Para Vannuchi, País prefere diálogo com Teerã; EUA e europeus têm criticado posição do governo brasileiro Jamil Chade - Correspondente de O Estado de S.
Paulo GENEBRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falará da situação dos direitos humanos no Irã durante sua visita a Teerã em maio.
Quem garante isso é o ministro de Direitos Humanos do Brasil, Paulo Vannuchi, que em menos de um ano modificou seu discurso em relação ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad e agora defende “diálogo”. “O presidente Lula falará da situação dos direitos humanos em sua viagem”, afirmou Vannuchi, que está participando de reuniões na ONU.
O ministro indicou que estaria até mesmo disposto a viajar com Lula e também tratar do assunto durante a polêmica viagem à Teerã.
Vannuchi afirmou que atuaria de forma “discreta” se fosse convidado a acompanhar a comitiva presidencial.
Nas últimas semanas, governos europeus e dos Estados Unidos vem aumentando o tom de críticas contra a viagem de Lula.
A vencedora do Prêmio Nobel da Paz, a ativista iraniana Shirin Ebadi, sugeriu que Lula visitasse também dissidentes, o que é visto como uma afronta pelo governo de Teerã.
Telegramas confidenciais ainda mostram que o Itamaraty está preocupado com a repercussão da aproximação entre os dois países.
Em 2009, Vannuchi não disfarçou seu “alívio” quando Ahmadinejad cancelou sua primeira tentativa de visitar o Brasil.
Em junho, após as eleições que deram mais uma vitória à Ahmadinejad, o ministro foi um dos poucos membros do governo que não escondia que torciam contra o escolhido. “Quando aparece o noticiário de que havia um candidato mais reformista, claro que a nossa torcida era para ele.
Agora há conflito”, disse Vannuchi na época.
Agora, o ministro adota uma posição mais diplomática. “O importante é que o Brasil seja um país de diálogo.
Se optarmos por romper, estamos fechando um canal de comunicações”, disse.
Vannuchi garante que Lula já falou com Ahmadinejad no passado sobre o questionamento do iraniano em torno do Holocausto.
O presidente do Irã já chegou a levantar dúvidas sobre o real impacto da Segunda Guerra Mundial sobre os judeus.
A situação da comunidade Bahai no Irã também é levantada pelo governo, assegura o ministro. “Defender direitos humanos não pode ser por meio da retaliação.
O Brasil é hoje um dos poucos com uma voz que pode servir para ajudar no diálogo”, insistiu.
Vannuchi insiste que a posição adotada pelo Brasil em relação ao Irã é a de demonstrar que o País não concorda com certas posições de Teerã. “Mas condenar não adianta”, afirmou.
Teste A política externa brasileira será colocada à prova nos próximos dias.
A diplomacia europeia prepara uma resolução para ser apresentada à ONU pedindo que se investigue violações aos direitos humanos no Irã.
O Brasil é contra a criação de investigações internacionais relacionadas a um país e prefere que os relatores já existentes da ONU façam as visitas aos países.
Ontem, porém, o governo do Irã indicou que a proposta do Brasil de aceitar relatores sequer estava na agenda do diálogo bilateral. “Isso não está na agenda”, afirmou o ministro de Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki.
O caso iraniano não é o único que colocará o Brasil à prova.
Os governos americano, japonês e europeus vão apresentar uma resolução pedindo que a situação dos direitos humanos na Coreia do Norte seja investigada.
O Brasil se absteve na última vez que o tema foi à votação.