Luiz Inácio Lula da Silva não é o primeiro presidente a enfrentar resistências dos militares em questões relacionadas a direitos humanos.

Seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, também teve de lidar com o problema.

A diferença entre os dois talvez esteja na maneira de agir.

Em 1995, no primeiro ano de governo, Fernando Henrique teve o cuidado de se reunir informalmente com seus ministros militares para dizer-lhes que pretendia promover reparações no caso das pessoas mortas, desaparecidas, torturadas ou presas na ditadura.

Como não existia o Ministério da Defesa, a reunião ocorreu na casa do ministro da Marinha, almirante Mauro Pereira.

O presidente contou-lhes sua própria história de perseguido político, explicou que a reparação não era uma questão política e sim de direitos humanos e, por fim, anunciou que criaria uma comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos e iniciaria um processo de reparações.

O episódio está narrado no livro de memórias A Arte da Política: A História que Vivi.

Segundo o relato, a reunião terminou em clima cordial.

Os ministros “não opinaram, já que era decisão tomada por seu chefe, mas receberam-na com naturalidade”.

Apesar da precaução, quando foi anunciado o pagamento de indenizações às famílias das vítimas, houve reações.

O ministro da Marinha, o anfitrião do encontro com o presidente, criticou publicamente a iniciativa.

De O Estado de S.Paulo