(Foto: José Cruz/ABr) Da Folha de S.Paulo Na semana em que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, deu um ultimato para que o PSDB defina até dezembro seu candidato à sucessão de Lula, o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra, diz que “um em cada três brasileiros já decidiu votar em [José] Serra”. “O próprio Lula quer estabelecer logo esse confronto.” O trunfo de Aécio seria, segundo Guerra, ter maior “capacidade de aglutinação” e a preferência de “setores que hoje não estão na aliança” tucana.
Apesar de dizer que “os dois vão se entender”, Guerra admite que também tem pressa: “O nosso tempo é urgente”.
Leia trechos da entrevista à Folha.
Folha - Há duas semanas o PSDB enfrenta desgaste, bombardeado por aliados. É uma candidatura que já começa em crise?
Sérgio Guerra - Crise e racha são muito utilizados para se falar sobre o PSDB.
Enfrentamos dificuldades, situações que se repetem em diversos partidos.
Muitas vezes, nós mesmos damos consistência à tendência de crise.
Não estamos no governo, somos um partido sem dono.
Mas esse partido que vive em crise é fantasia.
Folha - O governador Aécio Neves não deu ultimato ao partido?
Guerra - O presidente do DEM [Rodrigo Maia] disse que o PSDB deveria abreviar a escolha.
Todos os militantes de PSDB, DEM, PPS e os que temos no PMDB assistem à exposição diária da candidatura do governo com dinheiro público, então é natural que a nossa gente queira o time escalado logo.
O que o Rodrigo falou deve ser entendido como opinião.
Folha - Deixar a decisão para o ano que vem, como quer o governador José Serra, não é tarde?
Guerra - O Serra é considerado pelo governo seu principal adversário.
Isso é explicável pelos índices da opinião pública e de intenção de voto.
Ele governa um Estado como São Paulo, é um líder.
Um em cada três brasileiros já decidiu votar nele para presidente, deseja votar nele.
O próprio Lula provoca ele para o debate porque quer estabelecer logo esse confronto.
Folha - Nesse cenário, qual é, então, o trunfo de Aécio?
Guerra - É o Aécio ter 90% de aprovação em Minas, capacidade de mobilização e de aglutinação.
Na verdade, setores que hoje não estão na nossa aliança não escondem preferência por ele.
Onde vai é bem recebido.
Folha - Qual é o prazo real para resolver essa situação?
Guerra - O PSDB está armando a equação nos Estados, avaliando a amplitude do apoio fora da coligação já formada com DEM e PPS.
O partido tem pressa em ter clareza sobre isso.
Eles [Serra e Aécio] têm de se entender em cima de dados objetivos e posições seguras.
O nosso tempo é urgente.
Folha - E a tese das prévias?
Guerra - Eles vão se entender.
Folha - O PT vai comparar as gestões Lula e FHC.
Como o PSDB responderá?
Guerra - O candidato não é Lula nem será FHC.
O drama deles é a distância entre quem é a Dilma e quem é o Lula.
Folha - Mas não é vantagem o governo já ter uma pré-candidata?
Guerra - Até agora essa candidata não se consolidou, dado o grau de aparição que ela tem.
Ela vai ter que enfrentar o próprio anonimato, não tem experiência administrativa nem eleitoral.
O PAC não tem pernas firmes, logo ela não pode ser apresentada como excelente administradora. É autoritária e, apesar de achá-la honesta, ela e a democracia não combinam.
O que sustentará o governo será o Bolsa Família.
Folha - Mas e o PAC e o Minha Casa, Minha Vida?
Guerra - O que há são variações do Bolsa Família.
O projeto era deixar a Dilma fora dos programas sociais, como administradora capaz de resolver problemas de infraestrutura e gastos públicos.
Só que a ministra fica batendo na mesa e as obras têm problemas no TCU.
Folha - O PSDB tem um projeto melhor para mostrar?
Guerra - Nós sabemos governar.
Quem duvida basta olhar nossos governos.
Vamos manter os programas sociais, mas nos fixar num programa de desenvolvimento econômico e geração de empregos.
A saúde está arrasada, apagão na educação, a Petrobras aparelhada, e não podemos concordar que empresas como a Vale virem agências de aparelhamento.
Folha - E o pré-sal?
Guerra - Queriam que fizéssemos oposição ao pré-sal e não fizemos.
Vamos é cuidar dele.
Folha - Preocupa o acordo entre o PT e o PMDB?
Guerra - Esse esforço com o PMDB e outros abraços são para tentar confirmar a Dilma e evitar a candidatura de Ciro Gomes.
Eles não têm como inventar outro candidato e não querem o Ciro.
Nessa política de fazer aliança até com Judas, depois vão ter de explicar que continua o mensalão.
Folha - Mas o PMDB tem o maior número de prefeituras e governos estaduais e maioria no Congresso.
Guerra - Alianças reais só se dão quando são confirmadas nos Estados.
Se o objetivo era capturar o tempo de TV do PMDB, é possível que estejam um passo à frente.
Mas o PMDB não vai com o PT em SP, PE, BA, RS.
Dos lugares com peso eleitoral, só estarão juntos no Rio, e com perturbação.
Folha - O senhor citou RJ e RS.
O que o PSDB pretende fazer?
Guerra - Sobre o Rio, vamos conversar na próxima semana.
No Sul, a Yeda [Crusius] está em processo de recuperação, venceu a questão jurídica e isso começa a ser reconhecido.
Mas ela fará no RS a melhor política para nossa vitória no Brasil.