Por Luciano Siqueira Longe de mim a presunção (e a impertinência) de opinar sobre o que se passa nas hostes adversárias – no caso, a montagem da presumível candidatura de Serra à presidência da República.
No entanto, tomo como mote a notícia veiculada no Jornal do Commercio de domingo último que revela a intenção do PSDB em apresentar o seu candidato como “mais José e menos Serra”.
Seria uma jogada de marketing destinada a amainar a imagem nada simpática nem popular do governador paulista. “José” seria mais palatável do que “Serra”, com o tempero da história pessoal do candidato, que embora seja hoje homem de confiança do grande capital tem origem simples, filho de feirantes.
Ora, a linguagem humana é antes de tudo simbólica – seja escrita, falada ou simplesmente gestual.
E quando se trata de candidato a função pública, o conjunto dos atributos pessoais – explícitos, conhecidos ou maquiados – é que toca ao imaginário da maioria (próximo do chamado senso comum) e alcança maior ou menor receptividade.
No último pleito presidencial, por mais sofisticadas que fossem as técnicas de comunicação de massas, nada seria capaz de embaçar aos olhos do eleitorado a identificação com Lula (um filho do povo) e o distanciamento em relação a Alckmin (a fala e o jeitão de Avenida Paulista).
E quando se tentou “melhorar” a imagem de Alckmin a coisa ficou tão artificial quanto desastrosa: foi apresentado como “Geraldo”, depois “Geraldo Alckmin” e finalmente, o barco fazendo água, voltou a ser “Alckmin”.
Cá com meus botões e apoiado na modesta experiência pessoal, em política deve ser como no amor: que cada um que se mostre como realmente é, despido de artificialismos que podem até enganar e confundir os eleitores, mas em médio prazo são desastrosos. “Mas o eleitorado se engana facilmente”, ponderam alguns.
Nem tanto.
Pode até fazer opções erradas, e faz; mas desconfia de candidatos maquiados.
As pessoas estão a cada dia mais exigentes.
E atentas.
Karl Marx dizia que se a aparência fosse igual à essência, não haveria necessidade da ciência.
Mas em matéria de imagem pública de um líder (à direita, ao centro ou à esquerda), quando não corresponde à realidade nem carece de análise “científica”: intuitivamente dá pra distinguir aparência e essência.
Os tucanos terão a oportunidade de comprovar isso no próximo pleito.
Se apostarem em “José”, escondendo “Serra”.
Luciano Siqueira escreve no Blog de Jamildo todas as quartas-feiras