Quem são os donos do Recife?
O prefeito?
Os vereadores?
O povo?
Para mim, fica cada vez mais claro que os atuais donos da capital pernambucana são os flanelinhas.
Na tarde deste domingo (21), eu e minha namorada fomos à Livraria Cultura e deixamos o carro em uma das ruas próximas ao estabelecimento.
Ao retornar para o veículo, fomos abordados por um “tomador de conta de carros”.
Não tínhamos obrigação nenhum de dar-lhe dinheiro.
Primeiro, porque não demoramos tanto tempo assim na livraria que justificasse tal pagamento.
Além do mais, o flanelinha nem estava “vigiando” o carro, mas apenas entrou na rua quando nos avistou.
Ainda assim, resolvi dar uma moeda ao rapaz que, insatisfeito, reclamou e jogou o dinheiro no carro depois que dei partida.
Numa hora dessas, o que você faz?
Pára o carro, desce e parte para a agressão física?
Chama a polícia?
Vai embora?
Optei por esse último caminho.
Não sei o que teria acontecido se tivesse me deixado levar pela raiva… confesso que só não desci do carro por conta dos apelos da minha namorada.
Por outro lado, também não creio que ligar para a polícia daria resultados.
Então, resolvi ir embora.
Deixei o Recife Antigo com a certeza, cada vez maior, de que esta cidade está sem dono.
Ou melhor, está nas mãos de um grupo de “profissionais” que faz o que bem quer e entende.
No Carnaval, também fomos afrontados de maneira semelhante antes mesmo de descer do carro.
Aliás, a cena de flanelinhas intimidando as pessoas se repete com frequência absurda em diversos pontos do Recife, seja nas proximidades de estádios, universidades, casas de show ou repartições públicas.
Tenho consciência de que o problema é bem mais amplo e que passa por uma série de questões de fundo econômico e social.
Mas, a impressão que me dá é de que as autoridades públicas não levam o problema a sério e deixam os flanelinhas atuarem livremente. É a política do “eu finjo que coíbo e você finge que acredita”.
Talvez, essa realidade comece a mudar quando situações de violência entre os “donos das ruas” e os cidadãos começarem a invadir as páginas dos jornais.
Franco Benites, 29 anos, é jornalista e professor universitário.