Por Clóvis Rossi, na coluna Janela para o Mundo Parece inesgotável a capacidade de o presidente venezuelano Hugo Chávez ter o seu nome e/ou o de seu governo envolvido em confusões.

A mais recente, de hoje, é a a acusação do juiz espanhol Eloy Velasco que diz ter encontrado indícios de cooperação entre o governo Chávez e os grupos terroristas ETA (Euskadi Ta Askatasuna ou Pátria Basca e Liberdade, que mata supostamente em nome da independência do País Basco) e FARC (Forças Armas Revolucionárias de Colômbia, mais próxima do Brasil e mais conhecida).

Fosse só o juiz, já seria bastante grave.

Mas o governo espanhol, pela voz de seu presidente, José Luis Rodríguez Zapatero, não só considerou “respeitável” a atuação do juiz como pediu explicações à Venezuela.

Chávez, como é de hábito, reagiu chamando de “infundada”, “inaceitável” e “tendenciosa” a suspeita do juiz.

Mas o comunicado oficial venezuelano acaba relembrando que há, de fato, um integrante da ETA vivendo em Caracas, há anos, aliás.

Trata-se, o que o comunicado não especifica, de Arturo Cubillas, que vive na Venezuela desde 1989, “como produto de acordo entre os governos Carlos Andrés Pérez e Felipe González”, então governantes da Venezuela e da Espanha respectivamente.

O juiz Velasco está processando Cubillas e os membros das Farc Edgar Gustavo Navarro Morales e Víctor Ramón Vargas Salazar.

A acusação é a de que os três, entre outros, tinham planos para matar o presidente colombiano Álvaro Uribe e seu antecessor, Andrés Pastrana.

Cubillas já trabalhou para o governo Chávez, o que só faz aumentar o teor de confusão em torno do presidente venezuelano. É sempre bom lembrar que, não faz muito, Chávez declarou que respeita “o projeto político” das Farc, que não tem projeto político faz tempo, a menos que se considere narcoterrorismo como projeto político. É igualmente bom lembrar o que disse a Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre o projeto político de Chávez: ausência de separação e independência dos poderes do Estado; restrições aos direitos políticos; utilização do poder punitivo do Estado para intimidar opositores ou colocá-los na cadeia; repressão contra jornalistas e meios de comunicação; criação de grupos paramilitares.

Enfim, nada que não tenha saído nos jornais.

A diferença é que Chávez acusa o “império” por espalhar tais informações.

No caso da CIDH, não dá porque nela estão representados todos os países latino-americanos e, ainda por cima, o relator do caso Venezuela foi o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, funcionário internacional de ficha impecável na defesa dos direitos humanos.

Enfim, o presidente da Venezuela é a própria confusão ambulante.

PS: Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano.

Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de “Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e “O Que é Jornalismo”.