Na Veja Quando o presidente Lula retornar a Brasília nesta semana, depois de ter passado o recesso de ano-novo refrescando-se nas águas tranquilas da Praia de Inema, na Bahia, pousará sem paraquedas na primeira encrenca política de 2010.

Os brigadeiros da Força Aérea finalmente encerraram a licitação para escolher qual modelo de caça substituirá a envelhecida frota do país – e fizeram o favor de optar pelo avião que o presidente não quer.

Após meses de exaustivos testes em voo e de criteriosas análises tecnológicas dos caças Rafale, da França, F-18 Super Hornet, dos Estados Unidos, e Gripen, da Suécia, os militares decidiram-se pelo último.

Trata-se de um investimento estratosférico: o governo pretende gastar cerca de 10 bilhões de reais na compra de 36 caças.

São 10 bilhões de motivos para barulho, como ficou evidente na semana passada depois da revelação do relatório técnico da Aeronáutica.

Para os militares, que tiveram o apoio sigiloso da Embraer, os aviões escolhidos constituem o melhor negócio porque são mais baratos, mais eficientes, gastariam menos quando fossem à oficina e, sobretudo, permitiriam a transferência integral de alta tecnologia à Força Aérea e também à Embraer.

O único defeito: são aviões suecos, não franceses.

A divulgação do relatório da Aeronáutica, que ranqueou os caças, deixando o francês em terceiro lugar, exasperou a cúpula do governo.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, estava em Paris, de onde declarou que a compra é uma “decisão política” do presidente. “O barato às vezes sai caro”, acrescentou, recorrendo ao mesmo argumento dos vendedores de lojas de departamentos quando querem empurrar ao cliente uma geladeira de duas portas em vez de uma.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi mais diplomático.

Ele pediu aos militares que refizessem o relatório final para que não contivesse um ranking, mas tão somente análises técnicas, de modo que o presidente não se sinta constrangido se fechar negócio com os franceses – desautorizando, assim, a Aeronáutica.

A origem dessa confusão encontra-se na atitude inconveniente de Lula de anunciar a compra dos caças Rafale, em setembro do ano passado, antes que a Força Aérea tivesse terminado a avaliação técnica dos aviões.

Inconveniente porque, embora a decisão final seja política, trata-se de uma concorrência internacional, com regras comerciais e critérios militares que precisariam ser obedecidos.