Por Edilson Silva Enfim o Senado Federal aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul.

Infelizmente, os três senadores pernambucanos, Marco Maciel (DEM), Sergio Guerra (PSDB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB), votaram contra.

Os três, com seus votos, estão de costas para o futuro e ideologicamente vinculados a um passado em que a multipolaridade na política internacional era impraticável.

O que liga o discurso dos três senadores nesta votação é exatamente o argumento que lhes denuncia a incoerência e o oportunismo.

Falam de democracia e acusam o governo de Hugo Chaves de asfixiá-la na Venezuela.

Para eles, democracia se resume a alternância no poder.

Concentração fundiária, monopólio nas comunicações, concentração de renda, dentre outros atentados contra os direitos humanos, fartos no Brasil, antes e depois de Lula, seriam, então, meros detalhes na vida de um país.

Mesmo que o argumento dos senadores fosse verdadeiro, Marco Maciel e seu Democratas não estão entre os mais adequados para lançar-se nesta seara, por motivos óbvios.

Sérgio Guerra e seu PSDB passaram oito anos governando o país de mãos dadas com nacos graúdos da mais recente ditadura brasileira.

Jarbas Vasconcelos, que pela biografia pré-União por Pernambuco poderia ter autoridade sobre o tema, também se aliou com aqueles que lhe perseguiram politicamente durante a ditadura.

Triste coincidência, nenhum deles mostrou sua indignação com o golpe que depôs o presidente Zelaya em Honduras. É bom quando a sociedade externa, mesmo através do Senado, que não interessa ao processo civilizatório a bipolaridade da guerra fria insana do pós II guerra, muito menos a unipolaridade pós-muro de Berlim, encarnada em sua fantasia mais trágica na era Bush Jr.

A quem interessaria isolar a Venezuela?

A quem interessaria isolar o Irã?

A quem interessou isolar Cuba?

A cultura humana é muito superior a isto.

Mesmo que os argumentos utilizados entre os senadores a favor do ingresso da Venezuela no Mercosul não sejam, todos eles, os melhores, o fato é que a aprovação no Senado é uma sinalização política de primeira magnitude: as nações latino-americanas estão num processo de integração de relativa profundidade, numa conjuntura política, econômica e ambiental, no plano internacional, que exigirá dos países, sobretudo os periféricos, a reafirmação de suas soberanias em todos os terrenos.

A América Latina não é, como alardeia os Estados Unidos, uma imensa plantação de coca e maconha, um paraíso do narcotráfico que precisa, supostamente por conta disso, ser invadido com bases militares, via Colômbia, e cercado pelo mar por sua IV Frota Naval.

A América Latina tem sim, a maior reserva de água doce do mundo, a maior reserva biotecnológica e a floresta amazônica, uma das maiores reservas de petróleo do mundo, e um conjunto de riquezas materiais e imateriais, como o seu povo, com capacidade de colocar a relação solidária entre nações como uma prática absolutamente possível, distante da concorrência bélica, predatória e destrutiva das relações humanas e da natureza, que pelo jeito, assim espero, causará saudades em alguns senadores.

Bem vinda ao Mercosul, Pátria Venezuelana!

PS: Edilson é presidente do PSOL-PE e escreve para o Blog semanalmente.