém-fundado PT ainda era classificado por assustados reacionários como “um bando de radicais de ultra-esquerda”, entre outros adjetivos ainda menos corteses.
Lembro que quando comecei a exercer o jornalismo, há pouco mais de duas décadas, os conservadores bradavam das suas tribunas que as redações dos jornais estavam repletas de comunistas e petistas.
Hoje, a mudança é dramática.
São os petistas que sobem às suas torres para enxergar nas redações uma “corja” de liberais e conservadores.
Mudaram as redações ou mudou o PT?
Do meu posto de observação pessoal, não tenho dúvidas de onde se deu a mudança.
Mas como não sou dono da verdade, prefiro que os “mudados” continuem erguendo suas vozes.
Só gostaria de lembrar que, mesmo depois de ascender ao poder – graças a uma extrema do guinada no discurso de esquerda – as ações positivas do governo petista têm sido amplamente divulgadas pela “grande mídia”.
Claro, as críticas negativas também são exploradas.
E até com maior peso que as boas ações.
Talvez porque, ao longo de pelo menos 22 anos, tenhamos assistido à dura oposição feita pelos petistas a quem quer que ocupasse o poder.
Mas, como se sabe, passar da condição de pedra à de vidraça é uma mudança um tanto traumática.
O discurso crítico fica arraigado na cabeça, e é preciso, às vezes, descarregá-lo sobre alguém.
Nem todo mundo supera isso com tamanha facilidade como fez, por exemplo, o líder maior do PT.
Desde que virou vidraça, Lula tem recebido com surpreendente parcimônia as críticas publicadas pela “grande mídia”.
Via de regra, mostra domínio e equilíbrio diante delas.
E nas raras vezes em que perde a paciência, no máximo declara em público que não lê mais os jornais.
Lula representa bem o PT moderno.
A chamada “nova esquerda”.
Não é bairrista, não vê mais teorias da conspiração nem investidas burguesas contra o proletariado.
O inverso é que custa a ser verdadeiro: lamentavelmente, nem todo petista conseguiu incorporar o estilo “paz e amor” do seu próprio presidente.
Quem sabe se voltarem por um tempo à condição de pedra eles não começam a preservar um pouco mais as vidraças?