Por Raul Jungmann, de Copenhague Especial para o Blog de Jamildo Esqueça tudo o que você andou lendo nos últimos dias sobre clima, Copenhagen etc. e concentre-se no seguinte: se a temperatura média da terra tiver subido mais de dois graus centigrados até o fim o século, sua vida muito provavelmente vai ter que mudar ou virará um inferno.

Isto porque o nível do mar subirá e, lembre-se, vivemos numa cidade costeira.

Zonas semi-áridas virarão desertos, parte da biodiversidade do planeta desaparecerá, colheitas minguarão e doenças endêmicas se espalharão mundo afora.

Um cardápio de assustar, não?!

A questão é que, para ficarmos abaixo dos dois graus, precisamos baixar nossa média de emissão de gases de efeito estufa dos atuais 61 bilhões de toneladas, giga toneladas ou GT, para algo ao redor de 18 GT, na media do século.

Dito de outra forma, nós temos 389 unidades de CO2 ou equivalente por parte de milhão, PPM, na atmosfera ou ar que respiramos.

Para manter as coisas estáveis até o fim do século, teríamos que estar nove pontos ou PPMs atrás.

E caminhamos velozmente para 450 PPM nos próximos anos, entendeu?

Isso quer dizer duas coisas: uma, já não temos como segurar as mudanças climáticas, ao menos parte delas, que virão.

A outra, é que precisamos fazer um enorme esforço para baixar nossa emissões globais, senão o cenário e de um aumento de temperatura que vai dos 2.5 até cataclísmicos 4.0 graus centigrados….

Esse é o jogo.

O que está sendo jogado aqui e agora é uma queda de braço e uma quebra cabeças entre os países do mundo, com EUA e China à frente.

Quanto à queda de braço, a questão é ver quem pagará a conta das adaptações e mitigações necessárias para mudar nossa base de produção e consumo emissora de CO2.

Certamente, os países ricos, já que os pobres não dispõem de grana para tanto.

O problema é que os ricos, até agora, não aportaram dinheiro a vera, só promessas.

E, volta e meia, dizem que só financiarão os países muito pobres, deixando do fora os em desenvolvimento, BRICS etc.

O que só reforça nestes a resistência a assumir compromissos de corte de emissões.

O quebra de cabeças se relaciona a fixação de metas globais e por país para emissão de CO2, de modo a manter a temperatura dentro da margem dos dois graus centígrados a mais até o fim do século.

Já sabemos que daqui, COP-15, não sairá acordo algum de metas globais vinculantes, que possam ser cobradas posteriormente.

Isso é jogo jogado.

EUA e China se entenderam e bloquearam esse resultado desde antes do apito inicial.

De outra parte, a UE, União Européia, faz o seu joginho de boa moça e joga pesado nos bastidores visando lançar para frente qualquer definição.

E os BRICS, fraturados pela “pas de deux” entre China e EUA, hora se aliam a uns e hora a outros blocos e países.

E o Brasil?

Bom, definimos metas ambiciosas, projetando um corte de 36.1 ate 38.9% de nossas emissões de gases estufa ate 2020.

O problema é que não se sabe exatamente sobre que base, já que os dados são preliminares.

Além do que, técnicos e ONGs desconfiam que nossas projeções estão infladas ou são irrealistas, de modo a tornar o nosso esforço de adaptação mínimo ou de manutenção das atuais ações em curso.