Por Heitor Scalambrini Costa Professor da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Em toda a discussão atual sobre energia no Brasil, se fala sempre na ameaça dos apagões frente ao crescimento econômico anunciado.

Nem o governo, nem as autoridades do setor energético, nem os responsáveis pela administração do parque elétrico brasileiro, nem os distribuidores falam uma só palavra sobre economia de energia, racionalização do gasto de energia, eficiência, repotenciação, manutenção, modernização.

Só obra nova parece interessar e ser capaz de gerar energia no Brasil.

Cada vez é mais constante ouvir declarações governamentais e de “técnicos” de empresas estatais e privadas demonstrando desprezo pelas energias renováveis e grande dose de ignorância sobre o debate energético contemporâneo.

Diferentemente destas declarações preconceituosas sobre o uso de energias renováveis como solução para o problema energético do Brasil, elas podem sim atender as necessidades e demandas futuras, diversificando e complementando a matriz elétrica brasileira.

Ao estabilizar em torno de 70% de energia hídrica, os outros 30% podem ser perfeitamente complementados por fontes renováveis, especialmente biomassa (bioletricidade), PCH´s (pequenas centrais hidrelétricas), eólica e solar fotovoltaica – que nem foi incluída no PROINFA.

O PROINFA (Programa de Incentivo a Fontes Alternativas de Energia), programa criado para estimular a geração elétrica a partir de fontes renováveis, em sete anos realizou pouco em relação as suas metas originais, relativamente banais, diga-se de passagem, de conseguir gerar 1.100 MW de eletricidade de biomassa, eólica e hídrica com base em PCH´s, totalizando 3.300 MW.

Mas, ao mesmo tempo, é bem sucedida a expansão da geração de eletricidade por termoelétricas a diesel, óleo combustível, carvão, e agora as nucleoelétricas.

Mas apesar das vantagens comparativas das fontes renováveis de energia, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) aprovou a construção da usina nuclear de Angra 3, que terá capacidade para gerar 1.350 MW.

Esta construção demandará investimentos da ordem de R$ 7,2 bilhões em cinco anos e meio.

O investimento em Angra 3 será de US$ 1,800.00 por quilowatt (a referência internacional está em US$ 1,300.00-1,500.00), e o custo de geração está estimado oficialmente de R$ 131,00 a R$ 169,00 por MWh, que ficaria dentro da referência dos leilões de energia nova (inferior a R$ 140,00/MWh).

A construção de Angra 3 - paralisada desde 1986 – já foi reiniciada.

De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o objetivo é que a nova usina entre em operação já a partir de 2013.

Além disso, outros estudos do MME prevêem a construção de mais quatro usinas nucleares no país até 2030.

No panorama do Plano Nacional de Energia - PNE 2030, é previsto a necessidade de novos 4 mil MW para o sistema, sendo 2 mil MW no Nordeste e 2 mil MW no Sudeste.

A Eletronuclear iniciou neste segundo semestre de 2009 os estudos para selecionar o local para a implantação da central nuclear do Nordeste.

Em 2010, será iniciada a escolha da localização da central do Sudeste.

De acordo com a empresa, esses locais devem possibilitar a implantação de até seis usinas em cada um.

Dentro desse cronograma, as duas primeiras usinas nucleares nordestina entrariam em operação, respectivamente, em 2019 e 2021, enquanto as duas primeiras usinas na central do Sudeste iniciariam a operação em 2023 e 2025.

Alimenta-se ainda a ilusão de que o Brasil é auto-suficiente em combustível nuclear, mas a verdade é que, apesar das grandes reservas de minério de urânio, o país importa combustíveis nucleares, pois não tem capacidade industrial para operar todas as etapas do ciclo do urânio em escala suficiente para alimentar nem sequer Angra 1, cujo consumo é a metade do de Angra 2, que é igual ao de Angra 3.

A construção de usinas nucleares é um evidente equívoco, dado que mais de 80% da população brasileira são contra a estas instalações, sendo que a maior parte das ONGs também, mesmo as ligadas ao setor de energia.

Evocamos a história recente de Pernambuco para estranhar o posicionamento do ministro Sérgio Rezende (MCT), ligado a corrente arraesista, em defesa das novas usinas nucleares.

Durante o segundo governo Arraes (1986-90), o governador rechaçou com veemência qualquer possibilidade de instalação de uma usina nuclear em Pernambuco, preocupado exatamente com o risco de contaminação do meio ambiente, tanto pela possibilidade de problema nas turbinas, como a partir dos resíduos radioativos, que requerem uma solução para o armazenamento a longo prazo e investimentos em segurança, além de implicarem no fantasma de um acidente nuclear.

Infelizmente nas decisões acerca da retomada do Programa Nuclear Brasileiro tem predominado a lógica dos grupos de interesse favoráveis.

São pela retomada os militares, fascinados pelo poder que a energia nuclear lhes traz, os industriais alegando preocupação com o risco de um apagão, os cientistas, pelo prestígio e oportunidades novas na pesquisa e no comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios, e parcelas de políticos das regiões mencionadas para abrigar as futuras instalações, seduzidos pela perspectiva de criação de novos empregos e prestigio eleitoral.

O povo, como se vê, não opinou diretamente.

Nem o povo é um grupo de interesses.

Não se fez um referendo, nem nada.

O Congresso não foi consultado.

Nenhum candidato à presidência colocara a questão nuclear em sua plataforma eleitoral.

Infelizmente nada disso é novidade, pois programas nucleares foram sempre implantados em segredo de Estado.

Fica então a pergunta: para quê e para quem mesmo está se impondo a geração nucleoelétrica no país?

A resposta devia acarretar o impedimento dessa insensatez - o que está nas mãos da sociedade organizada, antes que seja tarde.

Não se deixar enganar por falsos argumentos e programas não transparentes.

Representante da Eletronuclear no Recife diz que visão de professor da UFPE contra energia nuclear é amadora e preconceituosa sem fundamentação concreta Para professor da UFPE, o Brasil (Nordeste) não precisa de usinas nucleares