Na Veja A um mês da estréia de Lula, o Filho do Brasil, surge um depoimento que contrasta fortemente com o filme de contornos hagiográficos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na sexta-feira passada, o jornal Folha de S.Paulo publicou um artigo que deixou de olhos arregalados todos os que o leram.

Intitulado “Os filhos do Brasil”, o texto é assinado por César Benjamin, um dos mais célebres militantes da esquerda brasileira.

Entrou para o movimento estudantil ainda adolescente.

Por sua militância política, ficou preso por cinco anos e foi expulso do Brasil em 1976.

Quando voltou, empenhou-se na fundação do PT, do qual se desfiliou em 1995.

Em 2006, foi candidato a vice-presidente pelo PSOL.

Hoje, está sem partido.

Cesinha, como é conhecido, relata o que teria sido uma revelação devastadora feita por Lula a ele em 1994.

Na ocasião, o petista iniciava sua segunda campanha a presidente.

Benjamin estava na equipe de marketing do candidato.

Ele relata: “Lula puxou conversa: ‘Você esteve preso, não é, Cesinha?’ ‘Estive.’ ‘Quanto tempo?’ ‘Alguns anos…’, desconversei (raramente falo nesse assunto).

Lula continuou: ‘Eu não aguentaria.

Não vivo sem b…’.

Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos trinta dias em que ficara detido.

Chamava-o de ‘menino do MEP’, em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir.

Ficara surpreso com a resistência do ‘menino’, que frustrara a investida com cotoveladas e socos”.

Segundo Benjamin, o diálogo foi presenciado pelo publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos.

O publicitário, cujos contratos com o governo federal montam a 300 milhões de reais, negou em nota lembrar-se do episódio.

Por liderar greves no ABC paulista, Lula passou 31 dias preso no Dops, em São Paulo, em 1980, com outros sindicalistas.

VEJA ouviu cinco de seus ex-companheiros de cela.

Nenhum deles forneceu qualquer elemento que confirme a história de Benjamin.

Eles se recordam, porém, de que havia na mesma cela um militante do Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP). “Tinha um rapaz com a gente que se dizia do MEP.

Tinha uns 30 anos, era magro, moreno claro.

Eu não o conhecia do movimento sindical”, diz José Cicote, ex-deputado federal. “Quem estava lá e não era muito do nosso grupo era um tal João”, lembra Djalma Bom, ex-vice-prefeito de São Bernardo do Campo. “Eu me lembro do João: além de sindicalista, ele era do MEP mesmo”, conta Expedito Soares, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

O João em questão é João Batista dos Santos, ex-metalúrgico que morou e militou em São Bernardo.

Há cerca de três anos, ganhou uma indenização da Comissão de Anistia e foi viver em Caraguatatuba, no Litoral Norte de São Paulo.

Por meio do amigo Manoel Anísio Gomes, João declarou a VEJA: “Isso tudo é um mar de lama.

Não vou falar com a imprensa.

Quem fez a acusação que a comprove”.

O Palácio do Planalto reagiu com indignação, qualificando o relato de Benjamin de “loucura”.

O chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, disse que o artigo de César Benjamin era ato de um “psicopata”.

Carvalho afirmou também que Lula havia ficado “triste, abatido e sem entender” as razões que levaram o militante histórico a fazer um ataque tão destruidor contra sua honra.