Por Ed Wanderley edwanderley1@gmail.com Eu odeio amar Pernambuco.

Se não amasse, talvez conseguisse manter-me longe desta terra de loucos, megalomaníacos e tolos apaixonados tais quais a minha pessoa.

Não se engane, vivemos em uma terra sem enganos, sem piedade, sem respeito.

Estamos no reino de sombrinhas aos céus e lixo ao chão; de balas aos céus, de balas ao chão.

Não tiraram a vida de um de meus amigos neste fim de semana.

Talvez seja melhor manter-me com poucos amigos.

As probabilidades estão contra a sociabilidade, em prol da autopreservação.

Melhor mesmo é não conhecer nenhum vizinho, nenhum “Saúba”.

Melhor mesmo é não sair de casa.

Eles fazem o ‘serviço’ na frente de mulheres.

Na frente de mães, na frente de filhas.

Eles não têm motivos e, se precisassem de um, nada que uma suposta ‘encarada’ ou R$ 10,00 não resolvessem.

Matar formigas é relaxante.

E somos todos formigas.

Não choramos neste fim de semana.

Há tempos que não choramos.

Guardamos nossas lágrimas para nossas próprias desgraças; daquelas que acontecem mais próximo.

E esperamos que elas nunca aconteçam, que nunca tenham força para tornarem-se reais.

Mas ninguém espera que sua porta seja invadida no meio da noite.

Ninguém espera que a comemoração da tardia vitória dos, então, vencidos seja interrompida.

Até que seja.

Então, nos revoltamos.

Indignados.

Atacamos a (in)segurança pública que risivelmente comemora queda de 12% de mortes em um “ano bom”.

Em ‘Internacional’, deveriam ‘manchetar’: “novo ataque de homem-bomba mata 12% a menos no Iraque”.

Mas não é notícia.

Não ilude quem está tão longe.

Quem lê, não é cego de amores por aquela terra.

Não é levado a ter esperanças.

Já estivemos estarrecidos antes.

Por duas adolescentes em uma praia.

Por um médico em um sinal de trânsito.

Por um advogado em um churrasco familiar.

Por uma grávida no dia das mães…

Gritamos, atacamos, ‘manchetamos’ mais algumas vezes, cobrando soluções que nunca vieram.

E que talvez nunca venham…

Os que legislam estão seguros e não residem em ‘Vilas’…

Eu ouvi aquele choro que não era meu.

O desespero que não era meu.

O grito, também não.

Mas o coração dói.

Poderia ter sido meu.

Poderia ter sido ‘eu’.

E me resta vigiar a porta de meu próprio barraco.

Cenário triste.

Terror cinematográfico longe de terminar.

E enquanto esperamos, covardes e quietos, que os créditos finalmente subam, revemos a cena que tanto amarga: A rosa branca de uma mãe, agora sem cor, jogada por cima do corpo negro de seu filho, mártir de uma história interrompida em vermelho, numa aquarela pernambucana de pouca estética e muitos borrões.

PS: Ed Wanderley é jornalista, administrador e colunista do JC Online