Por Raul Jungmann Em dezembro de 2008, estive no Paraguai em missão oficial da Câmara.
Lá, entrevistamo-nos com os chefes dos três poderes, inclusive o presidente Fernando Lugo, líderes do governo e da oposição, jornalistas, diplomatas e intelectuais.
Ao término desse giro, saí de lá com a convicção que aquele país caminhava para uma grave crise (*).
Não era para menos: o presidente do Senado fizera críticas tão extremadas ao presidente Lugo, que ficamos desconcertados e constrangidos.
O presidente da Suprema Corte de Justiça fora no mesmo diapasão, conseguindo ir além do anterior em suas críticas.
O governo, claramente, não disponha de maioria no Congresso, em especial na Câmara Alta.
Um dos nossos, que estivera com o opositor e ex-presidente Lino Oviedo, dele ouvira, com todas as letras, que derrubaria o chefe do Executivo, mais cedo ou mais tarde.
E, de quebra, no dia em que regressávamos ao Brasil, o Presidente Lugo afirmara que o cargo de vice-presidente, ocupado pelo líder do maior partido da sua base de apoio, deveria ser extinto…
Enquanto isso, a sociedade paraguaia inquietava-se e as tensões se multiplicavam.
Afinal, Lugo assumira apresentando uma agenda de ruptura com os 61 anos de poder do Partido Colorado, marcados pela corrupção, desigualdades imensas, autoritarismo e um estado carcomido e incapaz de estruturar políticas públicas.
Sua agenda era, e não poderia deixar de ser, de amplas e urgentes reformas.
Porém, passados mais de cinco meses da sua posse, nada acontecera ou mesmo fora iniciado, em termos de transformações e mudanças estruturais.
De lá para cá, vieram as sucessivas paternidades, arrasadoras para o seu prestígio, quatro mudanças na cúpula das forças armadas, o seqüestro político de um líder empresarial pelo Exército Popular do Paraguai, o crescimento da maioria oposicionista no Congresso e a tramitação de um voto de desconfiança na Câmara, que lhe poderá ser fatal.
De permeio, segue paralisada a agenda das reformas e, em decorrência disso, crescem as tensões e conflitos, enquanto a popularidade do presidente despenca.
Quando estive com o Presidente Lugo, perguntei-lhe se pretendia convocar uma assembléia constituinte para institucionalizar o resultado das urnas e, subsequentemente, reformar o Estado para que tivesse condições de implantar a sua agenda de reformas.
Já então, parecia-me evidente o abismo existente entre a sua vitória, o que ela representava e o seu programa, as condições políticas e as instituições com as quais teria de lidar.
Além, é claro, das enormes e reprimidas expectativas que sua eleição desatara.
Respondeu-me que, por hora, não tinha tais planos.
Um ano após nos despedirmos, vejo, com desalento, que a minha previsão de uma grave crise institucional já é uma realidade no Paraguai.
Todos os esforços diplomáticos e políticos devem ser feitos para que tal fato não aconteça.
Mas, infelizmente, talvez tudo agora se resuma a uma questão de tempo para o seu desfecho. (*) para ver a íntegra de texto sobre a viagem, postado em meu blog, acesse www.rauljungmann.com.br/diário de viagem.