Do Pebodycount Alcides não acontece todos os dias. É símbolo.

Desses que não são inventados.

Daqueles que orgulha, que faz todo mundo repensar a vida, as oportunidades, os acertos, os erros.

Alcides é história boa, daquelas que enche um livro inteiro, que faz a gente querer contar todos os detalhes para o taxista, o porteiro, os colegas de trabalho, para todo o mundo.

Morador da Vila Santa Luzia, na Torre, filho de uma ex-carroceira, tirou fino da miséria e passou no vestibular de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Passou bem.

Foi primeiro lugar entre os alunos das escolas públicas.

Não fazia outra coisa.

Só estudava e frequentava o grupo jovem da Igreja da Torre.

Deixou a mãe louca de felicidade.

E a Vila Santa Luzia também.

As mães de lá ganharam um rosto para mostrar aos filhos. “Tá vendo aquele ali.

Passou no vestibular.” Aos 22 anos, Alcides ganharia o diploma em setembro.

Iria fazer mestrado e depois doutorado.

Mas ele morava no Recife.

Foi o bastante para levar dois tiros na cabeça.

Estava estudando à 1h da sexta-feira.

Arrastado de casa por dois homens numa moto.

Morreu na frente da mãe e das três irmãs.

Queriam matar outro.

Encontrei com a mãe dele, dona Maria Luiza, hoje pela manhã.

Ainda estava vestida de orgulho, com o jaleco branco do filho.

Faltava bem pouquinho para ela dizer ao mundo que era mãe de um biomédico.

Pouquinho para dizer que não era mais uma.

Contou todo o sofrimento.

Disse que ainda se agarrou com os assassinos.

Mas não teve jeito.

Conseguiu evitar apenas o terceiro tiro.

Os dois primeiros já haviam interrompido o seu maior sonho.

Maria Luiza voltou a ser mais uma.

Hoje é 8 de fevereiro e 386 mães choraram, apenas neste ano, a morte de um filho.

A foto é de Alexandre Gondim/JCimagem e o texto é de João Valadares Leia também, já publicado mais cedo.

Simbolismo Patológico