De Cidades / JC A crise na ortopedia da rede pública está se agravando.
Pelo menos três médicos traumatologistas pediram demissão do Hospital Otávio de Freitas (HOF), no Sancho, Zona Oeste do Recife, diminuindo a oferta de tratamento para acidentados, já estrangulada.
No Getúlio Vargas, que mais parece um hospital de campanha, com gente fraturada gemendo para todos os lados, a situação crítica fez um dos médicos escrever ao sindicato da classe, pedindo socorro a cidadãos que esperam de 27 a 57 dias por cirurgia no braço e fêmur. “Quantos ainda vão ter que morrer antes de conseguir uma simples cirurgia de ortopedia?
Não posso vê-los nesta situação de penúria, totalmente abandonados, inclusive pela Justiça, quando derrubou liminar que garantia transferências para um leito hospitalar.
Não podemos nos omitir diante de tal aberração”, escreveu.
Na noite de quarta-feira, com as baixas no HOF, dezenas de pacientes deixaram de ser assistidos porque só havia dois médicos de plantão e eles deram prioridade a quem precisava ser operado.
Ontem, parentes de pacientes reclamaram na porta da unidade das condições desumanas que muitos enfrentam, em corredores e no chão, esperando atendimento.
Diretor do hospital há pouco mais de um mês, o cirurgião Antônio Barreto disse desconhecer os motivos que levaram os médicos a pedir demissão.
Só confirmou que três deixaram o cargo na semana passada e que os plantões de domingo foram os mais comprometidos. “A Secretaria Estadual de Saúde está chamando concursados para ocupar as vagas”, informou.
Colegas dos demissionários atribuem o desligamento à insatisfação com as condições de trabalho e às vantagens oferecidas pelo Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes (HMA), onde estaria havendo melhor distribuição das tarefas, além de remuneração superior. “Num plantão de 12 horas no HMA, são oito cirurgias.
No Otávio, depois de operar vários doentes, o médico tem que atender uma multidão que está aguardando há várias horas.
Há doentes espalhados pelos corredores e até quando vamos ao banheiro somos abordados por pessoas cobrando solução”, relata um ortopedista que pretende pedir demissão.
SALÁRIO Médicos também contam que a remuneração no HMA pode chegar a R$ 8 mil por mês.
Lá os profissionais são contratados pela Fundação Martiniano Fernandes - Imip Hospitalar por meio de uma empresa, trabalham em plantões de 12 ou 24 horas e ganham gratificação de deslocamento.
O diretor do HMA, Caio Souza Leão, nega que a remuneração seja esta. “Não estamos inflacionando o mercado”, comenta.
Segundo ele, o Estado também tem pago R$ 700 extra aos médicos para realização de três cirurgias noturnas.
Barreto, diretor do Otávio de Freitas, acredita que o setor público tem compensações, como a estabilidade que não existe numa organização social.
Para ele, o maior problema atualmente é a epidemia de acidentados no trânsito. “É preciso aumentar a fiscalização.
São muitos conduzindo motos em alta velocidade, causando acidentes.” No HOF há 130 doentes da ortopedia, parte ocupando leito de outras clínicas.