(Foto: Alexandre Severo / JC Imagem) Por Sérgio Montenegro Filho, de Política /JC Quem pensa que o cargo no primeiro escalão estadual toma todas as atenções do petista Humberto Costa, está enganado.
Embora empenhado nos projetos da Secretaria das Cidades – que, de quebra, lhe garantem boa visibilidade política no Estado – ele não tira o olho da corrida eleitoral de 2010, nem descuida do mapeamento de espaços no PT.
Seu grupo, o Construindo um Novo Brasil (CNB), venceu as eleições internas e manteve a hegemonia na legenda.
Mas a queda de braço com a corrente do ex-prefeito João Paulo – o Campo de Esquerda Unificado (CEU) – continua.
Tanto que, nesta entrevista ao JC, Humberto manda vários recados aos rivais.
Avisa que levará à comissão de ética do PT as denúncias “infundadas” das quais diz ter sido vítima durante o Processo de Eleições Diretas (PED) no partido, acusa o CEU de promover a discórdia na sigla, e vai além: embora afirme que o mais importante não é o PT disputar o Senado, mas sim ajudar a consolidar a eleição de Dilma Rousseff para presidente e a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), ele admite que, se for “convocado”, pode sim discutir a hipótese de assumir uma vaga na chapa majoritária governista.
JC – Depois de tantas brigas e com o clima de acirramento predominante entre as correntes, qual a sua perspectiva de futuro para o PT?
HUMBERTO COSTA – É uma perspectiva positiva.
Tivemos uma participação grande no PED, 30 mil pessoas no Estado votaram.
O resultado é inquestionável, até pela margem.
Ganhamos o diretório estadual com mais de 50%, temos maioria sozinhos, ganhamos a eleição para presidente do partido com uma diferença de 4.200 votos.
Politicamente, o PT continua sendo um ator importante no Estado.
Seja por nossa boa administração na Prefeitura do Recife, que é nossa principal vitrine, e também nas outras prefeituras, seja pelo desempenho dos nossos parlamentares, e seja pelo trabalho no governo Eduardo Campos, que o PT tem feito.
JC – Vai haver mesmo briga nas instâncias nacionais e na Justiça, ou há chances de se contornar o confronto no Estado?
HUMBERTO – Nós também recebemos várias denúncias.
A nossa diferença para esse pessoal é que não vamos aos jornais fazer acusações sem provas.
Isso é gravíssimo.
Por exemplo, no episódio em que Fernando Ferro disse que havia uso da máquina, que no dia do PED tinha umas kombis colocando gasolina num posto que tinha convênio com a secretaria (das Cidades).
Esse tipo de convênio há muito tempo não existe.
A gente bota gasolina com um cartão que tem um chip vinculado ao carro.
Não há possibilidade de usar o dinheiro da secretaria para isso.
Vamos levar essas coisas à Comissão de Ética porque entendemos que esse tipo de denúncia termina desgastando a imagem do partido.
Já as denúncias que recebemos contra eles, apresentamos aos diretórios municipal, estadual e nacional.
A diferença é que eles vão à imprensa com acusações sem comprovação, e nós levamos as coisas ao partido e à Justiça.
JC – É possível retomar o diálogo e construir uma unidade para 2010 no partido?
Quem tem que tomar a iniciativa?
HUMBERTO – Acredito que sim, até porque tivemos brigas muito mais pesadas que essas e o partido conseguiu se unir.
Em 1998, por exemplo, na definição de apoio a Miguel Arraes, no Náutico, terminou numa briga que voou cadeira e tudo.
Em 2000, estivemos juntos apoiando a candidatura de João Paulo e ganhamos as eleições.
Eu diria que nosso grupo tem muito mais espírito partidário que outros companheiros do PT, que às vezes, num embate eleitoral, não têm um empenho num candidato que não seja ligado a eles.
JC – Petistas mais antigos, que ajudaram a construir o partido, afirmam que o PT deixou de lado as discussões ideológicas e partiu para a briga por poder.
O senhor concorda com essa tese?
HUMBERTO – É óbvio que há diferentes concepções políticas e ideológicas no PT.
Aqui, o que nos opunha historicamente ao CEU era a política de alianças.
Sempre fomos defensores da Frente Popular, brigamos para apoiar Arraes em mais de um episódio.
Em 1996, renunciei à minha candidatura a prefeito porque o partido impediu que eu fizesse uma coligação mais ampla.
Essas divergências têm como fundo concepções ideológicas, que não deixaram de existir.
Mas reconheço que, hoje em dia, a disputa por espaço político termina se sobrepondo às questões partidárias.
E isso está enfraquecendo o PT.
Imagine se todos estivéssemos unidos, João Paulo, João da Costa, nosso grupo.
Teríamos muito mais poder para exercer influência no Estado.
JC – Como fica a relação entre CNB e CEU no Estado a menos de um ano das eleições?
HUMBERTO – Nós não estamos intrigados de ninguém.
Tentamos fazer política com racionalidade, com a cabeça e não com o fígado, mesmo tendo sido caluniados.
Sabemos que o partido está acima disso.
Vamos tentar o caminho da unidade. Óbvio que é preciso deixar a poeira sentar, mas vamos tentar retomar o diálogo com João Paulo, João da Costa, e pensar o futuro do PT.
JC – O senhor relaciona a decisão de João Paulo de entregar a secretaria com uma tentativa de se desvencilhar do controle do governador Eduardo Campos?
Ou foi mesmo uma disputa política com Fernando Bezerra Coelho?
HUMBERTO – Só posso julgar pelo que João Paulo disse, que saía por razões de ordem pessoal.
E quando alguém usa isso como argumento, não há como se contestar ou julgar.
Eu tive oportunidade de falar com ele dois dias antes, e ele me falou que estava pensando em sair do governo, mas não apresentou a razão.
Apenas ponderei que seria ruim para o PT, mas respeito as razões dele.
Não tenho como avaliar.
JC – O ex-prefeito João Paulo diz que a candidatura dele ao Senado está descartada, porque o CNB advertiu que quem vai escolher o nome é a corrente majoritária no partido.
Afinal, quem decidirá o nome do candidato majoritário?
HUMBERTO – Quem vai decidir, primeiro, é o partido, que está organizado e vai dar uma palavra.
Mas vamos ouvir todos os partidos da Frente Popular, o governador, o PT nacional, o próprio Lula e Dilma.
Não vai ser uma decisão solitária.
Ao contrário, nossa corrente se pauta sempre por não amesquinhar o processo no PT.
Nós apoiamos João Paulo em 1996, em 2000, em 2004.
Abrimos mão de prévias em 2008 e marchamos com João da Costa.
Não seria diferente agora.
Não há isso de que o CNB é quem vai decidir.
Até porque a candidatura é um detalhe.
O importante é o projeto, que envolve a eleição de Dilma e de Eduardo Campos.
Quem vai representar o PT na chapa majoritária não pode ser alguém imposto, tem que ter espaço na sociedade, entre os aliados.
Tem que somar.
JC – João Paulo desistiu de brigar pela indicação argumentando que não tem chances de ser indicado.
E no momento seguinte, propôs seu nome para o Senado.
O senhor está disposto a entrar na disputa?
O que levou seu correligionário a levantar essa proposta?
HUMBERTO – Em nenhum momento me apresentei como candidato a senador, por essas razões que eu falei.
Estou me preparando para ser candidato a deputado federal, estou buscando apoios para isso, construindo isso de forma a não gerar nenhum constrangimento para o governo.
Mas da mesma forma que, em outros momentos, eu não fugi de uma convocação do PT, se mais à frente o partido, o governador, a Frente Popular ou Lula entenderem que meu nome pode contribuir nesse processo, posso discutir a hipótese.
Mas eu nem lancei meu nome como senador nem renunciei a nada.
JC – Há quem afirme que o senhor tem agido como quem pretende disputar uma eleição majoritária, acompanhando o governador pelo Estado, inaugurando obras da sua pasta.
As Academias da Cidade, por exemplo, são obras de grande visibilidade política…
HUMBERTO – Da mesma forma como trabalhei no governo Lula, trabalho no governo Eduardo Campos.
No caso de Lula éramos todos do PT, mas no caso de Eduardo, que é de outro partido, minha dedicação é ainda maior.
A Academia da Cidade, construção de moradias, PAC, CNH Popular, tudo isso é ação do governo e melhora a imagem do governo.
Se indiretamente isso pode me ajudar, pode ser como candidato a deputado.
O fato de eu viajar com o governador, tentar construir ações em todos os lugares não quer dizer que eu esteja almejando uma candidatura majoritária.
JC – Aliados seus afirmam, nos bastidores, que no caso de uma decisão da Justiça em seu favor, o absolvendo no caso da Máfia dos Vampiros, o senhor poderia estar mais próximo de uma majoritária.
Existe essa relação?
HUMBERTO – Eu não estou preocupado com isso.
Até porque, não acredito que em Pernambuco alguém tenha acreditado que aquilo fosse uma coisa séria.
Foi colocado no período eleitoral e, passada a eleição, meus acusadores não continuam a repetir isso.
E judicialmente eu já obtive várias reparações.
Foi o caso do DEM, e agora do PTN, com quem estamos fechando um acordo para eles se retratarem da utilização daquele episódio.
Há outros que estou processando e que com certeza terei um resultado positivo muito breve.
Além do mais não estou preocupado porque em nenhum momento eu me lancei candidato majoritário.
O processo judicial é uma reparação que quero que seja feita diante da sociedade.
Quero provar ao povo que não me envolvi em nenhum ato de corrupção.
JC – Com a perspectiva de lançamento de dois candidatos governistas à Presidência da República, colocando em palanques diferentes o PT e o PSB, como fica a aliança entre petistas e socialistas no Estado? É possível manter um só palanque?
HUMBERTO – Não acredito nem em dois palanques em nível nacional.
Tudo que Eduardo Campos tem dito, além da conversa que tive com Ciro Gomes no Sertão, indicam que essa candidatura dele só vai prosperar se for interessante para o nosso projeto.
Para dar continuidade ao projeto do governo Lula.
Mas se o entendimento é de que ela venha a criar dificuldades, ela não acontecerá.
E se acontecer, será tão negociada que aqui em Pernambuco não vamos estar obrigados a ter uma candidatura do PT a governador.
O PT teve um papel fundamental na eleição de Eduardo Campos no segundo turno, para que ele vencesse com a margem que ele venceu.
E dentro do governo temos contribuído para a gestão dar certo.
Temos nos colocado de uma forma que a nossa lealdade é inquestionável.
O PT, pelo fato de ter grandes lideranças, pode contribuir para um bom resultado em 2010.
Por que razão teríamos uma disputa na esquerda?
Ter duas candidaturas aqui seria algo artificial, não seria uma estratégia ditada pela política.
JC – Caso João Paulo decida ser candidato a deputado federal, existe a possibilidade de o PT formar uma chapinha, podendo repetir o que Miguel Arraes fez em 1990, quando elegeu mais cinco parlamentares?
HUMBERTO – Ninguém descartou a candidatura de João Paulo a um cargo majoritário.
A nossa vitória no PED não elimina ninguém.
Vai fazer com que a discussão aconteça dentro de um contexto político.
Acho que o PT deverá ter espaço na chapa majoritária, até por um reconhecimento da Frente Popular.
E a nossa contribuição para a continuidade do projeto tem que ser ampla e generosa.
O melhor caminho é o PT estar com os outros partidos em uma ou duas grandes chapas proporcionais.
Lógico que não decido pelo partido, mas não vejo nenhum desenho em que o PT tivesse como sair em uma chapinha.
JC – O senhor tem falado muito no nome do prefeito João da Costa, que nem é do seu grupo.
Ele já está firmado como liderança do PT ou o senhor está dando impulso a isso?
HUMBERTO – Vejo João da Costa como uma liderança real.
Um prefeito de uma capital como o Recife de forma alguma é uma liderança secundária.
Depois, seria muito bom para o PT se pudéssemos quebrar essa polarização que a imprensa cristalizou.
Vejo João da Costa como um interlocutor a mais no partido, mas não temos nenhum desejo de cooptação.
Queremos que o PT seja plural, que essa polarização seja esquecida e que surjam novas lideranças.