Por Anatólio Julião, em seu blog Quem quiser que se iluda: a briga do PT tem seu quartel general no gabinete do governador Eduardo Campos.

A deflagração do processo de luta interna no PT pela indicação do candidato ao senado nas próximas eleições é, de fato, comandada pelo governador Eduardo Campos.

Não existe essa história de ele estar incomodado ou surpreso com as escaramuças entre as correntes antagônicas do PT, recentemente divulgadas pela imprensa.

Pelo contrário, quem determina quando, como, onde e o que Humberto Costa deve dizer em suas declarações é o próprio governador, que o Secretário das Cidades de sua excelência não dá um passo sem combinar com o chefe. É da astúcia de Eduardo Campos que brotam: o início das discussões no seio da tendência CNB sobre a necessidade de demarcar espaços na composição da chapa majoritária; a colocação dos nomes de Humberto e Rands como possíveis candidatos; a deflagração do processo às vésperas do carnaval para que a polêmica seja abafada pelos clarins de momo; a procura de Humberto pelos dirigentes nacionais do PT para consolidar a manobra; e, sobretudo, a queimação do ex-prefeito João Paulo acusado de agir a contrapelo do Partido dos Trabalhadores, de ser oposição às prefeituras, sobretudo à Prefeitura do Recife, e de agir como elemento deletério ao bom andamento do processo sucessório, comprometendo a unidade das forças de sustentação do governo que aí está.

João Paulo já foi, há muito, eliminado como alternativa a uma das vagas para a disputa ao senado.

Apenas o processo entrou em fase terminal, já que os prazos começam a urgir.

E João teima em não admitir que, nesse contexto é, definitivamente, carta fora do baralho.

O outro, para quem tratamento semelhante está sendo reservado, é o usineiro Armando Monteiro cujo sonho de ser senador será, na hora certa, devidamente esmagado pelo sertanejo do São Francisco, Fernando Bezerra Coelho, em cujas mãos, além do trunfo geo-político, estão depositadas as chaves de Suape e de tudo o que o enclave representa.

Faltassem outros argumentos, o governador teria a enorme dívida de gratidão com Humberto Costa, cujo desempenho na última campanha para o governo do Estado o fazia despontar em todas as pesquisas como o futuro governador de Pernambuco até ser abatido, em pleno vôo, como hematófago e vampiro-mor quando Ministro da Saúde, tendo naquele momento, aplicado toda a energia que lhe restou na campanha de Eduardo, garantindo-lhe a vitória.

Por sua vez, João Paulo assinou a sua sentença de morte quando em vez de defender a candidatura de Humberto Costa para a Prefeitura do Recife, decidiu escolher esse pigmeu da nossa política que é João da Costa.

Hoje, Prefeito do Recife, Humberto Costa teria sido chutado para fora do jogo com a mesma classe com que Garrincha empurrou a bola para a lateral quando percebeu um adversário caído, e com ele os maiores empecilhos de João Paulo em sua caminhada rumo ao Senado.

O resto são análises epidérmicas de um jogo político muito mais complexo que, como no xadrez, demanda a antecipação, com o devido timing, de muitos movimentos à frente.

E tudo isso sem que Serra e Jarbas tenham-se, sequer, declarado candidatos.