Por Sérgio Montenegro Filho, de Política / JC smontenegro@jc.com.br Embora o tema reeleição esteja terminantemente proibido no Palácio do Campo das Princesas, o governador Eduardo Campos (PSB) não descansa um segundo, empenhado em tocar seu governo, mostrar serviço à população e garantir mais quatro anos de mandato.
Em nível nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) age de forma semelhante.
Cada obra inaugurada ou ação realizada pela sua gestão ganha imediatamente a mídia e se transforma num palanque.
A diferença entre os dois é que, enquanto o governador disputará a reeleição, o presidente se empenha em eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), como sua sucessora.
As semelhanças no modo de agir dos dois governantes são tão grandes que, entre os próprios aliados de Eduardo, há quem o classifique como uma “cópia xerox” de Lula, em termos de política e gestão.
Eles esclarecem, no entanto, que a brincadeira tem caráter construtivo. “Com sua maneira de agir e de governar, Lula tem obtido reconhecimento e altos índices de popularidade.
E o governador adotou algumas posturas semelhantes, que têm funcionado no Estado”, explica um deles, em reserva.
Antes mesmo de iniciar seu governo, quando ainda montava a equipe no final de 2006, Eduardo Campos promoveu uma reforma administrativa para adequar sua gestão à de Lula.
Criou novas pastas, moldadas à imagem e semelhança dos ministérios do petista, a exemplo da Secretaria das Cidades – entregue ao aliado Humberto Costa, candidato do PT ao governo derrotado em 2006 – ou do Conselho Estadual de Desenvolvimento Social, coordenado pelo socialista Waldemar Borges, e adaptou outros órgãos para espelhar a gestão presidencial.
Alguns levam a mesma nomenclatura que os do Planalto.
As semelhanças foram se acumulando ao longo dos dois governos, e tornaram-se mais evidentes nesta reta final, com a aproximação do período eleitoral.
No seu primeiro mandato, o presidente ganhou da oposição a fama de “turista”, pela grande quantidade de viagens ao exterior.
Mas neste segundo governo, Lula se voltou para dentro do País, visitando obras e promovendo as ações da sua gestão.
A fórmula foi adaptada por Eduardo no Estado, ao ponto de ele não se contentar mais com pequenas visitas de apenas um dia a uma ou duas cidades.
Foram montadas verdadeiras caravanas pelo interior, percorrendo dezenas de municípios em cada incursão.
A próxima está prevista para este mês.
Nessas viagens, assim como Lula, Eduardo procura dar uma conotação administrativa para tentar driblar o inevitável clima de campanha antecipada.
Mas da mesma forma como faz o petista, sobra sempre para algum aliado presente ao evento a missão de identificar o grande benfeitor daquela obra.
E para ajudar o eleitor a fazer a ligação com 2010, acrescenta que o mandato termina em um ano e que é preciso garantir a continuidade das ações.
A campanha é subliminar, sem citar nomes nem pedir voto abertamente.
Nos últimos meses, o próprio Eduardo Campos chegou a reforçar a tese de “espelho” de Lula.
Mais de uma vez, em discursos ou entrevistas, disparou um “nunca antes na história de Pernambuco”.
Uma alusão ao conhecido jargão adotado por Lula, do “nunca antes na história deste País”.
O mesmo molde também foi adotado para criticar adversários.
Sobretudo antecessores no governo.
Nomes continuam proibidos, mas nem Lula nem Eduardo perdem a oportunidade de destacar o ineditismo de uma obra ou a ação, e ressaltar que ela poderia ter sido realizada antes, se houvesse “disposição” ou “boa vontade” dos seus antecessores.
Ambos, porém, fazem questão de evitar o bate-boca direto com os desafetos.
As respostas mais contundentes são elaboradas e entregues a interlocutores, que se encarregam do ataque.
Outra estratégia estabelecida pelo presidente em nível nacional e adotada pelo governador no Estado é o reforço constante do palanque.
Quando assumiu o primeiro mandato, Lula tratou de ampliar a base aliada, chegando ao segundo governo com um amplo leque de partidos favoráveis à sua gestão.
Eduardo assimilou a lição e tem costurado apoio, sobretudo no interior.
Dezenas de prefeitos migraram para a base de sustentação do governo pouco antes das eleições municipais de 2008, e uma outra fatia veio reforçar essa trincheira após o pleito.
Hoje, nas contas do Palácio, há quase 100 municípios onde a oposição simplesmente não tem mais palanque.
Na trilha da supremacia numérica aberta por Lula no Congresso Nacional, o governo Eduardo garantiu situação semelhante na Assembleia Legislativa.
Arregimentou um contingente de 35 deputados na sua bancada, deixando a oposição reduzida a 14 votos, quantidade insuficiente para aprovação de projetos que exigem maioria absoluta e até para abertura de CPIs.
Líder do governo na Assembleia, o deputado petista Isaltino Nascimento reconhece que há muitas semelhanças, tanto gerenciais como políticas, entre os dois governantes.
No caso específico da bancada, ele diz que não houve cooptação, mas “um processo de diálogo aberto e respeitoso, que se tornou atrativo para deputados que antes faziam oposição”.
Isaltino admite, porém, que a pressão sobre as bases eleitorais pesa no momento de assumir uma posição adversa ao Palácio. “O governo está trabalhando forte no interior e isso reflete na opinião pública local, que é a base eleitoral do deputado.
Eles foram ‘convencidos’ a ficar do lado do governador”, analisa, reconhecendo em Lula estratégia equivalente.
Além disso, o líder classifica o governador e o presidente como políticos “pró-ativos”.
Ambos – diz – acompanham pessoalmente tudo que se passa nas diversas áreas dos seus governos.
E em mais uma iniciativa espelhada nos líderes do governo Lula, vez por outra Isaltino é escalado como porta-voz para rebater ataques da oposição ao governo Eduardo Campos, missão que considera um privilégio. “É uma atitude sábia do governante não se trocar diretamente com opositores.
Evita o bate-boca, dá a dimensão política adequada e se preserva para cumprir a agenda positiva”, conclui.