Entrevista Jarbas O Globo 29 Nov2009 View more documents from guestdfc577.
Diferentemente da maior parte dos tucanos e seus aliados, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) diz que o governador José Serra (SP) está certo ao postergar o anúncio da candidatura a presidente da República pelo PSDB, porque evita cair no que chama de armadilha do Planalto para levá-lo a bater boca com o presidente Lula — e não com a candidata do PT, ministra Dilma Rousseff.
Em jantar com Serra, Jarbas teve a confirmação de que ele não só é candidatíssimo à sucessão como está montando palanques regionais.
Em entrevista em seu gabinete, disse que Serra é o mais qualificado para presidir o país, que Lula é responsável por um período de “profunda mediocridade” e que não é simples transferir voto.
Por Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti O GLOBO: A oposição parece perdida diante da alta popularidade do presidente Lula…
JARBAS VASCONCELOS: Concordo.
Esta constatação não é de agora.
Estou completando três anos de mandato e o que encontrei no Senado foi perplexidade, desorganização, ausência total de articulação.
Na única vez que partidos de oposição e dissidentes da base governista se uniram, conseguimos derrubar a CPMF.
Como superar esta desarticulação?
JARBAS: *O país está passando por um período de profunda mediocridade.
O presidente é muito responsável por isso, na proporção que tece loas ao fato de ser quase analfabeto, não ter instrução e ter vindo de baixo.
O nível de debate, não só no Congresso como no Brasil e na intelectualidade, é de uma pobreza franciscana.
As pessoas alcançam formação pelo berço ou pela escola.
Evidentemente, Lula não teve no berço e não teve na escola.
O berço independeu dele.
A escola foi porque não quis.
Formação é importante para qualquer coisa, não só para ser presidente da República.
Ele governa de forma autoritária. É este o problema?
JARBAS: Ele resolve as coisas no Congresso pelo fisiologismo ou jogando o prestígio dele.
O grande mérito do Lula foi, ao assumir, há sete anos, não ter feito loucuras, aventuras com o país.
Manteve a política econômica de Fernando Henrique Cardoso.
Foi importante porque o país tinha medo de Lula, do PT.
Lula imprimiu, a partir daí, a frase “nunca antes na história do Brasil” e grande parte da população acha que foi ele quem acabou com a inflação, controlou contas públicas e colocou o Brasil no rol do primeiro mundo.
O PT e Lula votaram contra o Plano Real, o Proer e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Ele se apropriou das conquistas do governo passado?
JARBAS: Quando diz nunca antes no Brasil, a sensação para o pobre é que foi ele quem criou o real, acabou com a inflação, estabilizou a moeda.
Mas não custaria nada, e não peço nem que faça penitência admitindo que ficou contra tudo isso, admitir que o país estava ajustado.
Apesar dos tropeços do governo, nada parece colar nele…
JARBAS: Só não cola se deixarmos de dizer.
Se uma parcela, mesmo minoritária ou insignificante, diz, esta parcela tende a crescer, aumentar.
O pior é se omitir.
Como na campanha presidencial passada, quando as forças de oposição e o próprio candidato se omitiram de enfrentar e debater o processo de privatização do governo Fernando Henrique.
Na sua opinião, qual a melhor opção para a oposição?
JARBAS: O político brasileiro mais qualificado para presidir o país chama-se José Serra.
Mas ele resiste em assumir a candidatura antes de março.
JARBAS: Concordo com a estratégia de Serra.
Sei que tem levado a uma ansiedade muito grande.
Mas, oficializando a candidatura, vai bater boca com Lula.
Vão querer transferir para Serra uma coisa que a oposição não está fazendo: combater Lula.
Serra não tem que bater boca com Lula.
Tem que bater boca com Dilma , que não está preparada e esconde por trás da arrogância sua falta de conhecimento e de experiência política.
A queda de Serra nas últimas pesquisas não preocupa?
JARBAS**: *Uma pesquisa não pode incomodar uma pessoa que é a mais qualificada para governar o país.
Por que Serra tinha patamares altos?
Não havia outros candidatos.
Na proporção que apareceram Marina Silva, Ciro Gomes e Dilma se consolidaram, é natural que Serra saia de 40% para pouco acima de 30%.
Mas a candidata do PT está crescendo e tem como cabo eleitoral alguém com 80% de popularidade.
JARBAS: A questão é saber se Lula transfere votos e em que proporção.
A primeira, não contesto, transfere.
Mas transferência está cada vez difícil.
O grosso do eleitorado de Lula está no Nordeste, mas Dilma perde para Serra em Pernambuco.
Há um ano, ( Lula) não transferiu o suficiente para que Marta Suplicy ganhasse a prefeitura de São Paulo.
O outro candidato não era nenhum fenômeno, o Kassab (Gilberto, do DEM).
Foi com uma candidata experiente, ex-prefeita e ex-ministra.
Experiência que Dilma nunca teve.
Lula foi para São Paulo, botou a cara, foi para o vídeo, fez carreata, comício e Marta foi derrotada.
Enquanto Serra resiste em assumir a candidatura, o governador Aécio Neves (MG) tenta a vaga de candidato do PSDB.* JARBAS : A notícia que tenho é que não existe problema entre Serra e Aécio.
O senhor acredita numa chapa puro-sangue do PSDB?
JARBAS: Não adianta falar disso agora.
Pode ter chapa puro-sangue , mas lá para frente.
Seria a forma de conquistar o eleitorado mineiro?
JARBAS: Aécio fazendo força é uma coisa.
Aécio dizendo apenas que Serra é candidato, é outra. É preciso analisar que Aécio está deixando o governo e que o vice dele (Antonio Anastasia) não terá eleição fácil pela frente.E como será?
Ele sendo candidato só ao Senado vai ser suficiente para eleger o Anastasia?
Vê a hipótese de Serra recuar e a oposição ficar sem candidato?
Aécio disse que fica à disposição até o fim do ano.
JARBAS: Não.
Ele é candidatíssimo.
Segundo ele, está acertado com Aécio.
Existem atritos de periferia dos dois entornos, mas não entre eles.
Jantei com ele esta semana (segunda-feira).
Está muito tranquilo, seguro.
Quando assumirá isso publicamente?
JARBAS: O que Serra puder protelar, empurrar para frente, ele vai.
Não sei se até o final de janeiro ou fevereiro.
Como enfrentar uma campanha na qual a oposição identificou uso da máquina e que promete ser das mais caras?
JARBAS: Dá para enfrentar e ganhar.
Não estou dizendo que temos superestrutura.
Ao contrário.
A gente tem o principal, o candidato.
O governo tem candidato fraco.
Lula levou o país a um falso ufanismo, fazendo as pessoas acreditarem que ele resolveu tudo.
Na proporção em que o país toma conhecimento de que não foi bem assim, de que Lula não é candidato, não fica tão difícil.
Lula bateu um patamar de 80% e acha que pode tudo.
Mas tudo termina.
A ditadura acabou.
A questão não é só paciência, mas enfrentamento.
Saber como enfrentar.
Não ter candidato definido não dificulta alianças regionais?
JARBAS:Serra está atento a isso.
Pediu para eu ser candidato em Pernambuco, estado estratégico para a oposição.
Disse que não estava no projeto, mas não descarto, porque vejo em primeiro lugar o projeto nacional.
Existe alguma chance de o PMDB não ir com Dilma?
JARBAS: São remotas, mas vejo chance de isso acontecer.
O PMDB tem três blocos: um com Lula, outro, minoritário, com o PSDB, e agora um terceiro defendendo candidatura própria.
Se a coisa pegar fogo em alguns estados, complica a coisa da aliança nas convenções em junho.