(Fotos: Alexandro Auler / JC Imagem) Por Ângela Fernanda Belfort, Eduardo Machado, Paulo Sérgio Scarpa e Sérgio Montenegro Filho, do Jornal do Commercio politica@jc.com.br Se depender do governador Eduardo Campos (PSB), 2010 será o “ano da saúde” em Pernambuco.

Assim como elegeu a segurança pública como prioridade para 2009, ele anuncia, agora, carga total nas ações de saúde.

E diz que o impulso já foi dado, na semana passada, com a inauguração do Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes.

Mas Eduardo quer mais.

No primeiro semestre de 2010, promete inaugurar o segundo hospital metropolitano e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) espalhadas pelo Estado, além de reformar e reequipar hospitais já existentes.

Também articula um pacto com os prefeitos para acabar com a transferência desnecessária de pacientes para a capital.

O governador recebeu a equipe do JC em sua “sala de monitoramento”, um bunker montado há três anos, no segundo andar do Palácio do Campo das Princesas, onde ele costuma reunir secretários e diretores para traçar estratégias, discutir e cobrar ações.

Bem equipada, a sala conta com uma grande mesa oval, sistema wireless de internet e três telões LCD, nos quais são exibidos gráficos, fotos e até imagens em tempo real das obras.

Para Eduardo, essa modernidade simboliza a nova cultura política e administrativa que diz ter implantado na sua gestão.

Nesta entrevista, ele faz um balanço dos três anos de governo, se declara otimista com os números obtidos e comemora resultados em setores sensíveis como a segurança pública, educação, geração de empregos e atração de investimentos.

Também reconhece deficiências em outras áreas, explica as dificuldades e promete corrigi-las.

Candidato à reeleição, o governador continua esquivo ao falar sobre campanha eleitoral, assunto que só pretende tratar em junho, “para não atrapalhar a gestão”.

Mas ao longo da conversa, de mais de duas horas, manda vários recados aos adversários e elogia o comportamento de alguns aliados, sobretudo o PT e o PTB.

JC – Foi difícil para os servidores públicos se adaptarem ao seu modo de governar?

EDUARDO CAMPOS – As mudanças que fizemos são de cultura.

Em primeiro momento, geram reação, medo, preconceito.

Mas quando se começa a vivê-las, vira um ciclo virtuoso.

As pessoas se encantam e às vezes ficam mais apaixonadas que nós, que já estamos nele e o vemos como rotina.

Na área da segurança, por exemplo, o pessoal chega para as reuniões, cada delegado, comandante, com seu laptop, seu programa, o estágio em que está a ação.

Se está ruim, explica o problema e resolve, não fica escondendo.

Não tem mais despacho com secretário.

Se reúne todo mundo nessa sala, às claras.

JC – Os números mostram que os dois últimos anos foram os de maiores investimentos em Suape.

Mas tem muita coisa pendente, como o acesso à Ilha de Tatuoca, que não saiu do papel e tem que estar pronto no primeiro semestre de 2010.

A licitação passou quase o ano todo suspensa no Tribunal de Contas (TCE).

Como o governo vai agilizar a estrutura que Suape precisa?

EDUARDO – Só em 2009, Suape recebeu quase o que recebeu em 30 anos de investimentos.

Muitas coisas aconteceram rápido, como as vias de acesso, dragagens da área externa do porto, remodelamento do pier de granéis líquidos, questões de segurança.

Outras, como essa de Tatuoca, são administrativas.

Não temos problemas com recursos, eles já estão garantidos para Tatuoca.

O projeto original foi redesenhado para ser mais barato e ter um acesso rodo-ferroviário, abrigar novos empreendimentos.

Agora, o Tribunal de Contas é que pode dizer quando vai indicar a forma correta de fazer a licitação.

O tribunal tem seus prazos, os nossos, nós cumprimos.

JC – O TCE atrapalha a sua gestão?

EDUARDO – Não.

O TCE e os órgãos de controle têm seu papel.

Nós temos um ritmo e eles, outro.

Sempre que há um impasse, nossos procuradores e técnicos vão lá, dialogar com os conselheiros, com os técnicos responsáveis.

Mas não posso interferir num órgão autônomo.

JC – Com tantos investimentos em Suape, o senhor não teme um desequilíbrio em relação ao resto do Estado?

Como está a interiorização da economia após três anos de gestão?

EDUARDO – Temos que fazer de Suape um instrumento também de desenvolvimento do interior.

O primeiro passo foi alterar a lei de incentivos fiscais no Estado.

Quem investir no interior terá mais incentivos.

Depois, foi a transposição do conhecimento.

Com o governo Lula, através da Univasf, UFPE e UFRPE, levamos câmpus universitários ao interior.

Na semana passada, lançamos um câmpus da UPE em Arcoverde.

E tem as escolas técnicas, com ensino médio integral, cursos de capacitação em parceria com o Sistema S e o Ministério do Trabalho.

Levamos o gás para Caruaru e inovamos.

Quem pegar lá e levar para uma cidade próxima, sem ramal, tem desoneração total de impostos, para que o gás chegue competitivo.

Essas políticas têm favorecido a montagem de fábricas como a da Perdigão em Bom Conselho, em Vitória, Escada, Caruaru, Petrolina.

E ampliamos o abastecimento de água.

Quando tem água, universidades, banda larga, incentivos fiscais, tem crescimento.

E se mede isso pela geração de empregos.

Este ano, houve momentos em que o emprego foi gerado meio a meio, entre interior e capital.

E há obras que animam a economia, como a Transposição do Rio São Francisco no Sertão, empregando quase dez mil pessoas.

Como a adutora do Pajeú, empregando cerca de 500 pessoas.

Como a Ferrovia Transnordestina, que vai gerar até junho cerca de sete mil empregos.

Para a Transnordestina, o mais difícil eram os recursos, e conseguimos.

Não tinha projeto, e fizemos.

Veio o gargalo ambiental, e tiramos a licença.

Houve problemas com as desapropriações, que resolvemos.

Agora, acertamos o fluxo de liberação de recursos, tornando a obra irreversível.

JC – Com relação à segurança pública, a sua meta de redução da taxa de homicídios em 2010 vai ser de quanto?

EDUARDO – A meta continua (12% de redução ao ano).

Chegamos à definição da meta fruto do Pacto pela Vida.

Mudança nesse percentual, só se a Conferência Estadual de Segurança fizer.

No ano em que não batemos a meta, não a mudamos.

Agora que batemos, não vamos mudar. É uma meta ousada, e vamos nos esforçar para batê-la de novo no próximo ano.

Há um processo de mudança na política de segurança.

Tivemos resultados qualitativos e quantitativos.

Colocamos a segurança como questão não só de polícia, mas resultado de um processo histórico, da desarrumação social, da importância na educação, cultura, esporte, mediação de conflitos.

Na face repressiva, percebemos que o primeiro investimento era em pessoas, qualificando as que já tínhamos e buscando mais.

Fizemos uma mudança geracional nas forças da Secretaria de Defesa Social (SDS), para ser um processo sustentável, que desse perspectiva de carreira.

Um soldado que ingressa hoje na PM sabe que daqui a 30 anos pode sair oficial.

Essa nova política de recursos humanos é a troca da força pela inteligência.

Fizemos as maiores operações policiais que o Estado já viu.

Desbaratamos grupos de extermínio sem dar um tiro.

JC – Essa troca de força por inteligência se deu em que momento?

EDUARDO – Quando construímos com a sociedade um plano de segurança e desfizemos os velhos mitos de que iríamos trazer a paz com um modelo de truculência que alguns Estados ainda utilizam.

Isso aconteceu quando escolhemos para o comando da SDS, da PM e da Polícia Civil pessoas que tinham compromisso com a ética, os direitos humanos, sem ambições ou preconceitos políticos.

Tem gestores que serviram a outros governos, mas são profissionais de polícia, servidores públicos.

Essa despolitização foi um ganho importante para o salto de qualidade, que, no final, tem a ajuda de todos.

Os policiais, hoje, estão recebendo reconhecimento moral, em casa, dos vizinhos, dos filhos que ouvem elogios à polícia.

Hoje, a polícia é reconhecidamente mais ativa, está mais nas ruas.

Isso nos estimula a avançar.

Segunda-feira (amanhã) vamos inaugurar mais 150 câmeras e centrais de reconhecimento de imagem na Região Metropolitana, em corredores escolhidos por levantamentos estatísticos.

E vamos poder entregar os novos Ciods e Ciodinhos, com mais 300 motocicletas na Operação Quarteirão. É outro ganho no Pacto pela Vida, o combate aos crimes contra o patrimônio, roubos de celular, pontos de ônibus, saídas de escolas e universidades, cruzamentos.

Monitoramos as áreas e haverá a resposta rápida com as motos.

JC – Estava previsto a construção de três presídios e duas penitenciárias, que ainda não aconteceram.

E o senhor vai desativar a de Itamaracá.

Mas há mais de sete mil presos além da capacidade do Estado.

Por que o Pacto não avançou na questão do sistema prisional?

EDUARDO – Temos penitenciárias completamente defasadas no que diz respeito ao resgate da dignidade, da recuperação das pessoas.

Aquela área de Itamaracá precisa ter um outro olhar.

Essa decisão está tomada.

Temos a maior penitenciária em construção do Brasil, num modelo inovador, em Itaquitinga.

Abrimos muitas vagas em cadeias públicas para presos não-apenados, para reaproximá-los das famílias e das comunidades.

E estamos entregando penitenciárias como a de Abreu e Lima, Buíque, Garanhuns, Lajedo.

Temos a construção de um presídio já pactuada, que é o de Tacaimbó.

JC – A coordenadora das varas de infância do Grande Recife comparou a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Funase) a um campo de concentração.

Não houve construção de novos centros .

Há um plano quinquenal para a Funase.

Por que não avançou?

EDUARDO – Temos muitos avanços na questão da criança e do adolescente.

Pela primeira vez o fundo estadual da criança e do adolescente não é contingenciado no nosso governo.

Ele aumentou enormemente.

Depois, nós não permitimos a disputa de projetos, o direcionamento para projetos específicos.

Passamos a ter aqueles que contribuem discutindo com o conselho, com a sociedade, sobre os programas.

Investimos em recursos humanos.

A Funase era cheia de prestadores de serviços, de vigilantes tomando conta dos meninos.

Hoje há empregos temporários, mas para criar os cargos com projeto de lei e fazer concurso público, coisa que não se faz de um momento para o outro.

E o ambiente jurídico, seja a Justiça ou o Ministério Público, precisa entender que a solução única não é apenas internar as crianças. É preciso outras formas de cuidar.

Pode dar mais trabalho, mas é importante cuidar delas fora dos presídios, em abrigos, com o fortalecimento das organizações sociais.

Muitas vezes isso dá mais resultados que a velha prática de encher presídios.

JC – O que acontece hoje é superlotação, tortura e homicídio…

EDUARDO – Não vou dizer que a situação do sistema de acolhimento ao menor seja boa. É muito dura, mas temos tido atenção, investimentos.

Não toleramos práticas de violência e a promotora sabe disso.

Quem dirige a Funase é um ex-preso político, ex-torturado (Alberto Vinícius), que carrega, como eu, valores de respeito à pessoa humana.

Essa é uma questão que eu não transijo.

Agora, é um processo complexo.

Temos que desenvolver uma série de políticas.

Não só internar.

E tem que convencer a família, a promotoria, os juízes, os cuidadores da própria Funase, que acham isso natural.

Inauguramos uma casa. É pouco, mas estamos fazendo.

Contratamos mais gente e serviços direcionados à adolescência, como os centros da juventude, que trabalham muitos jovens que eram pretensos candidatos a internos.

Eles estão sendo colocados no mercado de trabalho.

Mas há um grande de um problema, no qual a mídia vem ajudando, que é o crack.

Toca principalmente a juventude.

As crianças são aviões dos traficantes, ficam dependentes e aumentam os conflitos na periferia.

JC – O senhor falou, no final de 2008, que 2009 seria o ano de colher frutos na segurança pública.

Em 2010, vai colher frutos da saúde, que o senhor acabou de citar como o principal problema?

EDUARDO – Com certeza.

A saúde já era um grande problema quando eu era candidato.

Nós fizemos um estudo e diagnosticamos que, na pesquisa estadual, ela não aparecia com tanto impacto.

Mas nas conversas com a população, nas pesquisas em profundidade, já era um problema bem próximo de segurança e desemprego.

Há o baixo financiamento da saúde pública, o fechamento de milhares de leitos em clínicas privadas credenciadas.

Muita gente da classe média deixou de pagar planos de saúde.

Ficou tudo em cima do SUS.

Estabeleceu-se uma grande pressão.

E do outro lado aumentou a ação básica de saúde, que começou a conduzir aos hospitais pacientes que não conseguiam respostas, engarrafando o sistema.

Eu acredito em planejamento, e é assim que eu ajo.

JC – Então, agora, a meta é a saúde?

EDUARDO – Nosso primeiro ano de governo foi para chegar e equilibrar as contas do Estado, que vinha há anos com problemas de balanço.

Até 2006, segundo o relatório do Tribunal de Contas, Pernambuco apresentou déficit, que vinha desde o último ano do governo Joaquim Francisco, do governo Arraes e do governo Jarbas/Mendonça.

Não estou querendo acender nenhum debate menor.

Estou fazendo uma constatação.

Terminamos 2006 com as contas equilibradas e tiramos projetos e investimentos estratégicos do papel, como o estaleiro e a refinaria.

No segundo ano, fomos em cima da educação e tivemos uma marca nas ações.

Hoje, ela está bem encaminhada, embora todo dia tenha coisa para cuidar.

No terceiro ano, foi a vez das ações na segurança pública, onde ainda vamos fazer muita coisa.

Agora, é vez da saúde.

Daqui para o fim do primeiro semestre, vamos ter as UPAs funcionando, dois novos hospitais e mais um sendo concluído.

Além de reformas nos hospitais existentes.

JC – O senhor terá três hospitais novos na RMR, e já tem o da Restauração.

No interior, há muitos hospitais com dificuldades.

Como evitar a migração de pacientes para a capital?

EDUARDO – Nós recompletamos, com concursos públicos, os principais plantões de hospitais no interior.

Estamos pactuando com os prefeitos, em cada microrregião, ações intermediárias dos municípios para que nossos hospitais regionais não sofram isso.

A ausência de um Programa de Saúde da Família (PSF) numa cidade faz com que uma pessoa com uma dor de cabeça vá para a porta da emergência de um hospital.

Estruturamos no interior serviços que mais atraíam gente para a capital.

Por exemplo: não tinha hemodiálise em Palmares, e todos os pacientes vinham para o Recife.

Aí, credenciamos uma clínica privada e cerca de trezentas pessoas deixaram de vir nos ônibus e vans.

Salgueiro também não tinha, e botamos.

Não tinha serviço de oncologia em Caruaru, credenciamos e as pessoas não vêm mais para cá.

Agora, é preciso ter esses recursos lá.

Ter clínicas que prestem bons serviços no interior.

JC – E a rede pública?

EDUARDO – Vamos melhorar nossos hospitais.

Alguns, no interior, estão em boas condições.

Outros estão passando por reformas.

O quantitativo de pessoas já foi colocado.

Cuidamos da direção, manutenção e área médica.

Também começamos a chamar os prefeitos para dizer que é preciso ter um PSF na cidade.

Não é simplesmente pegar uma ambulância e mandar o paciente para a capital. É preciso atender primeiro lá.

Muitas vezes, é uma ambulância de um vereador, que pensa que o paciente vai ficar devendo um favor. É um processo de educação, de transformação.

E não se esgota em quatro anos.

Mas estamos encarando o problema e construindo soluções.

Ampliando e reformando hospitais, levando serviços ao interior.

Criando uma rede de atenção no Estado.

JC – Há um ano eleitoral pela frente, e o senhor tem uma série de tarefas para cumprir.

Como vai compatibilizar?

EDUARDO – Se eu tivesse entrado na discussão eleitoral, como muitos queriam, com certeza não teria entregue as ações e obras e o governo não teria o apoio da sociedade.

Porque no Brasil tem eleições a cada dois anos.

Tomei a firme decisão de manter o foco no trabalho.

Não tenho a intenção de cuidar de eleição nem tão cedo.

Eu não estou nem pensando que 2010 é ano eleitoral.

Quando chegar em junho, no prazo para as convenções partidárias, vamos tomar as decisões.

Não tenho porque estar ansioso.

Nunca marquei um prazo para não cumprir.

Mas se andarmos pelo Estado, a discussão não é essa.

Esse micro-clima eleitoral só existe na sede dos partidos e nos jornais.

Em 2010 teremos um grande ano.

Trabalhamos duro em 2009, investimos, geramos empregos no ano da maior crise do capitalismo mundial.

Nunca tivemos tanta fé no futuro.

E não vou parar para discutir um assunto que posso discutir lá na frente, nas convenções.

JC – Falando assim, parece que tudo de bom no Estado vem da sua gestão.

Não é uma visão simplória, e até eleitoreira?

EDUARDO – Nossa gestão é de 2007, 2008, 2009 e 2010.

Não sou dado a simplismos nem eleitoralismos. É claro que não fundamos Pernambuco.

Ele já existia antes mesmo dos portugueses chegarem, quando havia os índios.

Agora, no nosso governo estão acontecendo coisas que poderiam ter acontecido em outros governos e não aconteceram.

Pernambuco teve muitos políticos com força no cenário nacional.

Ministros, vice-presidente.

JC – Mas o estaleiro e a refinaria não estão sendo instalados aqui só por causa de Eduardo Campos.

Já havia entendimentos anteriores…

EDUARDO – No dia 1º de janeiro de 2007, o que tinha lá no terreno no estaleiro?

Só temos estaleiro e refinaria porque o Brasil tem o presidente Lula, que nossos adversários agridem todos os dias.

A refinaria foi decisões da Petrobras, empresa que os nossos adversários queriam vender.

Foi Lula quem tomou a decisão da refinaria, não foi este governo nem o anterior.

O estaleiro idem, para reforçar a indústria naval que foi destroçada pelos governos neoliberais dos adversários de Lula, que pagavam sete bilhões de frete alugando navios na Coréia.

O estaleiro ia para o Espírito Santo, mas Lula interferiu e pediu que os empresários olhassem para Suape.

Quando eles ganharam o contrato, o governo anterior deu uma área que era insuficiente.

E era preciso fazer um conjunto de ações, como acesso, treinamento de pessoal, fornecimento de água e energia, benefícios fiscais.

Eu teria muito gosto de assumir o governo com o estaleiro pronto.

Mas fomos nós que tivemos que fazer tudo isso.

Em 2005, eles botaram uma pedra fundamental e mais nada!

Quem ligou a primeira máquina no terreno da refinaria - está nos jornais - foram os presidentes Lula e Hugo Chávez e eu.

Isso dá dor de cotovelo em muita gente, mas eu não sei o que fazer para curar isso.

JC – Não é por causa do apoio social que o senhor diz receber que, este ano, praticamente não houve oposição no Estado?

Esse governismo exagerado não é pouco saudável para a democracia?

EDUARDO – Respeito a oposição.

Acho que é do jogo democrático.

Mas não vou ficar cuidando da oposição, e sim da base do governo.

Agora, não se pode deixar de perceber que há em Pernambuco uma nova forma de fazer política.

Eu não pautei o dissenso, a briga pequena, o ódio e o ressentimento.

Não fiquei falando mal dos adversários.

Uma das primeiras ações após ganhar as eleições foi tentar construir uma paz política em Pernambuco.

Eu e minha família passamos muita coisa.

Eu e meu avô de 80 anos ouvimos muitas agressões.

E dei a volta, ganhei as eleições e tive maturidade para fazer dessa vitória a construção do futuro, e não um ato de briga.

O povo reconhece nas ruas.

Mesmo quem não vota em mim me respeita por não fazer atos de revide.

Não olhar pelo retrovisor.

Acho que minha atitude tem aproximado muita gente.

Nunca construí cercas, e sim pontes.

JC – Se vier a enfrentar o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) em 2010, vai ser possível manter esse clima?

EDUARDO – Com uma pergunta dessas, estaria me antecipando sobre 2010.

Não vou falar nada (risos).

Mas quem viver, verá.

Esse é meu jeito de ser.

Estou terminando o ano muito feliz com os resultados e otimista com 2010.

Fiquem certos que vocês vão me ver cada vez mais leve.

JC – O PTB, seu aliado, viveu um processo grave há pouco, que culminou na saída do secretário de Turismo, Sílvio Costa Filho.

Qual a sua visão disso?

EDUARDO – Eu já disse que esse assunto para mim está encerrado.

O resultado do nosso governo eu compartilho com a equipe e com os aliados.

Temos um expressivo apoio de todos esses partidos que nos ajudam a governar.

Sou grato a todos, inclusive ao PTB.

Esse modelo de gestão que implantamos teve a ajuda do empresário Jorge Gerdau, e o primeiro encontro com ele teve a participação do deputado Armando Monteiro, presidente do PTB e da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

JC – E a relação com o PT?

O senhor se arrepende de ter nomeado o ex-prefeito João Paulo para a equipe?

EDUARDO – Também já dei esse assunto por encerrado.

O PT é um grande partido, com relevantes serviços prestados ao Brasil e com a maior liderança do País, o presidente Lula.

Tenho grandes amigos, entre eles o prefeito João Paulo, companheiro de longas jornadas, e ainda teremos muito chão pela frente juntos.

JC – Mesmo quando o PT faz greve na área de educação?

EDUARDO – Tem greve até na prefeitura do próprio PT.

Mas são sindicalistas que pensam que aquela é a forma de buscar resultados.

Nós entendemos que é uma forma esgotada. É preciso valorizar o diálogo com o movimento sindical como valorizamos, com transparência nos números, acompanhamento das contas públicas e o Dieese na mesa de negociação.

Isso vai construindo um novo tipo de relação, e eu trato essas questões com naturalidade, com diálogo, mas com firmeza.

Nós garantimos o funcionamento das escolas, tomamos a posição de não negociar dias parados, pela primeira vez no Estado, e espero continuar dialogando. tenho muito respeito pelos professores e pelo que estamos fazendo juntos.

JC – Tem alguns partidos de olho na vaga de vice na sua chapa.

O nome continuará sendo João Lyra Neto?

EDUARDO – Todo mundo sabe da confiança que tenho em João Lyra.

Um companheiro de muitos anos de vida pública honrada, digna, leal, correta.

Nós temos tido dele a militância para o êxito do governo.

Quanto à questão de chapa, só falarei em 2010.

Sobre essa briga aí, de vez em quando leio nos jornais (risos).

JC – É possível fazer um governo de resultados no Brasil sem ferir a ética?

EDUARDO – É sim.

Até porque um governo com um modelo correto de gestão zela pelos recursos públicos, faz render.

O Brasil avançou, com o fortalecimento dos órgãos de controle, da liberdade de imprensa. É preciso continuar avançando com uma reforma política que garanta financiamento público de campanha, para que as pessoas de bem, nos mais diversos partidos, possam continuar na vida pública.

Não é que o financiamento público vá assegurar que o vigarista não cometa erros.

Quem vai garantir isso são os órgãos de fiscalização.

Mas a permanência na atividade política das pessoas que militam na causa por ideal exige uma profunda reforma política.