De Cidades / JC A vice-diretora do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), enfermeira Adriana Conrado, divulgou os motivos que a levaram a pedir sindicância na unidade, aberta no último dia 10 pela Universidade de Pernambuco (UPE) e que deve ser concluída na próxima semana.

A lista de supostas irregularidades inclui a não aplicação, em contas do hospital, de receita conseguida com a venda de objetos apreendidos e doados pela Secretaria Estadual da Fazenda e o não cumprimento de um acordo para instalação de 120 novos leitos com R$ 7,7 milhões que vêm sendo repassados em dez parcelas pelo Estado desde março.

Parte da verba pública, denuncia, estava tendo outra finalidade, como pagamento de fornecedores.

Conforme Adriana, que diz ter recebido ameaças em telefonema anônimo por causa da denúncia à UPE, registros da Secretaria da Fazenda dão conta de repasse ao Huoc de 2006 a outubro deste ano de cerca de R$ 2 milhões em objetos e materiais.

Mas os valores não teriam entrando nas contas do hospital. “Sabia que estava havendo doações, mas desconhecia como era o processo.

Desconfiei quando em setembro último, como diretora interina, um funcionário do Oswaldo Cruz recebeu as lâmpadas doadas e vendeu o produto antes mesmo de ele chegar ao hospital”, conta.

Ao levantar junto à Secretaria da Fazenda o quantitativo de lâmpadas e o valor de mercado estimado para elas, Adriana diz ter ficado mais surpresa ainda. É que o montante recebido pelo hospital diz respeito a menos de 10% da receita esperada.

Segundo ela, a Fazenda repassou 10 mil lâmpadas que valiam, cada uma, R$ 1,50, e a doação só rendeu ao Huoc R$ 1.350. “Toda doação deveria ser registrada como patrimônio do hospital”, afirma.

Na lista da Fazenda sobre outras doações feitas ao Oswaldo Cruz, entre 2006 e 2009, constam, por exemplo, 120 itens sem especificação, ao valor de mais de R$ 1 milhão.

Enquanto as obras para instalação de novos leitos atrasam, o Oswaldo Cruz estaria gastando em excesso com materiais médico-hospitalares.

Há produtos com estoque para mais de 250 meses. “Não defendo intervenção no hospital, pois isso fere a autonomia da universidade.

Mas espero que as investigações sejam transparentes”, afirma.

Ela teme que às vésperas de eleição na unidade, questões políticas interfiram na condução do caso.

Também se queixa de retaliações.

O diretor Ricardo Coutinho prefere aguardar o resultado das atuais investigações para se pronunciar. “Não vou falar agora”, afirmou ontem.

Fontes afirmam que ao solicitar investigação da reitoria, no mês passado, Coutinho também relatou fortes indícios de aplicação indevida da verba repassada pela Secretaria Estadual de Saúde para reestruturação do hospital e compra excessiva de produto médico-hospitalar.

O vice-governador e secretário estadual de Saúde, João Lyra Neto, informou, por meio de sua assessoria, que está acompanhando a sindicância.

Ele assegura que irá tomar as providências cabíveis no âmbito da Secretaria de Saúde, supervisora do SUS no Estado, e afirma ser precipitado falar em intervenção.

Compras superfaturadas, aquisição antieconômica, pagamento por produto não recebido e irregularidade no controle de estoques foram também apontados em relatório do Tribunal de Contas do Estado, relativo ao Oswaldo Cruz no exercício de 2007.