Por Jairo Cabral A Ceroula é, inegavelmente, a maior e mais querida troça do fantástico carnaval de Olinda.
O seu hino, o Hino da Troça, composto pelo saudoso Milton Bezerra de Alencar, é envolvente e um dos mais executados, alegrando a folia mágica que só o carnaval de Pernambuco tem.A Ceroula quando passa com os seus 300 homens, deslumbra pela força do seu frevo contagiante e arrebatador, no bater acelerado do coração do bom pernambucano, que espera o ano inteiro para entrar na brincadeira e no malabarismo arretado do passo no pé.
Faz Olinda ferver na ferveção alucinada do frevo rasgado, na contorção maluca do passo.
Todo mundo se bole, se sacode, na enxurrada humana de braços e pernas, ladeira abaixo, ladeira acima, coreografia espetacular do improviso espontâneo da massa foliã.
Lá vem a Ceroula! fervendo com a sua pipa de mil litros de batida, conduzida por Bartolomeu e Chico Chicória, depois da animada concentração e da gostosa feijoada regada a muita cerveja e cachaça, servida no Clube Atlântico de Olinda.
O estandarte reluzente, flâmula vermelho dourada apontada para o céu, símbolo sagrado da Troça, abrindo caminho nas piruetas endiabradas de Pedro Sapateiro, o porta estandarte octogenário, de Setembrino, o melhor dançarino do frevo, e do bom Porquinho.
O povo se espreme na Praça do Carmo, se espalha na Rua do Bonfim, fervilha nos Quatros Cantos e desemboca na Rua do Amparo, na apoteose frenética que faz tremer o velho casario da cidade, guardião de tantas tradições.
A Ceroula é reduto do autêntico frevo de Pernambuco.
Sem modismos efêmeros incorpora o novo, traduzido na revisitação armorial de Antonio Carlos Nóbrega, no tocar multicriativo de Antúlio Madureira, nas composições apimentadas de J.Michilles, no lirismo renovado do Bloco da Saudade do bom Getúlio Cavalcanti.
Preserva-lhe a memória musical na execução dos metais pesados da sua orquestra, arrastando a multidão desgovernada na onda do ritmo diabólico que anima a brincadeira de momo.
No desfile da Ceroula, tem Lidio Macacão, tem o Come e Dorme alvirrubro de Nelson Ferreira, tem a alegria de Pompéia nas notas de Levino Ferreira, tem eu e você com Zumba, de chapéu de sol aberto, junto com o eterno Capiba e o seu trombone de prata.
Tem ainda a tempestade musical de Ademir Formiga, a usina sonora de Spok e o caldeirão fervente da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, com o seu turbinado Maestro Forró. É o frevo bordando com a sua magia encantadora o sonho sonhado por Cabela e Gilvan.
Por Roberval e Arthuzinho que foram frevar no andar de cima e tantos outros, no carnaval do passado distante, do talco branco da saudade da moça Mabel na calçada, debaixo da chuva de confete e serpentina, do bate bate de maracujá na sede da gloriosa Pitombeira do Quatros Cantos.
Sob a batuta do maestro Ozéas, a orquestra despeja na Rua de são Bento as notas do prazer e da exaltação.
Na descida triunfal da ladeira Quinze de Novembro.
No Largo do Varadouro, é o caminho para a apoteose final na Praça da Ceroula, antiga Praça João Lapa, em frente ao Bar de Gel e do Caldinho de Cacau. É o congraçamento de gerações.
De Cabela a Marquinho Fuba, passando por Jairo e Paulo Tiago, Toinho Potó, Junior Borboleta, Flavio, Ranício e Renato, Herminho Timbu e Albertinho Sacristão. É a celebração de quem faz do carnaval o festejo maior da alegria e da amizade, no passo paquidérmico de Pell, nos pulos meio desengonçados de Thiago Oliveira e na risada escandalosa de Cafezinho.
Que beleza!
PS:Jairo Cabral é diretor da Ceroula