Por José Maria Nóbrega Jr. – Cientista Político e Pesquisador do NICC-UFPE Não existem leis eficazes sem aparelhos coercitivos eficientes!
Na semana passada, em matéria veiculada no Jornal do Commercio (intitulada “Agente investigado por facilitar fuga”, sexta-feira, 12 de fevereiro, 2010, Cidades: p. 7), o Juiz de Execuções Penais, Adeíldo Nunes, afirmou que foi um “lapso” da Justiça a saída do hoje acusado da morte de Alcides da prisão.
Outra informação relevante está no fato de que o documento encaminhado ao referido juiz por parte do sistema penitenciário estaria adulterado.
Ou seja, não era para o acusado ter migrado para o regime semiaberto (o que lhe permitiu fugir com toda a facilidade).
Os crimes praticados aos quais o acusado de matar Alcides era responsável não lhe permitiriam, em quaisquer circunstâncias, a migração de regime.
Ele deveria estar preso!
Se assim o estivesse, dificilmente teria assassinado o estudante universitário.
O crime é uma questão de oportunidade.
O estado falhou – e aí quem foi o principal responsável é ator integrante do aparato estatal – em garantir a segurança da sociedade.
Permitiu, e o que é mais grave, por ineficácia de seus atores, que um indivíduo de alta periculosidade ficasse livre para praticar crimes ao seu bel prazer.
A matéria veiculada pelo mesmo Jornal, na Capa Dois (intitulada “Alcides foi morto por causa de um capricho”, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010: p. 2), afirmou que a causa da morte do Alcides foi provocada pelo “capricho” do principal acusado do crime.
Isto não é verdade!
Aponto três causas que foram determinantes para a morte do Alcides: 1.A ineficácia da Justiça – esta permitiu que o acusado de matar o estudante, mesmo com uma ficha criminal imensa, migrasse de regime, saindo do fechado para o semiaberto, assim facilitando sua fuga; 2.Acesso a arma de fogo – temos leis restritivas de porte de arma de fogo, mas a facilidade de acesso a elas revela a face frágil de nosso aparato coercitivo em limitar os espaços ao seu acesso no mercado negro; 3.A delinqüência juvenil – os jovens são os mais vitimados pelos homicídios, estão no grupo de menor grau de escolaridade e com frágil fiscalização da família e do estado.
Esses fatores potencializam a delinqüência, que se inicia com um “simples” consumo de loló no carnaval e evolui até chegar ao consumo de drogas mais potentes, como o crack.
Esta droga vem sendo apontada como a principal responsável pelo crescimento da criminalidade no Nordeste nos últimos oito anos.
Dessa forma, fica difícil que um mero “capricho” de um delinqüente/criminoso tenha sido a causa da morte do nosso querido Alcides.
O papel das instituições mais uma vez se mostrou como sendo determinante, neste caso e, também, em outros casos que possam ter passado pelo “lapso” do sistema de justiça criminal.