Por Ruy José Guerra Barretto de Queiroz Esse é o convite da Google para usar seu produto Google Health, um serviço gratuito, baseado na web, para a administração do “prontuário eletrônico de saúde” do usuário: “Tome conta de suas informações de saúde. É seguro e gratuito. (…) A Google armazena suas informações de forma segura e privada, mas você sempre controla como elas são utilizadas.
Nunca venderemos seus dados.
Você está no controle.
Você escolhe o que você quer compartilhar e o que você quer manter privado.” Além de propiciar ao seu usuário ferramentas para o gerenciamento de todo o seu histórico de saúde, o serviço também conta com um sistema de monitoramento eletrônico que ajuda o usuário a identificar situações de risco tais como incompatibilidade do medicamento recomendado pelo profissional da área médica com outras medicações constantes do histórico, além de condições decorrentes de uma doença crônica. É forte a tendência de crescimento do uso de tecnologia na indústria da saúde.
Os custos da assistência médica continuam a crescer, não somente pelo crescimento da população em número e em longevidade, mas também devido ao fato de que a tecnologia empregada se torna cada vez mais sofisticada.
Embora historicamente a indústria da saúde não tenha estado sempre à frente no que diz respeito ao uso da tecnologia da informação, todos os indicadores apontam para uma mudança dramática nessa tendência, não apenas nos EUA onde os esforços se redobram na busca por um equacionamento dos problemas no sistema de assistência à saúde, mas em todo o mundo.
O fato é que a tecnologia da informação é vista como uma ferramenta de redução de custos assim como de melhoria da qualidade da assistência e da segurança do paciente em todo o ecossistema de assistência médica.
Tal qual em diversos outros setores, o maior foco tem sido no investimento em tecnologia da informação interativa.
As fronteiras entre os agentes integrantes do ecossistema de assistência à saúde, a saber os setores das ciências da vida, os provedores e os pagantes, continuam a se tornar cada vez menos cristalinas à medida em que cada um é forçado a melhorar a qualidade e a segurança do paciente ao mesmo tempo em que reduz custos.
A tendência é uma busca por maior automação da coleta de dados e da integração de informações em todo o ecossistema: surge a figura dos “registros eletrônicos de saúde” (em inglês, “electronic health records”).
Conforme a HIMSS, organização sem fins lucrativos dedicada à promoção do melhor uso da tecnologia da informação e dos sistemas de gerenciamento nos cuidados com a saúde, “o EHR é um registro eletrônico longitudinal de informações de saúde do paciente gerado por um ou mais encontros em qualquer cenário de provimento de cuidados médicos.
Incluídas nessas informações estão demografia do paciente, notas de progresso, problemas, medicações, sinais vitais, história médica passada, imunizações, dados laboratoriais, e relatórios radiológicos.
O EHR automatiza e padroniza o fluxo de trabalho do clínico geral, e tem a capacidade de gerar um registro completo de um encontro clínico do paciente, assim como dar suporte a outras atividades relacionadas aos cuidados médicos direta ou indiretamente via interface—incluindo suporte à decisão baseada em evidência, gerenciamento da qualidade, e produção de relatório de resultados.” O plano de Obama é investir um total de US$20 bilhões de fundos de estímulo em hospitais e consultórios médicos que possam provar até Outubro de 2010 que usam EHR certificado “de forma significativa”.
Os hospitais e consultórios que se qualificarem se habilitam a receber incentivos do Medicare e do Medicaid até 2014, o que especialistas dizem ser de, em média, US$7 milhões por ano por hospital.
Os que não usam EHR até 2015 terão seus recursos do Medicare reduzidos.
Em Julho passado, David Blumenthal, coordenador nacional para a tecnologia da informação na saúde do Department of Health, encarregado de supervisionar o projeto de implantação do EHR em escala nacional, declarou que acreditava que “os EHRs se tornarão parte tão integrante da medicina quanto o estetoscópio.” Considerado crucial para o sucesso da reforma radical e tecnológica no sistema de saúde dos EUA, para os analistas o projeto de implantação de EHRs na escala desejada é um grande desafio, no mínimo devido aos grandes obstáculos enfrentados pelos hospitais e clínicas: equipamentos caros, educação e treinamento dos profissionais de clínica médica, garantia da privacidade do paciente, interoperabilidade entre múltiplas plataformas, aderência a um padrão ainda-a-ser-determinado, e o curto espaço de tempo, dado o planejamento do governo americano no que concerne ao prazo para realização da reforma pretendida.
A bem da verdade, o uso de tecnologia da informação no gerenciamento de prontuários médicos nos EUA não é novidade.
Segundo a Wikipedia, em 2005, 25% dos clínicos gerais se diziam utilizando sistemas de registros medicos eletrônicos (em inglês, “electronic medical records”, abrev. “EMR”), um crescimento de quase um terço em relação aos 18,2% reportados em 2001.
O EMR, segundo a National Alliance for Health Information Technology, é “o registro eletrônico de informações de saúde de um indivíduo que é criado, reunido, gerenciado, e consultado por clínicos e staff licenciados de uma única organização que estão envolvidos nos cuidados médicos ao indivíduo.” Em suma, o EHR é o EMR com interoperabilidade.
Seguindo a tendência das chamadas tecnologias sociais – uma tendência social na qual as pessoas usam tecnologias para obter as coisas das quais necessitam umas das outras, ao invés de apelar para instituições tradicionais como corporações, surge o EHR de controle pessoal, denominado de “personal health record” (PHR).
Segundo o portal myPHR.com, “o PHR é uma ferramenta que você pode usar para coletar, rastrear e compartilhar informações atuais e passadas sobre sua saúde ou a saúde de alguém a quem você quer bem.” Um PHR é normalmente um arquivo ou registro eletrônico de informações de saúde e serviços recentes referentes a um indivíduo, tais como as condições médicas, alergias, medicações, e visitas ao médico ou ao hospital, que podem ser armazenadas em um único lugar, e depois compartilhadas com outros, à escolha do próprio indivíduo. É ele quem decide como as informações em seu PHR são usadas e quem tem acesso a elas.
O portal myPHR.com revela que no momento existem 23 sistemas de PHR gratuitos pela internet, entre os quais está o Google Health.
Em depoimento como usuária e admiradora do Google Health, uma médica ginecologista chama à atenção para a transferência de poder sobre os registros médicos que o sistema propicia ao indivíduo.
Segundo ela, passa a haver um maior engajamento, assim como uma maior responsabilidade com o gerenciamento da própria saúde.
Não obstante a atribuição do controle total do gerenciamento de seus dados de saúde ao indivíduo, pairam, no entanto, questões sobre a propriedade das informações, sobretudo aquelas produzidas por profissionais de saúde (diagnósticos, pareceres, prescrições, etc.).
PS: Ruy é professor associado do Centro de Informática da UFPE e escreve para o Blog semanalmente.