Por Miriam Leitão Seria o dia de uma consagração mundial.
O presidente Lula recebendo o premio de estadista global do World Economic Forum.
O primeiro governante a receber isso.
Mesmo assim ele não foi.
O que significa que deve ter ficado assustado com o mal estar que sentiu.
Felizmente tudo controlado, ele está em São Bernardo descansando esse fim de semana.
Tempo em que ele deveria pensar no que o levou a esse pico de pressão.
Noves fora o cigarro que ele voltou a fumar - e não deveria na idade dele - tem também a ansiedade com a campanha eleitoral.
Ele, segundo me contou um dos seus assessores, acha que só poderá se considerar realmente vitorioso como governante se eleger o sucessor.
Bobagem.
Vários governantes bem avaliados não elegem o seu sucessor por vários motivos.
Veja-se o caso de Michelle Bachelet: o maior índice de popularidade da América Latina - sim, maior do que o de Lula - e mesmo assim sua Concertacion acaba de perder a eleição.
Ninguém acha que a derrota é dela.
Um dos acertos de Bachelet foi exatamente o de ter resistido à tentação de todo governante de usar a máquina para ungir seu sucessor.
Ela foi discreta, deixou o povo chileno decidir, sem interferir. É difícil um governante popular fazer isso, mas foi o que ela fez.
Deveria servir de exemplo.
Que a ansiedade com esta campanha que oficialmente nem começou está fazendo mal ao presidente se viu em Recife.
O corpo avisou para ele ir com calma.
O que fica mais claro neste momento é que as instituições brasileiras não estão protegidas na pré-campanha. É agora que o jogo é injusto.
Dois candidatos têm máquina: Dilma Roussef e José Serra.
E nada os impede de usar o dinheiro público, os eventos públicos, o palco público, o destaque que normalmente a imprensa dá para decisões e atos governamentais para vender suas candidaturas.
Serra está mais discreto, seguindo sua estratégia de só anunciar a candidatura na última hora, mas Dilma escancarou e ontem pediu voto diretamente.
Pediu que a escolhessem como sucessora do Lula.
Ela pode fazer isso assim tão descaradamente?
O problema é que se não há oficialmente campanha, não há oficialmente regras de isonomia.
Aí está a injustiça em relação aos outros candidatos.
Por isso também o presidente deveria conter sua ansiedade e seu impulso de fazer campanha para a sua candidata de forma tão abusiva.
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